A MORTE DE PELÉ, O MAIOR ATLETA DA HISTÓRIA

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Nos anos 60 e 70, ainda não havia a TV a cabo. Ficávamos sabendo de seus feitos pelas agências noticiosas.

A primeira vez que vi Pelé foi na concentração da Seleção de 1958 em Poços. Eu tinha 8 anos e algum discernimento. Se não me engano, durante aquele período o titular era o Dida, do Flamengo; e o ponta esquerda o Canhoteiro, do São Paulo. O centro-avante ainda era Mazzola, mas já sem vontade de se dedicar, pois já estava vendido à Itália. Cedia lugar a Vavá Peito-de-Aço.

No meio campo havia Didi, absoluto, secundado por Zito. Também não me lembro se, na concentração, Zito já fosse o titular, ou Dino Sani, do São Paulo.

Seja como for, Pelé não chamou a atenção por lá. Só na Copa explodiria após o gol no País de Gales.

Depois disso, limite-se a acompanhar seus jogos, surrando o São Paulo e quem mais viesse. Mas me lembro bem do campeonato mundial vencido pelo Santos, contra o Milian, com Pelé sendo substituído por Almir, o Pernambucaninho.

Contato direto tive no início dos anos 70, quando Pelé completou mil dois e Veja preparou uma capa. Entrei na equipe de cobertura e fui até a chácara Nicolau Morán tentar uma entrevista com o Rei. Ele saiu do treinamento conversando com Léo e Nenê, dois meios campos do Santos. Dava conselhos:

  • Vocês têm que fazer como Dirceu Lopes: pegou a bola, partam em direção ao gol.

Mas nem me deu pelota.

Fui até o técnico Mauro Ramos de Oliveira, o fantástico zagueiro que levantou a Copa de 1962. Disse-lhe que era seu conterrâneo e queria entrevistar Pelé. Perguntou de que família. Disse-lhe que era filho do Oscar Nassif. E ele:

  • Seu Oscar! Foi ele quem me levou para o futebol.

E meu pai nunca tinha me dito nada.

Imediatamente chamou Pelé e disse-lhe para dar uma entrevista “para o filho do meu amigo”.

Aí, foi só ligar o gravador que Edson deu aquele sorriso de Pelé para abrir a entrevista.

De lá fui para Santos, entrevistar amigos fiéis e ressentidos. No começo de carreira ele teve um empresário, Pepe Gordo. Depois, romperam, com Pelé acusando-o de levar vantagem. Tinha também um advogado muito conhecido, que julgava que Pelé tinha se comportado de forma ingrata com ele.

Enfim, dos relatos surgiu a figura de Edson Arantes do Nascimento. Fogoso, em qualquer cidade em que ia jogar, arrumavam uma companhia feminina para ele.

Tinha também suas mesquinharias. Quando pensaram em fazer um jogo em benef’;icio de Vicente – o quarto zagueiro da Seleção Portuguesa, considerado marcador implacável do Rei – recusou-se a comparecer.

Todos seus contemporâneos, mesmo super-craques como Rivelino, Gerson e outros atestavam que Pelé sempre via na frente, seja nos lances essenciais, seja para se defender de pancadas.

Aliás, é quase milagre que, tendo sido caçado em todos os campos do planeta, nunca tenha sofrido uma contusão grande. Mas era craque também na arte de devolver agressões. Se correse e o jogador adversário viesse por trás tentando derrubá-lo, ele tinha uma técnica especial de esperar o bote, saltar e mover os braços de maneira a atingir a cabeça do agressor.

Nos anos 60 e 70, ainda não havia a TV a cabo. Ficávamos sabendo de seus feitos pelas agências noticiosas. Como o dia em que guerrilha e governo de um pais africano suspenderam a guerra para assistir um jogo de Pelé.

A era do YouTube joga diariamente na tela do computador jogadas fantásticas de Ronaldinho, Ronaldo Gaúcho, Zidane, Romário. Mas cada jogada criativa foi inaugurada por Pelé há décadas. Fazer tabelinha com a canela do adversário, chapéu na área seguido de gol, gol de falta, de cabeça, passe de costas, fez de tudo.

A mania brasileira da polarização dividiu a torcida entre o gênio que deu certo, Pelé, e o que não deu, Garrincha. E ele sofreu patrulhamento por conta disso. Ficou tão traumatizado com as cobranças políticas que, em uma das vindas ao Brasil, depois de ter-se mudado para os Estados Unidos, foi indagado pelos repórteres sobre seu candidato a presidente – as eleições tinham sido por aqueles dias. Sua resposta:

  • O voto é secreto!.

Na vida familiar, tinha enorme apego pelos pais, especialmente Dondinho que, antes do nascimento de Pelé, foi contratado por meu pai para a Caldense e era exímio cabeceador.

A mancha em sua vida foi o não reconhecimento de uma filha fora do casamento. Ela morreu pouco depois, de câncer.

A presença maciça da familia, filhos e netos, velando por ele nos dias finais, no entanto, comprovam que o Rei era família.

Morre com a fama indisputada de maior jogador da história.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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