Eu disse e redisse, e repito aqui, que ninguém, absolutamente ninguém que integrou o governo do usurpador Michel Temer merece uma mísera gota de respeito.
E também disse e redisse, e repito aqui, que ninguém, absolutamente ninguém que integra o governo genocida de Jair Messias vale coisa alguma.
O presidente é contagiante. Tudo ao seu redor é rapidamente contaminado, e o que já não era podre apodrece.
Vamos pegar dois exemplos.
Quando assumiu o ministério da Saúde, o doutor Marcelo Queiroga ostentava no currículo ter sido presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.
Como se diz em castelhano, “algo es algo”. Depois da tragédia que foi o ministério debaixo de um general toupeira, e da ativa, chamado Eduardo Pazuello e de todos os militares que se aboletaram em gabinetes antes ocupados por funcionários de carreira, qualquer médico seria um avanço. Isso, para não falar da corrupção.
As primeiras declarações de Queiroga reforçavam aquela impressão inicial. Enfim, alguém com um mínimo de lucidez e respeito pela ciência.
Pois durou muito pouco. O gabinete paralelo de Jair Messias continuou a todo vapor, e o auge aconteceu há pouco, quando ele resolveu seguir os conselhos de uma ex-jogadora de vôlei transformada em comentarista política em um canal ultradireitista.
Resultado: Queiroga, cumprindo ordens, suspendeu a vacinação em adolescentes.
E foi pouco: em Nova York, o doutor contaminado espelhou a grosseira boçalidade do chefe. Não titubeou em fazer um gesto obsceno, totalmente fora de controle. E ponto final.
Outro contaminado foi o diplomata de carreira Carlos França. Alçado ao comando da política externa brasileira, ele substituiu Ernesto Araújo, o ministro de Aberrações Exteriores que conseguiu destroçar uma tradição secular. Nem mesmo na ditadura tivemos algo semelhante, tão abjeto.
Dono de uma trajetória discreta, Carlos França tratou de profissionalizar a diplomacia, limando os desastres do antecessor. Coisa, aliás, bastante fácil: era só manter um mínimo de lucidez, algo que Araújo jamais passou nem perto.
Sabemos todos que o Itamaraty manteve sempre uma disciplina rigorosíssima, comparável somente – e muitas vezes superando – a existente nos quartéis.
França, ao longo dos cinco meses ocupando o cargo, manteve essa hierarquia, essa disciplina rígida e modos convencionais.
Também durou pouco: agora, em Nova York, e a exemplo de Queiroga, mostrou até que ponto foi irremediavelmente contaminado por Jair Messias.
Mais educado que seu colega da Saúde, não chegou a fazer um gesto obsceno. Limitou-se a fazer a tal arminha.
Com esse gesto encerrou sua carreira. O chefe não vai durar muito. Nem ele, quando essa aberração de governo chegar ao fim.
ERIC NEPOMUCENO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)