CRUZES MARCAM A SEMANA SANTA

A infame e dolorosa morte na Cruz teria surgido na Pérsia de Dario I e Xerxes I, cerca de 500 anos antes do nascimento de Jesus Cristo – e levada ao Mediterrâneo por Alexandre O Grande da Macedônia (356 a.C. – 323 a.C.). Consta que o vitorioso conquistador chegou a mandar crucificar, de uma só vez, dois mil homens do Reino de Tiro – cidade libanesa localizada ao Sul do País dos Cedros.

Os romanos começaram a empregar a crucificação, depois do ano 146 antes de Cristo, com a tomada de Cartago, ao Norte da África, atual Tunísia  – território da histórica Fenícia. E, devido à crueldade do Império Romano, ao sentenciar Jesus Cristo ao flagelo da Via Crucis, e, em seguida, sua crucificação, a Cruz, em vários formatos, se tornaria o maior dos símbolos da humanidade nos últimos dois mil anos. Sendo o episódio recordado, todos os anos, na Semana Santa, que, em 2024, tem início neste fim de semana, com a cerimônia do Domingo de Ramos, celebrando a entrada triunfal de Jesus Cristo na bíblica Jerusalém.

Coube ao Imperador Constantino (272 – 337), que fundou e deu nome à Constantinopla, ao se converter ao Cristianismo, em 313, abolir a condenação por meio do crucifixo. Mais dramático é que, 1.200 anos após o édito de Constantino, o regime japonês dos samurais, no século XVII, impôs a morte na Cruz aos valorosos jesuítas portugueses, que lá haviam desembarcado, a partir de 1560, conduzidos por São Francisco Xavier (1502 – 1556).   

Uma preciosíssima obra da historiadora paulista, Dalva de Abrantes, com o título “Universo Simbólico da Cruz”, publicada no final do ano passado, apresenta uma exaustiva e fascinante pesquisa a respeito das diferentes cruzes do mundo. Algumas presentes até no imaginário de civilizações das Américas, em forma de árvores da vida, desde antes da evangelização do continente.

Debrucei-me por semanas, neste princípio de ano, sobre as 800 páginas do estudo – escrito com rigor acadêmico e leveza literária pela esposa de um caríssimo amigo, Marcos Mendonça, ex-Secretário de Cultura de São Paulo, idealizador da monumental Sala São Paulo. O livro traz praticamente todas as cruzes existentes na face da Terra – e suas respectivas trajetórias. Tenho um carinho muito especial por diversas delas, dentre as quais, destaco a Cruz de Cristo, ou seja, a dos Cruzados Templários – marcante em todas as caravelas lusitanas na Era das Grandes Descobertas (entre os séculos XV e XVIII).

Ressalto também a Cruz dos egípcios Coptas, visível nos bairros cairotas, como o da milenar Shoubra, que tanto prezo, assim como na rica Garden City e na esplêndida Heliópolis, em estilo arquitetônico Art-Déco, bem afrancesado, onde minha querida mãe, Dona Nelly Roustan-Rabay, foi criada e educada no tradicional Colégio Sacrée Coeur. As cruzes Coptas também estão espalhadas no Sudão, a antiga Núbia, com suas colossais pirâmides, ao Norte e ao Sul, semelhantes às dos Faraós.

Estendem-se, principalmente, ainda hoje, à gloriosa Etiópia do mítico Preste João – o rei Cristão da África que, durante a Idade Média, jamais se rendeu aos exércitos muçulmanos. A Cruz Copta de Preste João, conforme ilustra a coluna, foi a ‘bússola’ a indicar o caminho certo ao português Pero da Covilhã (1450 – 1530), natural da cidade do mesmo nome, na Beira Baixa, que atravessou a pé a África até o Reino Etíope, quase às margens do Mar Vermelho.

A Cruz representaria, com efeito, não somente o maior símbolo da humanidade, mas, sobretudo, de determinação sem limites. Como a própria obra de Dalva de Abrantes.     

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)  

Albino Castro é jornalista e historiador   

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