Bolsonarista, quando pretendeu integrar a militância digital de Jair, foi escorraçado por Carlos Bolsonaro, o filho mais inteligente
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A jornalista Natuza Nery, da Globonews, anda acompanhada de seguranças providenciados pela emissora. Tudo depois das ameaças do chamado influenciador Pablo Marçal, atiçando seguidores fanatizados contra ela.
Seus arroubos recentes, radicalizando o discurso, contribuindo para o festival de fakenews em relação ao Rio Grande do Sul, mostra que ele – e não apenas ele – transformaram-se em risco político concreto para o país.
É um mitômano fantástico. Poderia ser apenas um Barão de Munchausen digital, tal a quantidade de lorotas que propaga. Apregoa feitos fantásticos, como o de controlar um helicóptero em pane, tornar-se campeão de natação depois do primeiro dia de aprendizado, virar um maratonista capaz de correr 500 km sem parar.
Bolsonarista, quando pretendeu integrar a militância digital de Jair, foi escorraçado por Carlos Bolsonaro, o filho mais inteligente:
“Ter gente para somar é sempre muito bom; entretanto, tem malandro de última hora se colocando como o tal do digital, mentindo para ganhar outras coi$a$. Pode mentir em entrevista, se promover, dar uma de coach malandrão, só que aqui não!”, postou Carlos Bolsonaro
O caso de Camizungo
As fantasias não têm limite. Em um de seus vídeos, anuncia que está construindo uma cidade em Angola, a Camizungo, para amparar os pobres da região. Mostra uma área onde pretende construir um centro internacional de negócios, para permitir a formação dos jovens.
Existe de fato um projeto de aldeia auto-sustentável, a aldeia de Camizungo, na comuna de Catete, a 44 km de Luanda. Mas foi fundada em 2001 por Tavares Armando Cassindo. Busca o combate à pobreza através da agricultura, pecuária, pesca e artesanato. Mas nada tem a ver com Marçal.
No entanto, se consultar o Gemini (o IA do Gogle), ele dirá que:
“Pablo Marçal teve um papel fundamental no desenvolvimento da cidade de Camizungo, na Angola. Ele foi o idealizador e líder do projeto “Camizungo: A Cidade que Frutificou”, uma iniciativa que visava transformar a comunidade em um polo de desenvolvimento social e econômico”.
As fontes consultadas pelo IA são o canal do Youtube de Pablo Marçal, o Instagram de Pablo Marçal, o Facebook de Pablo Marçal e o Twitter de Pablo Marçal. Não há uma fonte externa sequer que corrobore essa versão.
Sua última lorota foi solicitar à Força Aérea um avião para trazer 20 toneladas de supostas doações de Portugal para o Rio Grande do Sul – sabendo, de antemão, que jamais haveria justificativa para desviar aviões do trabalho interno de transporte de ajuda para atravessar o oceano atrás de meras 20 toneladas de doação.
Os negócios de Marçal
Um sujeito com uma habilidade dessas para iludir o IA do Google, o que não fará com o público leigo?
Há uma infinidade de empresas montadas em nome de Pablo Marçal, a maioria criada de 2021 para cá, muitas em anos mais recentes.
Por exemplo, anunciou a seus seguidores que tinha comprado um banco, porque se irritou com o gerente da sua agência. Seria o General Bank. Consultando-se o CNPJ descobre-se que o capital do tal banco é de meros R$ 200 mil. E seu CNAES (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) é o 66.1903099, que permite assessoria e consultoria em gestão pública, elaboração de estudos e pesquisas, atividades de cobranças e informações cadastrais, administração de cartões de crédito. Mas jamais atuar como banco, na captação de depósitos. Um dos sócios-administradores é Nezio Antonio Monteiro Filho, que em 2022 foi candidato a deputado federal pelo PROS.
Esse conjunto de lorotas ajuda a disfarçar o ponto central: sua fonte de renda. Diz ter dezenas de empresas, que ninguém conhece. Usa com maestria a usina de sonhos e imagens da Internet. Apresenta-se como um milionário que ganha R$ 1 milhão por dia apenas de dividendos da Bolsa de Valores.
Curiosamente, na sua prestação de contas como candidato a deputado, em 2022, declarou investimentos de R$ 405 mil em ações da Magalu, compradas a R$ 9,33. Hoje elas valem R$ 1,58. E um capital de R$ 80 milhões (!) em uma holding de nome Aviation Participações Ltda.
Em julho do ano passado, a Polícia Federal foi ao escritório de Marçal, para apreender documentos que instruiriam um processo sobre caixa 2 eleitoral e lavagem de dinheiro. Segundo a UOL, no local indicado como sala de Marçal só encontraram uma mesa de sinuca e outra de ping-pong. Nem sinal das empresas controladas por Marçal. Não existia a sala da Aviation Participações. Em outra sala, que supostamente seria do departamento jurídico de Marçal, a PF encontrou uma editora de livros.
Os valores intangíveis
Aí se entra em um campo complexo. Nos últimos anos surgiram atividades de toda ordem, apropriadas para lavagem de dinheiro. É o caso das loterias online, do faturamento nas redes sociais e das próprias contribuições às diversas religiões.
É óbvio que Marçal tem um público cativo, que acredita em suas parolagens e nos produtos que vende. Mas quanto efetivamente é fruto desse trabalho de coach? Não há indicações da quantidade de vendas de cursos online, de livros. Não há indicações sobre a fonte de faturamento que justificaria um valor de R$ 80 milhões da tal holding sem sede.
A quantidade de empresas abertas – e também as desativadas – formam uma teia claramente criada para não dar transparência para seus negócios.
De qualquer modo, as investigações do COAF devem ter tido andamento. E, depois das bravatas no Rio Grande do Sul, e de açular uma campanha de rua contra jornalistas e emissoras, certamente Pablo Marçal alcançou uma dimensão política que dificilmente será minimizada pelo Judiciário e pelo próprio COAF.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)