Além do cessar-fogo, proposta estipula a retirada de Israel de Gaza e devolução dos restos mortais de reféns
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O Hamas aceitou, nesta terça-feira (11), a resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o plano de paz para acabar com a guerra de Israel na Faixa de Gaza, informou Sami Abu Zuhri, alto funcionário do grupo palestino.
Para analisar esta negociação, o programa TVGGN 20H recebeu a jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh, que explicou quais são as três fases da proposta que almeja por fim ao conflito que dura desde 7 de outubro e já vitimou mais de 37 mil palestinos, 70% deles mulheres e crianças.
Soraya observa que a primeira fase do acordo consiste no cessar-fogo e em obrigar Israel de se retirar das áreas povoadas em Gaza e, mesmo que as negociações avancem, que não haja retorno dos ataques e bombardeios.
A proposta articulada na ONU também estipula a retirada total das tropas de Israel do território palestino, para que se inicie a reconstrução de Gaza e a devolução dos restos mortais de reféns.
“O Hamas e a Resistência Palestina aceitarem a resolução indicam o que é possível neste momento. Essa resolução se divide em três fases: a primeira fase dura 6 semanas e prevê cessar-fogo total e troca de prisioneiros palestinos, que dobraram desde o início de outubro. São mais de 10 mil, 3.400 em situação de detenção preventiva, sem qualquer condenação e julgamento”, afirma a jornalista.
Falta de esperança
Soraya ressalta que a situação em Gaza é muito dramática, tendo em vista que o genocídio da população entrou no oitavo mês e que, mesmo diante de várias tentativas de acordos para por um ponto final no conflito, há indícios de que Israel “vai seguir com a política de extermínio do povo palestino e do expancionismo colonial”, tanto na faixa quanto na Cisjordânia.
“Em março já tinha passado também uma resolução de cessar-fogo e não há uma sinalização de que essa máquina de guerra sionista esteja disposta a abrir mão do expansionismo colonial”, continuou a entrevistada, que espera estar enganada.
Na concepção dos palestinos, eles vivem a segunda Nakba, também conhecida como a catástrofe palestina. A primeira foi a fundação do Estado de Israel em 1948.
A jornalista explica que a situação chegou a tal ponto porque os palestinos tiveram de ficar mais de 70 anos sob repressão de Israel, além do fato de a causa ser relegada ao processo de normalização dos regimes árabes, especialmente em relação com a Arábia Saudita.
Oportunismo
Mas Israel se aproveitou do ataque do Hamas, até porque o Egito já tinha alertado o governo de Benjamin Netanyahu sobre a ação planejada pelo Hamas. “Não há como dizer se eles deixaram ou se ignoraram por achar que não seria possível”, continua a entrevistada.
Israel, no entanto, tentou aplicar duas doutrinas criadas no Líbano. A primeira foi a Hannibal, em que a diretriz é não deixar que o inimigo faça reféns, mesmo que, para isso, tivesse de matar seu próprio povo.
Os israelenses tentaram, ainda, promover uma verdadeira carnificina para jogar a população contra a resistência palestina. A estratégia, porém, não teve sucesso. “Na verdade, está se aprofundando o início do fim do projeto colonial siniosta. Infelizmente isso custa o sacrifício de muitas vidas, mas o isolamento internacional do Estado de Israel e a solidariedade internacional a gente nunca viu nesse nível.”
Os Estados Unidos também estão sendo afetados pelo conflito Israel e Hamas, tendo em vista que a pressão interna por ter apoiado as ofensivas de Netanyahu. Para Soraya, o posicionamento do presidente norte-americano Joe Biden deve comprometer sua tentativa de reeleição em novembro.
CAMILA BEZERRA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)