A escalação do timeco do capitão, que abusou das jogadas desleais pela extrema direita, mostrava um combinado mambembe, inexperiente. Uma equipe heterogênea, destreinada e sem tática, que mesclava pernas de pau conhecidos, açougueiros frios, peladeiros anônimos, muitos cabeças de bagre e uma torcida histriônica, que ocupou apenas 39% da capacidade do estádio, mas dentro das regras do jogo.
Entre os titulares convocados, dois foram anunciados como galácticos, encarregados de criar e marcar tentos na campanha em busca do bicampeonato, a reeleição do cartola. Um dos relacionados era juiz na temporada anterior. Juiz que rouba para um lado em busca de recompensa. Caçou e expulsou ilegalmente o principal goleador do time adversário, garantiu a vitória no tapetão, trocou de uniforme no vestiário e passou a atuar como titular no meio-campo do Ministério da Justiça. Sujou a toga como trampolim político, mas não demonstrou habilidades sem a autoridade do apito e o poder monocrático sobre a súmula.
O cronômetro correu rápido. As promessas de renovar o contrato em posição de maior destaque – centroavante na arena nobre do Judiciário – não foram cumpridas. Os lances capitais decididos pelo ex-Juiz, revisados pelo VAR do STF só depois do apito final, foram anulados por ilegalidades. Mas o jogo já estava jogado, o triunfo ilegítimo consagrado e a taça entregue ao capitão da várzea. Sérgio Moro é quem mais xinga seu antigo time e cospe contra seu ex-técnico Bolsonaro.
Depois de barrado, Moro foi jogar uma temporada fora, nos Estados Unidos, em equipes sombreadas pelo alambrado da suspeita. Voltou ao Brasil sem contrato, com salário de político que ele renegava, e passou a treinar nos gramados nacionais com uma cobertura do noticiário desequilibrada e parcial, exatamente como ele. Até a “garage sale” dele foi destaque. O fôlego, até aqui, é curto já que a geral anda virando as costas em protesto contra o atleta infrator e desleal. Demonstra ser venal e vingativo, mesmo sem o coro da torcida no revanchismo. Hoje só faz cera e cena.
Moro recebeu o vermelho ainda no primeiro tempo, depois de levar muitas bolas nas costas do próprio capitão e cartões amarelos dos demais Poderes. Mais de 50 de suas marcações erradas foram reformadas. O gol de ouro veio do Supremo Tribunal Federal, na segunda quinzena de abril de 2021. O Plenário validou por 8 votos a 3 a incompetência de Sérgio Moro, depois do gol contra e o suor de Edson Fachin tentando evitar a declaração da parcialidade do ex-juiz.
O Pleno do STF entendeu como legal a posição da Segunda Turma, do final de março de 2021, onde Moro foi carimbado de faccioso na condenação do ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá. Ainda no campo do Judiciário foi barrada a prisão após a condenação em 2 instância e invalidado o acordo pelo qual a Lava Jato administraria a renda de R$ 2,5 bi da Petrobrás. A condenação do ex-presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, foi revista por erro da arbitragem e beneficiou outras 32 sentenças. A Segunda Turma do STF também afastou delação de Antônio Palocci, divulgada às vésperas da eleição presidencial, e o STJ anulou 12 súmulas condenatórias de Moro na Lava Jato, entre elas a do próprio Antônio Palocci.
Na arena do Executivo, Sérgio Moro foi recompensado com o verdejante gramado da Justiça depois de expulsar, sem motivo, o candidato favorito em 2018. Mas Moro e sua equipe da Lava Jato pediram alto demais e levaram um chapéu. Na primeira bola dividida, Moro perdeu o COAF e, minutos depois, posições chave na Polícia Federal com mexidas nas superintendências, iniciadas no Rio de Janeiro. O controle de bola da Federal foi o motivo do expurgo definitivo do governo.
No estratégico cargo de Procurador-Geral da República, Moro queria um “bola murcha” da sua “equipe no MP”. Mas nem foi ouvido na escalação de Augusto Aras, negociado fora da lista tríplice. Ao contrário, o CNMP jogou limpo e puniu as jogadas violentas de Deltan Dallagnol por 2 vezes. Deltan também foi condenado a indenizar em R$ 40 mil uma das vítimas de suas atuações desonestas. A Lava Jato de São Paulo se dissolveu e o mascote Dallagnol saiu do comando da operação em setembro de 2020 com o rabo entre as pernas. Agora quer atuar no salão verde da Câmara dos Deputados, mesmo cercado de suspeições e de ser ficha suja.
No Congresso Nacional as derrotas se acumularam. Por lá, Sérgio Moro fazia preleções frequentes com o escrete autointitulado “Muda Senado”. Através dele, Moro tentou enquadrar o funcionamento do STF em uma PEC e, por 3 vezes, fracassou na tentativa de instalação da CPI da toga para amarelar ministros do Supremo. Essa turma sequiosa de poder também não emplacou 2 nomes ligados a Dallagnol para o CNMP. A Lei de Abuso de Autoridade e o juiz de garantias prosperaram, inclusive com a derrubada de 18 vetos presidenciais quanto aos abusos dos juízes. Moro e a Lava Jato chutaram sistematicamente as duas propostas. A motivação, hoje se sabe, era o temor de contusões mais graves pela revelação dos lances sujos. A aberração que Sérgio Moro batizou de “pacote anticrime” foi desfalcada na Câmara dos Deputados, onde jogadas fascistas foram eliminadas, entre elas o excludente de ilicitude, a chamada licença para matar.
As goleadas políticas e jurídicas foram inclementes a partir da transmissão dos diálogos da Vaza Jato. Os atletas do espetáculo antidemocrático simulam, caem no chão, especulam adulterações, alegam desmemoria e não assumem os conteúdos revelados. O ex-Juiz Sérgio Moro atuou como parte e à margem das regras do jogo para obter benefícios pessoais.
Na concentração das ilegalidades já confessou várias. Ele vazou intencionalmente, em nome do “interesse público”, uma gravação duplamente ilegal de uma conversa entre a então presidente Dilma Rousseff e Lula, que resultou no veto à posse do ex-presidente no comando da Casa Civil. O áudio foi captado além do horário autorizado e era estranho ao foro de Moro. A conspiração foi determinante para o impedimento de Dilma Rousseff. Moro também grampeou criminosamente advogados e, em férias, atuou para abortar a liberdade do ex-presidente Lula. Foram essas razões jurídicas, além de outras, pelas quais ele foi declarado parcial.
Além do marreco trôpego, o outro reforço do time da várzea foi anunciado com as características de atacante criativo, exímio driblador e com profundo domínio das canchas econômicas. Depois de muitas caneladas, descobriu-se que era um pato manco e o único espaço verde dominado por ele era dos dólares americanos, devidamente protegidos do apetite do leão do imposto de renda em paraísos fiscais.
É melhor arrecadando na bilheteria do que atuando dentro das quatro linhas. A galera das sociais, até mesmo a recatada torcida dos camarotes vips no mercado financeiro, agora canta a plenos pulmões “pau no Guedes”. De cintura dura, tecnicamente limitado e sem criatividade, fez muitas fintas sem objetividade ou resultados concretos. Fomeou, prendeu a bola, não repartiu o bicho até perder a grande área econômica para a organizada do centrão, que invadiu o gramado governista e tomou tudo no grito, transformando Guedes em reles gandula.
Paulo Guedes virou cronista míope de um jogo virtual. Nunca alguém viu o golaço do “crescimento em V”, assim como ninguém entendeu o PIB privado ou enxergou qualidade da recessão. O teto da sede que ele treina explodiu e jogar para torcida, desprezando as finanças precárias e dívidas do clube que dirige, passou a ser o novo esquema tático, desordenado e com os poucos resultados comprados pelo homem da mala no Congresso Nacional.
Guedes foi flagrado em offside com uma offshore e um prêmio off the record de US$ 9,5 milhões. Toda vez que o dólar sobe ele sobe na classificação da prosperidade. As luvas depositadas em paraísos fiscais, mais do que escapar da tributação, são sempre suspeitas e configuram um visível conflito de interesses, devidamente ignorado pelo fiscal da Lei Augusto Aras, dono do VAR. A flagrante posição de impedimento nas Ilhas Virgens não o constrange. Reclama, faz catimba, sai de fininho dizendo que não fez nada irregular e que a banheira dele é regular.
Após a contratação de Guedes a economia brasileira desabou na retranca da recessão. O Produto Interno Bruto caiu 0,1% no terceiro trimestre após o tombo de 0,4% nos três meses anteriores. Com isso, o país entrou num cenário de recessão técnica — quando há dois trimestres consecutivos de PIB negativo. O dado do segundo trimestre era de queda de 0,1%, mas foi revisado pelo IBGE. O resultado do PIB brasileiro foi um dos piores do mundo, nos jogou na lanterna da várzea, e as projeções mais recentes indicam que o país não deverá crescer, neste ano, acima de 5% como prevê o retranqueiro da Economia, Paulo Guedes. Uma nova onda de revisão das estimativas dos analistas está em curso, e algumas estão abaixo de 4,5%, o que indica uma variação próxima de zero, na melhor das hipóteses no quarto trimestre. O saldo negativo de gols na economia será capital na eleição de 2022.
A casa começou a cair para o professor Guedes no início da temporada. A economia dispensa improvisos e chutes. Ela demanda estratégias, fundamentos sólidos, uma seleção de craques bem treinados para evitar goleadas vexatórias. O técnico Paulo Guedes, que sempre promete vencer na próxima rodada, fracassou no comando da equipe, não conquistou os pontos disputados e nos rebaixou para terceira divisão. Depois de quase 3 anos fazendo firula na economia o placar é trágico. A inflação voltou ameaçadora, a fome ressurgiu devastadora, os investidores evaporaram, fábricas fecharam, a dívida pública cresceu, o desemprego sacrifica milhões de pais e mães de família, a renda do brasileiro evaporou, o real foi uma das moedas que mais se desvalorizou no planeta e o Brasil levou um tombo vertiginoso no ranking das economias mundiais. Nenhuma das jogadas ensaiadas por Guedes saiu da prancheta e foi aplicada em campo.
A nova tática fiscal ameaça implodir as arquibancadas da responsabilidade. É a despudorada gastança de recursos públicos para tingir a camisa eleitoreira com marcas populistas inconsequentes. É dar com uma mão e tirar com a outra. Furar o teto resultará no aumento das contas públicas, maior elevação dos juros, explosão inflacionária, desvalorização do real e no aprofundamento do fosso da recessão. Para os olheiros espalhados no mundo a nova configuração em campo aumentará a perda da credibilidade, a desconfiança e a imprevisibilidade, itens arrasadores para qualquer economia do planeta. Ameaçado de rebaixamento, no porão das intenções de votos e amargando rejeições superlativas, o capitão quer subir na tabela da preferência da torcida pela irresponsabilidade. Depois do contra-ataque do centrão, que hoje manda no plantel econômico, da defesa ao ataque, mais de 15 de titulares desfalcaram a equipe de Guedes, que hoje improvisa com reservas.
A PEC do calote, que avançou no Congresso já perto da prorrogação, é um carrinho desleal e violento nos fundamentos econômicos. É mais um drible para pagar o bicho aos famélicos beques do centrão, assim como foi o orçamento secreto que recebeu uma punição temporária dos juízes do STF. Inédito em qualquer gramado da legalidade, o orçamento sigiloso implode todas as cartilhas da administração: legalidade, publicidade, economicidade e impessoalidade. Guedes perdeu mais uma.
Na coletiva disse concordar com o capitão na tática esbanjadora, a “licença para gastar”. O galáctico, convocado para entortar os que travavam o crescimento, está visivelmente mancando em campo. O atacante impetuoso de outrora está deslocado e desmotivado. Durante os 3 anos como titular absoluto, Guedes fez muito rodeio, mas não demonstrou rendimento à altura dos artilheiros em clássicos econômicos. Os mais difíceis rachões enfrentados por ele, quase sempre foram encerrados por dribles e cartões amarelos do próprio cartola.
“Os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar o teto vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal. O presidente sabe disso, o presidente tem nos apoiado,” declarou Guedes em setembro do ano passado. Na temporada atual as coisas mudaram muito. Nas arenas do futebol os técnicos que acumulam derrotas são sempre ‘prestigiados’ pelas diretorias quando estão na zona do rebaixamento. “Pergunta pro Paulo Guedes” sumiu dos estádios brasileiros. Guedes treinou, transpirou, mas não finalizou as jogadas imprescindíveis para a copa eleitoral. A zebra na economia, o fracasso no desarme da pandemia e o racha patrocinado por Sérgio Moro na direita podem definir o campeonato ainda no primeiro tempo. Os prognósticos indicam que as caneladas de Guedes e os pontapés de Moro, típicos das divisões inferiores e de peladeiros, podem acarretar na devolução do caneco afanado em 2018.
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