Pianista, compositor, arranjador e professor de jovens músicos, Luiz Eça criou o Tamba Trio, formado por Hélcio Milito (bateria), Bebeto Castilho (contrabaixo e flauta) e ele ao piano. Hoje, o pianista Diogo Monzo lança Diogo Monzo toca Luiz Eça – Solo Piano ao Vivo (Biscoito Fino). Para homenagear o mestre, gravou o álbum no Salon Brah (Viena/Áustria) e no Bulgaria Chamber Hall (Sofia/Bulgária). O nosso saudoso Luizinho completaria 88 anos no dia três de abril.
Vamos às sete faixas do álbum.
“The Dolphin”* (Luiz Eça): o arranjo com mais de nove minutos de duração começa com o piano meio que endoidado: os acordes se misturam às notas dedilhadas, num turbilhão de sequências melódicas embaladas por harmonias que só Luizinho Eça era capaz de criar. Monzo se entrega a fundo, quase dando para ver o brilho de seus olhos iluminando o teclado. Num breve momento de brandura, o piano se desvela em emocionado afago. A melodia é bela! Os improvisos vêm com compassos íntimos da música. Sob os dedos de Monzo, o ritmo nordestino protagoniza. Novo instante de reflexão, o final se achega e com ele os aplausos. Uma abertura digna de deixar o ouvinte embevecido com o talento de Eça e com o brilho de Monzo.
“Alegria de Viver” (Luiz Eça e Fernanda Quinderé) tem novamente o piano pronto para despertar no ouvinte o seu espírito de amador da música de Eça. O samba rola solto. O arranjo se vale de todos os recursos técnicos do pianista. Um improviso pleno de criatividade, movido a dedos ágeis, encanta. A melodia é alegre, igual ao jeitão de Quinderé e Luizinho.
“Chorinho Postress para Fernanda Quindere” (Luiz Eça): o choro revela a relação de Luizinho com a parceira. O couro come: Monzo é um virtuoso! A baixaria levada pela mão esquerda do instrumentista é digna de um mestre chorão. E, nessa levada, a homenagem flui que é um encanto.
“Reencontro”, mais uma parceria de Eça com Quinderé, chega de mansinho. Romântico, Luizinho derrama sua habilidade musical sobre uma melodia límpida. Monzo, que de bobo não tem nada, muito pelo contrário, se vale de sua alma erudita e populariza a declaração de bem-querer imaginada pelo autor. Os aplausos vêm calorosos. Muito bonito!
“Melancolia” (Luiz Eça e Ronaldo Bôscoli) chega esperta. A harmonia tem no arranjo um aliado. Monzo, craque que é nos improvisos, cria um supimpa. Os dedos dropam as teclas… altas ondas. Meu Deus!
“Quase Um Adeus” (Luiz Eça e Paulo César Pinheiro) chega solene, com a melodia tocada por Monzo como uma forma de oração, tendo os versos do poeta Paulinho Pinheiro em sua mente. E assim, entre repetições de uma frase melódica, a melodia navega soberana.
A bela “Imagem”, de Luiz Eça e Aloysio de Oliveira, fecha a tampa. Resta, então, a certeza de que Diogo Monzo, por meio de seu piano tão popular quanto erudito, será sempre capaz de multiplicar a mestria de Luiz Eça. Aplausos!
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AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)