Mensagens de Telegram mostram que vazamento de delação de Joesley foi determinante para pressionar J&F a assinar leniência
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Novos trechos da chamada Vaza Jato divulgados nesta sexta (29) mostram que o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, da Lava Jato em Curitiba, interferiu no acordo de leniência do grupo J&F com a Operação Greenfield, que era coordenada pelo procurador Anselmo Lopes no Distrito Federal.
As mensagens reveladas pela jornalista Bela Megale, no jornal O Globo, mostram que Dallagnol foi o mentor de uma cláusula que entrou no acordo de leniência da J&F, determinando que a empresa dos irmãos Batista não poderia fechar nenhum outro acordo com valor superior ao que fora estipulado pelos procuradores da Greenfield.
A cláusula surgiu quando Dallagnol alertou a um colega que assessorava a equipe de Anselmo Lopes sobre a J&F negociar acordos paralelos com as autoridades brasileiras e com agentes dos Estados Unidos. Dallangol estava preocupado. Ele não queria que a força-tarefa saísse com cara de “trouxa” se os americanos levassem uma bolada maior do que os brasileiros.
As tratativas com os americanos foi descoberta após o vazamento do acordo de delação de Joesley Batista vir à tona. As mensagens ainda mostram que esse vazamento foi determinante para pressionar a J&F a assinar o acordo de leniência com o maior valor de toda a história: R$ 10 bilhões.
“Concordo que a leniência tem que ser alta, mas não dá para fechar valores antes dos EUA, sob pena de passar vergonha histórica. Porque fecha aqui por 6 e depois os EUA fecham em 60 e ficamos com cara de trouxa”, disse Dallagnol no Telegram aos colegas procuradores.
Megale disse que a opinião de Dallagnol “foi referendada pelo procurador Andrey Borges de Mendonça, que estava lotado no MPF de São Paulo, mas prestava auxílio direto no Distrito Federal no âmbito da Operação Greenfield.”
“Eu também achei arriscado. Mas só pensei nisso agora (risos)”, disse Mendonça, que participou e assinou o acordo de leniência da J&F com a Greenfield.
Após o diálogo, “foi inserido um parágrafo na leniência da J&F que vetava a empresa de ‘pactuar multas e ressarcimentos em valores superiores ao mencionado no caput desta cláusula sob pena de rescisão do presente Acordo, ou de seu necessário aditamento’”, descreveu Megale.
A jornalista ainda exibiu o trecho onde mostra que o vazamento da delação de Joesley e a ameaça da PGR, em cancelar o acordo, levou o grupo a concordar com a leniência bilionária. “Estão desesperados. Se não fecharem o acordo, acho que quebram. O tempo está contra eles”, disse Mendonça.
No final da história, a multa da J&F com os Estados Unidos ficou em US$ 128 milhões, cerca de 6% da multa imposta no acordo de leniência pela Greenfield. Anos mais tarde, a J&F recorreu à Justiça para rever o valor do acordo com os procuradores do DF, alegando que eles exorbitaram na conta.
Conforme o GGN mostrou aqui, a Greenfield também planejou destinar mais de R$ 2 bilhões da multa para criar uma fundação privada com ajuda da Transparência Internacional Brasil, nos mesmos moldes posteriormente idealizado por Deltan Dallagnol, mas com dinheiro da multa aplicada à Petrobras.
No final de 2023, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu a multa de R$ 10 bilhões da J&F. Toffoli apontou que “há no mínimo dúvida razoável sobre o requisito da voluntariedade da requerente ao firmar o acordo de leniência.”
Andrey disse à reportagem de O Globo que não se recorda dos diálogos capturados e em posse da Polícia Federal após a Operação Spoofing. Alegou ainda que a Greenfield era de responsabilidade do procurador Anselmo Lopes e que ele “apenas “prestava auxílio pontual para a Operação Greenfield”.
Dallagnol, por sua vez, disse que não vê nenhum crime em dar pitaco no acordo de leniência da J&F com a Greenfield, e atacou o ministro Dias Toffoli afirmando que é um “escândalo” ele atuar no caso sendo que sua esposa advogada para a J&F na disputa contra a Paper Excellence pelo controle da Eldorado Celulose. A empresa foi vendida pelos irmãos Batista para fazer frente à multa do acordo de leniência.
LOURDES NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)