OS ANARQUISTAS DO IMPERADOR PEDRO II

  • O Brasil é o único dos países das América que teve sua capital, o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, transformada em metrópole de um Império europeu fincado em todos os continentes – e no qual o sol nunca se punha.
  • Foi ainda o Brasil a única das nações das Américas cuja independência se deu por meio de seu monarca, o Imperador Dom Pedro (1798 – 1834), que cá é Primeiro e, em Lisboa, é Quarto. As demais nasceram republicanas, seguindo o modelo dos Estados Unidos, baseado na simbiose da Franc-Maçonnerie e da Reforma Protestante de matriz luterana-calvinista.
  • Vários foram os países, do México à Argentina, que se tornaram repúblicas através de sangrentas quarteladas ‘criollas’, isto é, levantes militares comandados pelos descendentes dos colonizadores espanhóis. Mas o Brasil, graças à Sereníssima Casa de Bragança, sediaria um Império do Velho Mundo e teria como soberano dois extraordinários homens – o próprio Dom Pedro I e seu filho, Dom Pedro II (1825 – 1891), Imperador de 1831 a 1889, quando foi destronado por um golpe militar, insuflado pelos grandes proprietários de terras, após ter decretado a abolição da maldita escravidão dos negros que aqui perdurava.
  • Foi o iluminado Dom Pedro II quem acolheria refugiados e famélicos de todo o mundo. Inclusive os cristãos do Líbano e da Síria, presentes, atualmente, de Norte a Sul – bem como povos de língua alemã. E também foi ele quem trouxe os primeiros anarquistas italianos, que fundariam, em 1890, a legendária Colônia Cecília, em Palmeira, no Estado do Paraná, a 73 quilômetros de Curitiba, liderados pelo escritor e engenheiro agrônomo genovês Giovanni Rossi (1853 – 1943).  
  •  Culto e, sobretudo, humanista, Dom Pedro II fora apresentado a Rossi no Teatro alla Scala, em Milão, em 19 de março de 1870, pelo maestro brasileiro António Carlos Gomes (1836 – 1896), paulista de Campinas, na estreia de sua ópera Il Guarany – a partir do romance “O Guarani” do cearense José de Alencar (1829 – 1877). Rossi pedira a Gomes que intercedesse junto ao Imperador pela concessão de terras para realizar a utopia de montar uma comunidade libertária – negada no Bel Paese.
  • Ideologicamente favoráveis à supressão do Estado, os anarquistas de Rossi, ao desembarcarem no País, comemoraram a intentona contra os Bragança e, com ingratidão, aplaudiram a Proclamação da República – que os perseguiria até o fim da experiência ácrata. Tive a possibilidade de visitar há duas semanas a localidade onde houve o único ensaio, no século XIX, de uma sociedade anárquica em todo o continente americano.
  • Estava em Curitiba a prestar consultoria à RIC TV, emissora paranaense afiliada da Rede Record de Televisão – e pude conhecer (foto) as terras doadas pelo Imperador para a Colônia Cecília, na qual o casamento chegou a ser extinto. Ninguém era de ninguém e estava proibido proibir! A experiência de Rossi resultou num retumbante fracasso.
  • Foi, por suprema ironia, duramente hostilizado pelos republicanos da antiga Província – embora seus membros se identificassem muito mais com eles do que com a Monarquia. Rossi era da geração do extremista libertário napolitano, Errico Malatesta (1853 – 1932), um dos inspiradores da Federazione Anarchica Italiana – a temida FAI.     
  • Curiosamente, em Portugal e no Brasil, os partidos comunistas surgiram nos agrupamentos anarquistas – ao contrário dos outros países da Europa e mesmo das Américas, que tiveram origem entre dissidentes dos partidos socialistas e social-democratas. Culpa ou mérito, quem sabe, dos hábeis monarcas de Bragança.        


ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL/ PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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