MERCADO DE TRABALHO SEGURA O PIB


CHARGE DE BENETT

No trimestre encerrado em janeiro, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do IBGE, indicou uma taxa de desemprego de 7,6% (queda frente aos 8,4% do trimestre móvel encerrado em dezembro). A taxa ficou abaixo da projeção do mercado (7,8%) e dos 7,7% previstos pelo Itaú, que considerou o nível em 7,8%, com ajuste sazonal, caindo dos 8,0% (em base sazonal) da taxa trimestral de dezembro.

Todo início do ano, após demissões sazonais do comércio em desemprego (quando há “turn-over” das contratações temporárias, com renovação de quadros), o desemprego costuma crescer com o afluxo de formandos ao mercado de trabalho até março. Por isso, é preciso esperar mais um pouco para ver a tendência efetiva.

Entretanto, a decomposição da PNAD mostrou aumento mensal do emprego (+0,3%), enquanto a taxa de participação (% de trabalhadores na População Economicamente Ativa) ficou estável em 61,9% A população ocupada cresceu nos setores formal e informal (+0,4% e +0,3%, respectivamente). A massa salarial real efetiva avançou 1,3%, impulsionada pela expansão do emprego associada ao aumento do rendimento médio (+0,9% na variação mês contra mês, com ajuste sazonal).

Para o Itaú, os dados de janeiro continuaram mostrando resiliência do mercado de trabalho, com crescimento da população ocupada (tanto formal quanto informal). Além disso, os salários surpreenderam positivamente, acelerando de 0,2% em dezembro para 0,9% em janeiro, com o novo mínimo. O fato, se mantido, tende a sustentar a economia este ano, podendo resultar num crescimento do PIB superior ao previsto, pela expansão da massa salarial em todos os trabalhos, incluindo o mercado informal.

 OLM

Inflação dá sinais de queda nos EUA

Apesar do aumento mensal de 0,4% em janeiro no núcleo da inflação do consumo (PCE) nos Estados Unidos, os sinais são de que preços críticos estão cedendo, o que pode permitir ao Federal Reserve iniciar as baixas de juros no 1º semestre. A variação anual do indicador que exclui alimentos e energia foi de 2,8% no mês, contra 2,9% em dezembro; o indicador cheio teve alta de 0,3% em janeiro e de 2,4% em 12 meses, dentro do consenso do mercado.

Os preços dos serviços subiram 0,6%, mas os preços dos bens caíram 0,2% em janeiro. Os preços dos alimentos aumentaram 0,5% e os preços da energia recuaram 1,4%. Na comparação com janeiro de 2023, os preços dos serviços subiram 3,9% e os preços dos bens caíram 0,5%. A inflação de alimentos foi de 1,4% nessa métrica, enquanto os preços da energia tiveram deflação de -4,9%.

Proposta de Yellen assusta mercados

Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, transformou em proposta, durante a presidência brasileira no G-20, no fórum dos Ministros de Finanças, em São Paulo, a sugestão assinada ano passado no Forum Econômico Mundial de Davos, de maior taxação sobre os super ricos, para atenuar a concentração de renda no mundo e ajudar as nações mais pobres a reduzir as desigualdades, incomoda os super ricos sovinas, uma fala da Secretária do Tesouro dos Estados Unidos, causou perplexidade no mundo da alta finança.

Janet Yellen, sugeriu, na mesma reunião do G20, que os ativos russos que estão congelados nos bancos, estimados em 250 bilhões de euros, decorrentes das sanções do Ocidente à invasão da Ucrânia pela Rússia, poderiam ser apropriados pela Ucrânia, como reparação da destruição na invasão.

A proposta ganhou eco dos ministros das Finanças da França, Bruno Le Maire, e Alemanha, Christian Lindner. Mas Le Maire foi mais cuidadoso, alertando que os países “não têm base legal para apreender estes ativos russos” e que os sete países mais industrializados do mundo (G7) “não podem tomar passos que provoquem danos ao direito internacional.”

Declarações como estas podem colocar em risco o status do dólar como moeda hegemônica no mercado financeiro e no pagamento do fluxo de comércio internacional, status este que já tem sido questionado por outros países, em especial, a China. No ano passado, quando o presidente Lula defendeu que o mundo não se prenda à hegemonia do dólar, recebeu muitas críticas. Agora, vê-se que ele estava enxergando longe ou atirou certo sem ver.

Se os Estados Unidos e a União Europeia estão dispostos a congelar ativos financeiros e transferir sua propriedade para outros países nos bancos sob sua jurisdição, caso o proprietário destes ativos adote alguma posição contrária aos seus interesses, a reação será questionar a credibilidade das moedas dos Estados Unidos e da União Europeia e tentar desenvolver moedas alternativas (como criptomoedas, que fogem ao controle dos bancos centrais) para financiar o comércio internacional e manter as reservas cambiais.

A simples menção de transformar o congelamento dos ativos russos em confisco, pode acelerar a fuga de alocação naquelas moedas. Circula nos mercados a suspeita de que a China já vendeu mais de US$ 1 trilhão de suas reservas em títulos do tesouro americano e trocou por ouro e outras commodities metálicas.

‘A Crise de 1979’, de Paul Erdman

Isso me lembra um livro sensacional, escrito em 1977 e que li em 1978, “A Crise de 1979”. Escrito por Paul Erdman, ele aborda a frenética reciclagem no sistema financeiro internacional dos petrodólares, que engrossaram as finanças dos países produtores de petróleo no Oriente Médio, após a triplicação do preço do barril, em 1973. O autor entendia muito dos mecanismos do mercado, pois teria sido operador do Citibank na suíça.

O temor na ocasião, era que a fuga em massa de depósitos no mercado do eurodólar nos grandes bancos dos Estados Unidos e nos centros financeiros de Londres, Zurique e Frankfurt, provocasse hecatombe nas finanças mundiais.

Como pano de fundo, a ficção, que se passava antes da queda do Xá do Irã e ascensão dos aiatolás, no fim de 1979, girava em torno de temor de um cientista de origem judaica, contratado pelo governo do Xá Reza Pahlevi, para tocar um projeto de fabricação de bombas contra inimigos árabes (a origem do Irã sempre o colocou contra os sauditas, cataris, e os iraquianos – a guerra contra o Iraque latente desde 1978, irrompeu no ano seguinte). Só que o cientista, temendo que os artefatos fossem lançados contra Israel, muda, em segredo, a fórmula para uma bomba de cobalto, se a memória não falha.

Ao comentar sobre o livro com diretores do Banco Central, durante o governo Geisel, um deles leu e me confessou ter ficado com insônia, tal a gravidade da ameaça (o Brasil se pendurou em créditos internacionais para reciclar a sua economia no 1º choque do petróleo – e o 2º veio depois dos aiatolás).

Em meio às escaramuças, um avião iraniano com mísseis é bombardeado no aeroporto de Teerã e a irradiação torna inacessíveis, por 30 anos, os campos de petróleo do Oriente Médio, que então abasteciam metade do Ocidente, em especial aos EUA, que, por questão estratégica, não exploravam suas próprias reservas (neste milênio o shale-gas tornou o país e o Canadá autossuficientes).

O início impactante do livro começa com o personagem ex-mago das finanças, que convivera com o poderoso xeque Zaki Yamani, da Arábia Saudita, andando de charrete numa fazenda da Califórnia, pela falta de combustíveis de petróleo no mundo.

A ameaça de confisco dos petrodólares levou os países árabes a transformar a pequena ilha de Bahrein em centro financeiro, experiência amplificada pelos Emirados Árabes Unidos, que transformaram as cidades de Dubai e Abu-Dhabi em paraísos financeiros e centros de compras e turismo de alto luxo. Petróleo e dinheiro são uma combinação potencialmente explosiva.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *