- Mulheres sequer podiam votar no século XIX. Mesmo na civilizada Europa. Inclusive na iluminada França, pátria de filósofos que viraram o mundo de cabeça para baixo, como Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet (1694 – 1778), e Jean-Jacques Rosseau (1712 – 1778). Não votavam no industrializado Reino Unido do escocês Adam Smith (1723 – 1790) – principal teórico do liberalismo econômico. Mas, curiosamente, três extraordinárias mulheres marcariam, profundamente, o século imperial brasileiro.
- A maior, sem dúvida, foi a Imperatriz Dona Leopoldina de Habsburgo (1797 – 1826), natural de Viena, Arquiduquesa da Áustria e Princesa da Hungria e da Boêmia (incorporada à República Checa), casada com Dom Pedro I (1798 – 1834), O Libertador. Ela teria sido determinante para que seu marido proclamasse a Independência do Brasil.
- A segunda, em importância histórica, foi A Redentora Princesa Isabel (1846 – 1921), carioca da gema, neta de Dona Leopoldina, que, corajosamente, declarou, em 1888, o fim da maldita escravidão no Brasil. Seria punida, como retaliação dos latifundiários, com o golpe militar que instituiu a República e mandou ao desterro toda sua família – na qual estava Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias (1822 – 1889), sua genitora, cognominada Mãe dos Brasileiros, esposa de O Magnânimo Dom Pedro II (1825 – 1891), uma mulher deveras inspiradora.
- Nascida na queridíssima Nápoles, capital então do Reino das Duas Sicílias, a quem considero a terceira das grandes mulheres que pontuaram a rica trajetória do País há dois séculos. Dona Teresa Cristina (cuja foto ilustra a coluna) aprendera a amar o Brasil e não suportou o exílio – vindo a falecer, em 1889, em Portugal, no Porto, A Cidade Invicta, justamente no Grande Hotel do Porto, ainda existente, à Rua de Santa Catarina, onde também se hospedava o escritor Eça de Queiroz (1845 – 1900).
- Atribui-se a ela o incentivo à numerosa emigração italiana para o Brasil nos últimos 150 anos. Os napolitanos costumam ser extremamente passionais e a Mãe dos Brasileiros, como seus conterrâneos, entregava-se, perdidamente, às paixões. Uma delas era o Rio de Janeiro – banhada pelo mar, como sua esplêndida Nápoles. O Reino das Duas Sicílias foi estabelecido em 1816, pelo Congresso de Viena, ao decretar a extinção dos reinos de Nápoles (criado em 1282) e da Sicília (fundado em 1130).
- Resistiu até 1861 – quando todos seus territórios foram integrados à nova Itália sob os soberanos piemonteses da Casa de Savoia. Faziam parte das Duas Sicílias nada menos do que sete das atuais 20 regiões italianas: Abruzos, Basilicata, Calábria, Campânia (onde se encontra Nápoles), Molise, Apúlia e Sicília. Nápoles continua a ser uma cidade encantadora. Tenho um carinho muito especial por sua arquitetura e a espontaneidade de seus habitantes.
- Da Baía de Nápoles, nos dias ensolarados, tem-se uma deslumbrante visão do imenso e traiçoeiro vulcão Vesúvio que, no ano 79, depois de Cristo, entrou em erupção e soterrou várias localidades, dentre as quais, a célebre cidade romana de Pompeia. Os herdeiros da Coroa das Duas Sicílias possuem o título de Duque de Castro – localidade ao Norte de Roma, entre as regiões do Lácio e da Úmbria.
- O atual Duque de Castro é Carlos de Bourbon-Duas Sicílias, nascido em 1963, é um dos descendentes de Dona Teresa Cristina – que, quando foi enviada ao exílio, o Reino das Duas Sicílias já havia desaparecido há 27 anos. Sobrevive, porém, na alma e no espírito inconformado dos napolitanos e dos demais povos do Mezzogiorno, ou seja, da Itália meridional. Como detectou o ilustríssimo filósofo napolitano Benedetto Croce (1866 – 1952).
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador