Portugueses desconhecem o teor da denúncia que resultou na renúncia de António Costa e antecipou as eleições; Extrema-direita saiu vitoriosa
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No último domingo (10), a coligação de centro-direita Aliança Democrática venceu as eleições antecipadas de Portugal, após uma disputa acirrada com o Partido Socialista, conquistando 77 assentos do Parlamentos, enquanto o principal adversário ficou com 75 assentos.
No entanto, analistas políticos já cravaram que o grande vencedor da disputa eleitoral foi o Chega, legenda de extrema-direita liderada por André Ventura, que quadruplicou de tamanho em apenas quatro anos: de 12 parlamentares, o partido agora tem 46.
Para comentar o atual imbróglio político de Portugal, o programa TVGGN 20H contou com a participação de José Sócrates, ex-primeiro-ministro de Portugal entre 2005 e 2011.
Sócrates explicou os bastidores de um conluio do judiciário para pôr fim à gestão do António Costa, do Partido Socialista, devido a um inquérito criminal que visava o então primeiro-ministro.
Em novembro, o chefe de gabinete e o melhor amigo de Costa foram presos. “Foram libertados dias depois. Mas a verdade é que essa intervenção do ministério público levou à demissão do primeiro-ministro, à dissolução da assembleia da República e à constituição de novas eleições“, conta Sócrates.
O ex-primeiro-ministro comenta, porém, que o momento mais difícil do governo é o meio do mandato, que não houve nenhum erro judicial que levasse à destituição de António Costa e que a intervenção do ministério público português serviu apenas para reconduzir a direita ao poder.
“Quando o ministério público ganha as eleições, é essa a cara que tivemos em Portugal: a vitória da extrema-direita. Em Portugal, não foi a extrema-direita que ganhou, foi a direita democrática. Mas a extrema-direita tem, pela primeira vez, 18% [dos votos] e de certa forma fica com a chave da governabilidade, porque a direita não tem maioria no parlamento e não conta com a esquerda para fazer maioria, mas pode contar com a extrema-direita”, observa o convidado.
Inquérito obscuro
O resultado do pleito foi apertado. A direita levou a melhor por uma diferença de cerca de 50 mil votos, segundo Sócrates.
O que chama a atenção no processo, porém, é a falta de debates sobre as ações da Justiça lusitana na mídia e na sociedade. “Não sabemos sequer qual é a acusação do primeiro-ministro, não sabemos qual é a suspeita. Nós basicamente não sabemos nada. O que sabemos é que houve buscas e o problema realmente em Portugal é que não se discute isso, porque parece que há um tabu em que qualquer intervenção de uma autoridade judicial não se deve sequer discutir. Deve estar acima do julgamento dos mortais, em contato com qualquer divino e, portanto, a sua palavra, a sua ação deve ser absolutamente livre de qualquer discussão política.”
Até o maior interessado, o Partido Socialista, não se opôs à intervenção ilegítima do ministério público, mesmo diante da obrigação de disputar novas eleições em circunstâncias desfavoráveis, devido ao dano de imagem causado à gestão de António Costa.
Por isso, Sócrates define o resultado do pleito como “o dia em que o ministério público ganhou as eleições de Portugal“, tendo em vista que o judiciário se colocou acima da vontade popular. “Essa regra é que as legislaturas duram quatro anos, não o tempo que o MP acha que deve durar”, pontua o ex-primeiro-ministro.
Assista a íntegra:
CAMILA BEZERRA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Jornalista