A permanência de um ministro do (baixo) nível de Ricardo Salles é impensável até mesmo em um governo capenga e sem compromisso algum com a decência para lidar com o meio ambiente. Tosco, suspeito, incompetente e colecionador de teses e propostas imorais, para se dizer o mínimo, a figura em tela traduz, de maneira sobeja, o porquê de sermos um país escorraçado perante o mundo quando se trata de temas em que passamos vergonha. Como combate à Covid-19, direitos humanos, política externa e, no caso de Salles, a preservação da natureza, em particular das nossas matas.
Entre os que não compõem o gado bolsonarista e até entre eleitores arrependidos do “mito”, Ricardo Salles constrói, no momento, uma sólida unanimidade. É detestado pelos servidores dos órgãos de sua área, sobretudo os da fiscalização, desprezado pelos criminosos ambientais que se beneficiam com sua “política”, visto com descrédito pelos empresários, achincalhado em escala planetária, vira e mexe está na mira do Judiciário. É uma tragédia moral e ambiental. Mas, ainda tem poder e prestígio junto ao seu patrão-presidente. Sabe-se lá até quando.
Ricardo Salles compõe um time no qual já brilharam, como defesa ou como ataque, “craques” do quilate dos esquecíveis Abraham Weintraub ou Ernesto Araújo, dois gigantes da pequenez que fizeram da Educação e as Relações Internacionais duas pastas em ruínas. Grupo diferente de outro cujas características são mais folclóricas e, às vezes risíveis, como a ministra Damares Alves, daquele pasta de nome enorme e legado quase zero, ou o ministro-astronauta Marcos Pontes, quase invisível na fila do espaço.
O ministro do Ambiente é ideológico, também. Dentro daquele conceito de ideologia que o governo bolsonarista consagrou, à luz dos ensinamentos do “filósofo” Olavo de Carvalho e do “saber imensurável” dos filhos do presidente da República. As teses e, sobretudo, a prática de Salles casam com o que de pior se pode imaginar numa política pública que é o desdém para com a vida e o foco total no lucro e na vantagem.
Ideologia que o injustificável ministro verbalizou numa célebre reunião, há um ano (22 de abril), quando propôs, em português não tão castiço, mas claro, que o governo se aproveitasse de nascente pandemia provocada pelo Coronavirus para “deixar passar a boiada” de barbaridades legais para desmatar o que se pudesse:
“Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos.”
Vale republicar o trecho completo. É o autor dessa barbaridade que comporá, como assessor privilegiado (e à altura) do presidente da República, a representação brasileira na Cúpula dos Líderes do Clima, na China, esta semana. O que tem a dizer num encontro desse porte um país que tem um ministro do Meio Ambiente desse naipe?
GIVANDRO FILHO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)