MOTOR DA ECONOMIA DE 2023 PARA 2024

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Após o PIB crescer 2,9% em 2023, puxado pela expansão de 15,1% na agropecuária e de 8,7% na Indústria Extrativa (minérios e petróleo & gás), que, junto com os serviços industriais de utilidade pública (água e esgoto, energia elétrica, gás e coleta e reciclagem de lixo e resíduos) compensaram a retração em construção (-0,5%) e na indústria de transformação (-1,3%), garantindo expansão de 1,6% para o PIB industrial em 2023, a largada para 2024 mostrou o motor rateando nos dois segmentos que garantiram 1,3 ponto percentual na taxa geral de 2,9% no ano passado. Poderão os setores que cresceram menos em 2023 impedir uma desaceleração do PIB acima de 2% em 2024?

O Itaú está prevendo aumento de 1,8% no Produto Interno Bruto deste ano, mas com “viés de alta”. O Bradesco está apostando numa elevação de 2%, mas a análise de conjuntura da LCA Consultores, que identificou o forte peso das commodities agrícolas e minerais ligadas à exportação (e mais imunes ao garrote dos juros altos sobre o consumo), não comunga do mesmo otimismo e manteve (por enquanto) a previsão de que o PIB só vai crescer 1,5% em 2024.

Em janeiro, extrativa larga mal

A pesquisa Industrial de janeiro do IBGE mostrou a indústria largando mal em 2024, com queda de 1,6% frente a dezembro (+0,2%). E foi a retração de 6,3% na indústria extrativa que derrubou o desempenho industrial, ao lado da queda de 5% na indústria alimentícia. Em janeiro de 2024, 19 dos 25 ramos industriais cresceram e seis tiveram retração. No primeiro mês de 2023, a indústria como um todo recuou 0,3%, com a atividade extrativa encolhendo 1,8% e a produção da indústria alimentícia se reduzindo em 2,1%.

Mas setores que custaram a aquecer os motores na indústria deram continuidade à recuperação em 2024. A indústria petroquímica cresceu 7,9% em janeiro, a produção de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos avançou 13,7%, a de veículos automotores, reboques e carrocerias (4,0%) e a de máquinas e equipamentos 6,4% (o que precisa ser confirmado nos meses seguintes como indício da retomada dos investimentos induzidos pela nova política industrial para a reciclagem energética).

Esse efeito gangorra na economia – a LCA espera que a agropecuária recue 0,8% este ano e a indústria extrativa cresça 5% (contra 8,7% em 2023), mas com forte recuperação de 2% na indústria de transformação, que amargou queda de 1,3% no ano passado e avanço de 0,7% na construção, que encolheu 0,5% no ano passado. O setor de Serviços (67% do PIB) deve repetir a expansão de 2,4% do ano passado.

O efeito combinado da retomada da construção e dos investimentos será o de apenas reverter a queda de 3,0% na Formação Bruta de Capital Fixo, que traduz a taxa de investimento (que resulta em maior produtividade e competividade da economia) em taxa neutra (0,0%).

LCA justifica sua cautela:

“Em 2024, no entanto, as “locomotivas” do ano passado não deverão alcançar o mesmo desempenho. A agropecuária deverá ter um ano menos brilhante – ainda que a safra deva ser a 2ª maior da história, será menor que a de 2023, levando a uma contração do PIB do setor. E mesmo que a perspectiva para a indústria extrativa mineral siga positiva, diante da continuidade do crescimento da extração de petróleo e gás natural, a expansão deverá ser menor. Um regime pluviométrico menos favorável também deverá prejudicar o desempenho de SIUP, pois é provável que haja acionamento de termelétricas ao longo do ano”.

“Outros fatores deverão restringir o crescimento do PIB em 2024. A Argentina, ainda um parceiro comercial importante, especialmente de produtos industriais, deverá registrar recuo relevante da demanda doméstica por conta da terapia anti-inflacionária de choque introduzida pelo novo governo”.

“Também o carregamento estatístico para este ano é pequeno: se o PIB atravessar 2024 no mesmo nível (dessazonalizado) que atingiu no 4º trimestre de 2023, a comparação 2024/2023 revelará alta de apenas 0,2%”.

Investimento externo reage

As transações correntes (balança comercial + serviços e renda de capitais) do balanço de pagamentos foram deficitárias em US$ 5,1 bilhões em janeiro de 2024, abaixo dos R$ 54, bilhões previstos pelo mercado e com redução de US$ 3,9 bilhões frente ao déficit de US$ 9,0 bilhões em janeiro de 2023. O saldo comercial aumentou US$ 3,5 bilhões no período, com US$ 4,4 bilhões em 2024 contra US$ 884 milhões em janeiro de 2023; o déficit em serviços cresceu US$ 882 milhões; e o déficit em renda primária diminuiu US$ 1,2 bilhão.

O déficit em transações correntes nos 12 meses encerrados em janeiro de 2024 somou US$ 24,7 bilhões (1,12% do PIB), contra US$ 28,6 bilhões (1,31% do PIB) em dezembro e US$ 49,9 bilhões (2,52% do PIB) em janeiro de 2023.

O déficit na conta de serviços totalizou US$ 3,3 bilhões em janeiro de 2024, aumento de 36,8% em relação a janeiro de 2023. As despesas líquidas com serviços de telecomunicação, computação e informações somaram US$ 829 milhões em janeiro de 2024, ante US$ 183 milhões em janeiro de 2023. A conta de transportes teve despesas líquidas de US$ 1,3 bilhão, recuo de 3,5% relativamente a janeiro de 2023. As despesas líquidas com aluguel de equipamentos totalizaram US$ 795 milhões, aumento de 9,5% na comparação com janeiro de 2023. As despesas líquidas em viagens internacionais somaram US$ 479 milhões, diminuição de 25,3%, com aumentos de 32,6% (para US$ 801 milhões) nas receitas e de 2,8% nas despesas (US$ 1,3 bilhão).

O déficit em renda primária somou US$ 6,3 bilhões em janeiro de 2024, redução de 16,4% comparativamente ao déficit de US$ 7,5 bilhões em janeiro de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 2,5 bilhões, ante US$ 4,0 bilhões em janeiro de 2023. O menor déficit deveu-se fundamentalmente ao aumento das receitas brutas de lucros e dividendos, que totalizaram US$ 2,7 bilhões em janeiro de 2024, contra US$1,4 bilhão em janeiro de 2023. As despesas líquidas com juros somaram US$ 3,9 bilhões, aumento de US$ 305 milhões frente a US$ 3,6 bilhões em janeiro de 2023.

Os investimentos diretos no país (IDP) iniciaram o ano com aumento e ingressos líquidos de US$ 8,7 bilhões em janeiro, contra US$ 6,5 bilhões em janeiro de 2023. Em 12 meses, o IDP líquido acumulou US$ 64,2 bilhões (2,92% do PIB) em janeiro de 2024, cobrindo largamente déficit em conta corrente de US$ 25,565 bilhões em 12 meses. Em dezembro, o saldo acumulado de IFP fora de US$ 62,0 bilhões (2,85% do PIB). Em janeiro de 2023 o saldo em 12 meses fora de US$ 77,1 bilhões (3,90% do PIB).

GILBERTO DE MENEZES CÕRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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