O DICIONÁRIO ECONÔMICO DE PAULO GUEDES

CHARGE DE MILLER

Criaturas do pântano, uma baleia arpoada e o passageiro de um avião sem combustível habitam o imaginário dos membros da equipe econômica. Desde janeiro, quando assumiu o posto, o ministro Paulo Guedes (Economia) recheou seus inúmeros discursos e reuniões com frases metafóricas repetidas exaustivamente.

Quem acompanhou as falas do ministro desde o início do governo já é capaz de adivinhar ao menos parte das citações que serão feitas durante os pronunciamentos. Entre jornalistas que acompanham o dia a dia da pasta, há até uma espécie de jogo para tentar prever as frases que serão usadas. O índice de acerto costuma ser alto.

Pouco afeito a entrevistas, Guedes aceitou conversar com a imprensa poucas vezes durante seu primeiro ano de gestão à frente do superministério. Na mais recente entrevista, quando um balanço sobre o ano, fez uma introdução de uma hora e oito minutos até ser convencido a abrir o microfone para perguntas.

Guedes é participante frequente de seminários e aberturas de eventos, onde fala livremente em apresentações que costumam durar também pelo menos uma hora.

Nessas e em outras ocasiões, um dos exemplos mais usados ao descrever o desempenho da economia brasileira se refere a uma baleia que agoniza no mar.

“O Brasil é uma baleia ferida que foi arpoada várias vezes, foi sangrando e parou de se mover. Precisamos retirar os arpões”, afirmou em junho durante uma audiência pública na Câmara.

A frase foi repetida em outras apresentações, mas acabou mudando de tom com o encerramento do ano.

Após a divulgação de indicadores positivos de atividade econômica e do emprego, Guedes passou a afirmar que, agora, a baleia começa a se mover. Ele se diverte ao dizer que só não é tão otimista quanto um apoiador que fez uma charge com uma baleia que já começa a voar.

Em outra fala recorrente, o ministro faz referência a pessoas que, ao longo dos anos, tomaram posse do Estado, se beneficiaram com recursos públicos, incentivos tributários ou distorções em fundos públicos.

“Piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo brasileiro.”

Ao defender a reforma da Previdência, agora aprovada pelo Congresso, o ministro ilustrava o esgotamento do sistema de aposentadorias do país com outro exemplo figurativo.

“Seu filho entra no mesmo voo condenado, indo para alto-mar sem combustível. O seu paraquedas você segura, e ele vai para o inferno. É isso o que essa geração quer fazer?”, dizia. “Nossos filhos e netos, por falta de coragem nossa, estão condenados a continuar nesse mesmo avião, que vai cair por falta de combustível.”

Ainda sobre a Previdência, dizia que o sistema tinha “bombas-relógio”, como a demografia, já que o número de idosos no país é cada vez maior e eles precisam ser bancados pelos jovens em idade ativa, que não acompanham esse crescimento na mesma proporção.

Os encargos trabalhistas, em sua opinião, são “armas de destruição em massa de empregos”.

Em reuniões fechadas, Guedes também não poupa os participantes de suas longas análises. Gosta de fazer a própria equipe de plateia.

Entre os auxiliares do ministro, há quem relate a tensão ao pensar em perder o voo quando as falas do chefe se prolongam ao fim das reuniões. As divagações variam sobre temas que vão da civilização maia à perestroika russa.

Com grande bagagem de história econômica, Guedes gosta de narrar acontecimentos marcantes de outros países e fazer relação com o Brasil.

“São R$ 400 bilhões de juros [da dívida] por ano. O Brasil reconstrói uma Europa por ano. É um Plano Marshall por ano”, afirma, em referência ao plano do governo dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial para reerguer países aliados.

Além das metáforas e das frases de efeito, o ano do ministro na condução da economia teve gafe e discussão.

Em abril, durante um debate sobre a reforma da Previdência, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que o ministro é “tigrão” com uns e “tchutchuca” com outros, sugerindo que Guedes privilegia banqueiros e rentistas.

“Tchutchuca é a mãe, tchutchuca é a avó!”, respondeu o ministro.

Em setembro, ele defendeu comentário ofensivo do presidente Jair Bolsonaro à primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

“O Macron falou que estão colocando fogo na Amazônia. O presidente [Bolsonaro] devolveu, falou que a mulher do Macron é feia. O presidente falou a verdade, ela é feia mesmo”, disse durante o evento. Depois, o ministério emitiu uma nota de desculpas pela ofensa.

Bernardo Caram e Fábio Pupo/FolhaPress / Jornal do Brasil ( BRASIL)

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