CASA PALADINO, UMA VIAGEM NO TEMPO EM QUE O RIO ERA MAIS COSMOPOLITA

Entrar na Casa Paladino é como voltar ao passado

Ontem, depois de uma visita à mostra “Mundo Zira”, exposição que celebra os 91 anos do cartunista Ziraldo, no Banco do Brasil, parei para tomar uns chopps na Casa Paladino.

Já conhecia a casa, fundada em 1906. Eu tinha uma agência de propaganda, na Av. Rio Branco, perto dali.

Como os botequins de antigamente, a casa é uma mistura de armazém e bar. Funcionando no mesmo endereço desde a inauguração – Rua Uruguaiana com a Av. Marechal Floriano, no centro – o lugar parece parado no tempo, conservando o letreiro e as instalações tal qual à época da abertura, com destaque para a registradora, o relógio e as cristaleiras antigas, que exibem as mercadorias vendidas no balcão: vinhos, cachaças, vodkas, azeites e enlatados.

A Casa Paladino é, junto com o Villarino, um dos últimos bares que também são mercearias – um dos mais antigos, a Casa Pardelas, fechou. Outro charme do local são as antigas prateleiras de vinho, as cristaleiras e o pé-direito alto. A casa é um retrato bem preservado da Belle Époque carioca, do tempo em que o caricaturista, desenhista, ilustrador, pintor e professor, Calixto Cordeiro, frequentava o local.
K. Lixto (era assim que ele assinava) colaborou em diversas publicações, entre elas, as revistas Fon-Fon, O Cruzeiro e o jornal Última Hora. Em 1944, fundou, junto com outros artistas

Outros boêmios que recentemente passaram por lá foram o compositor Moacyr Luz, e os  cartunistas Jaguar e o também niteroiense (como K.Lixto) Netto. Trabalhos seus podem ser vistos nas paredes da casa.

A fiel clientela é eclética, reúne jornalistas, cartunistas, poetas, profissionais liberais, funcionários públicos, empresários, boêmios e turistas; ilustres e anônimos, todos personagens das muitas histórias colecionadas pela casa. O bar já foi usado como cenário para novelas, filmes e seriados de época, como o documentário “JK”, da Rede Globo.

O conjunto de atributos fez com que a prefeitura conferisse ao local o título de Patrimônio Cultural Carioca, atestado por uma placa afixada no local.

Logo na entrada, nas prateleiras que formam estreitos corredores, garrafas de vinho se empoleiram até o teto. O cliente pode escolher entre portugueses, chilenos e italianos, há opções para todos os gostos.

Depois de namorar os produtos, garanta uma mesa. “Recebemos de 200 a 300 pessoas por dia, nos dois ambientes do bar”, conta o garçom Aldo, do alto dos seus mais de 30 anos de casa.

A Paladino é famosa pelas saborosas omeletes que valem por uma refeição.  A de bacalhau, a de camarão, a de atum e a mista são as que mais saem. Outra especialidade da casa é o imperdível sanduíche triplo no pão francês recheado com ovo, presunto e queijo. Os bolinhos de bacalhau são deliciosos, crocantes por fora e macios por dentro. Puro bacalhau acompanhado por um azeite especial. 

Para acompanhar essas delícias, nada mais justo que um chope da Brahma geladíssimo.

A Casa já foi comandada por diferentes sócios e, desde 1978, a sociedade atual — composta por quatro amigos — mantém-se firme.

Enfim, entrar na Casa Paladino é como voltar ao passado. O lugar parece parado no tempo, mas o antigo relógio cravado na estante desde 1906, e que funciona até hoje, serve para nos lembrar que ali, como disse o poeta Cazuza, o tempo não para.

EDIEL RIBEIRO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *