LANNY GORDIN, O GÊNIO DA GUITARRA ( 1951-2023)

“Guitarrista com um talento acima de qualquer dúvida, Lanny – diminutivo de Alexander – deixou sua marca em obras históricas” diz Paulo Moreira

A biografia de Lanny Gordin, gênio da guitarra que nasceu em Xangai e ainda criança imigrou para o Brasil, ilustra uma história particular da música brasileira.

Guitarrista com um talento acima de qualquer dúvida, Lanny — diminutivo de Alexander — deixou sua marca em obras históricas.

Foi parceiro da criatividade exuberante de Hermeto Paschoal no inicio da carreira. Fez solos musicais para Gal Costa em álbuns inesquecíveis, como “LeGal,” de 1970, e “Fatal — A todo Vapor,” de 1971. Também participou de “Carlos, Erasmo,” trabalho considerado um marco da guitarra no Brasil pelo crítico André Barcinski.

Seu talento também pode ser ouvido em Expresso 2222, de Gilberto Gil, e no Álbum Branco, de Caetano, sem falar no balanço que acompanha a voz de Tim Maia em “Chocolate,” que também ajudou a compor.

Quando Rita Lee rompeu com os Mutantes, convocou o talento de Lanny para gravar “Tutti Frutti” e depois disso ficou difícil sentir muita saudade da primeira fase da carreira de nossa rainha do rock.

Filho de um empresário que criou um dos mais charmosos restaurantes do centro de São Paulo, Le Casserole, no Largo do Arouche, nos primeiros anos de vida Lanny exibiu traços de esquizofrenia, doença que produz transtornos psiquiátricos conhecidos, muitas vezes incuráveis. Num comportamento que agravou um quadro já grave, na adolescência chegou a ingerir doses cavalares do alucinógeno LSD, o que criou dificuldades ainda maiores de comunicação.

Cheguei a conhecer Lanny Gordin quando éramos adolescentes. Também conversei com seu pai sobre sua doença, sem ouvir nada além daquilo que é possível saber sobre tantos mistérios que a medicina ainda não resolveu.

Minhas tentativas de conversar com o próprio Lanny envolveram experiências delicadas, com perguntas que ficavam sem resposta e olhares que pareciam saltar da órbita. Tudo vinha acompanhado de um sorriso permanente, abstrato, cujo sentido era impossível decifrar.

Este universo Lanny Gordin levou consigo. Mas seu talento está aí, visível para todos, inclusive depois de sua morte. Esta é sua vitória.

Alguma dúvida?

PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

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