Ao recursar o convite para assumir o Ministério da Saúde, a cardiologista Ludhmila Hajjar mostrou que não adianta trocar o titular da pasta, tem que mudar o presidente. Ao relatar apenas sua justificativa pela decisão, sem querer ela revelou que o presidente mantém sua posição de defender a economia em detrimento da vida da população.Publicidade
Pressionado por todos os lados, inclusive pelos fatos, para demitir o subserviente general Eduardo Pazuello, Bolsonaro tenta enganar a plateia fingindo que vai colocar alguém capaz no lugar do capacho. Pura balela. Ele quer mesmo é manter um ministro de faz de conta à frente da pasta e possa continuar tomando as decisões de acordo com o seu pensamento torto.
Se quisesse de fato tratar a pandemia com seriedade, aquele que ocupa a cadeira presidencial teria apoiado as ações do seu ministro Luiz Henrique Mandetta, que ganhou a confiança dos brasileiros por sua atuação no início da pandemia. Mas o que fez Bolsonaro: boicotou de todas as formas o seu próprio ministro e depois o demitiu.
O médico Nelson Teich, substituto de Mandetta, também foi desrespeitado pelo presidente durante sua curta passagem pelo ministério, até pedir demissão por não concordar em adotar a cloroquina como medicamento a ser distribuído para o tratamento da covid, como queria Bolsonaro.
A pasta da Saúde sempre foi uma das mais cobiçadas da Esplanada, especialmente por causa do seu gigantesco orçamento. Agora, quem tem um nome a zelar dificilmente aceitará a vaga de Pazuello. E não é só pelo amontoado de problemas que vai enfrentar como a falta de vacina, o colapso no sistema de saúde em quase todos os estados, o risco de falta de oxigênio, entre outros.
O maior problema será conseguir se impor perante um presidente autoritário e negacionista. A troca de comando não mudará os fatos de que o verdadeiro ministro da saúde é o próprio Bolsonaro.
É grave também perceber que as ideias de Bolsonaro são compartilhadas por um séquito de imbecis capazes de absurdos como fazer manifestação com buzinas em frente a um hospital, como aconteceu no Rio Grande do Sul, ou ameaçar a doutora Ludhmila, como foi relatado por ela durante entrevista. Coisa de gente doente.
Não há como se iludir. O próximo ministro não terá a mínima autonomia para decidir qualquer coisa, nem com base na ciência e nem com base no bom senso.
EDNA LIMA ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)