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Caso revelado em mensagens da Operação Spoofing envolveu imóvel da filha, que acabou sequestrado e leiloado por Moro
Os procuradores de Curitiba então liderados por Deltan Dallagnol decidiram fabricar uma denúncia contra Camila Ramos de Oliveira e Silva, filha de José Dirceu, com o intuito de provocar e fazer uma “pressão danada” em cima do ex-ministro, que havia sido preso na Lava Jato sob suspeitas de praticar irregularidades com sua empresa de consultoria. O plano é revelado em mensagens obtidas pela Operação Spoofing e divulgadas nesta terça (16) pela Revista Fórum.
A Lava Jato vasculhou a vida de Dirceu e família e encontrou um imóvel comprado por Camila e seu companheiro, pelo valor de R$ 750 mil. A força-tarefa alegou que ela fez um contrato de R$ 500 mil e embolsou outros R$ 250 mil como “brinde”. A venda foi feita por Milton Pascowitch, investigado da Lava Jato. Os procuradores sustentaram que a transação era uma forma de ocultar repasse de propina em benefício de Camila.
Sergio Moro chegou a rejeitar a denúncia por falta de provas contra Camila, mas na visão dos procuradores, a “filha de mensaleiro” sabia e participava dos supostos esquemas.
“Foi em benefício dela. Ouvi-la na condição de investigada fará uma pressão danada. Ela foi a beneficiada da lavagem“, escreveu no grupo de Telegram o procurador Orlando Martello, ao que o procurador Robson Pozzebom respondeu: “Sim, mas com plena consciência. O homem [Dirceu] vai ficar puto.” Deltan Dallagnol então veio com a ordem para providenciar a denúncia, mesmo que a narrativa ainda não estivesse consolidada com provas cabais. “Paus nela. (…) Não precisa específico. Genérico ta bom.”
À época, críticos mais atentos interpretaram a denúncia contra Camila como pressão para que Dirceu, ex-ministro do governo Lula, fizesse uma delação premiada. A denúncia foi rejeitada por Sergio Moro em 2016, que não viu “provas” de que a filha soubesse que estava sendo beneficiada por suposta transação ilícita. Mas o TRF-4 reformou a decisão e mandou Moro aceitar a denúncia. Em 2018, o imóvel de Camila, sequestrado pela Justiça, acabou leiloado em São Paulo por cerca de R$ 460 mil.
Modus Operandi
Essa não seria a primeira vez que a Lava Jato usa familiares de investigados para fazer pressão psicológica em busca de um acordo de delação premiada. O réu Glauco da Costa Marques, dono do apartamento vizinho ao de Lula em São Bernardo do Campo, também foi pressionado a seguir o script da Lava Jato e acusar Lula de corrupção depois que os procuradores fizeram uma devassa na vida de sua família e encontraram problemas com a Receita Federal. O caso foi retratado nesta matéria aqui.
Leia o diálogo entre os procuradores da Lava Jato na íntegra:
30 Aug 15
23:29:52 Roberson MPF O que acham de denunciarmos a filha do JD por lavagem?
23:30:12 Roberson MPF Acabei de achar comprovante cabal que ela recebeu por fora do MILTON 250 paus
23:30:16 Diogo Que grosso ??
23:30:16 Orlando SP Dá para arquivar… Tô brincando Diogo
23:30:36 Orlando SP ??????????
23:30:40 Orlando SP ??????
23:31:00 Orlando SP Magoei o didi
23:31:12 Orlando SP ??
23:31:20 Orlando SP Boa noite!!!
23:31:24 Roberson MPF Ceis tao tudo de tpm.
23:31:48 Roberson MPF A camila fez escritura de compra e venda por R$ 500 mil, mas recebeu R$ 750
23:32:16 Roberson MPF MIlton e Luiz Eduardo tb ocultaram nos depos os R$ 250 de brinde
23:32:44 Orlando SP E foi em benefício dela.ouvi-la na condição de investigada fará uma pressão danada
23:32:52 Roberson MPF Detalhe que o imovel que o MIlton comprou dela não valia R$ 500 e tinha clausula de inalienabilidade
23:33:16 Orlando SP Ela foi a beneficiada da lavagem
23:33:36 Roberson MPF Sim, mas com plena consciência.
23:34:00 Roberson MPF O homem vai ficar puto!
23:34:12 Deltan Paus nela
23:34:24 Roberson MPF É casada
23:34:28 Roberson MPF rsrsrs
23:34:40 Roberson MPF Mas a o CF diz que não importa
23:35:32 Deltan Ela ajudou a esconder dinheiro de crime
23:35:36 Deltan Resta discutir se sabia que vinha de criem
23:37:48 Roberson MPF Essa prova do conhecimento específico já será mais complicada. Mas brinde ela sabia que não era. Sabia que o pai era mensaleiro.
31 Aug 15
05:54:39 Deltan Não precisa específico. Genérico ta bom. Embora esse seu argumento corte pros dois lados, acho que dá também
LOURDES NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)