UM ANO APÓS O 8/JANEIRO, OS CONSPIRADORES NA ABIN, GSI E COMANDO MILITAR DO PLANALTO SEGUEM INTOCADOS, CRITICA HISTORIADOR FRANCISCO TEIXEIRA

Ministros do STF sinalizaram publicamente que não estão de acordo com anistia para os militares golpistas

Um ano após a tentativa de golpe de Estado encampada por uma horda bolsonarista que invadiu e depredou a sede dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de Janeiro de 2023, o Supremo Tribunal Federal sinaliza que as investigações que já prenderam terroristas em campo vão prosseguir até chegar nos financiadores e nos mentores intelectuais. Mas, até agora, não há avanço nenhum sobre punição para os militares envolvidos na trama golpista.

Até o momento, sabe-se que agentes da Abin, do GSI e também do Comando Militar do Planalto têm muito o que explicar sobre o fracasso do Plano Escudo, que deveria ter protegido o Palácio do Planalto da ação dos terroristas. Mas não se vê empenho nessa direção. A avaliação é do historiador Francisco Teixeira, professor emérito do programa de pós-graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e professor titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Em entrevista ao canal TVGGN, Teixeira disse que além dos agentes herdades do governo Bolsonaro e inclinados ao golpe, é preciso lembrar de “todos os generais, coronéis e, inclusive, ex-ministro da Defesa, que falaram mal das urnas e também defenderam a cloroquina durante toda a pandemia causando um morticínio. Tem muita gente envolvida, mas essas pessoas não foram nomeadas até agora.”

Até agora, na visão do historiador, o inquérito do STF sobre os ato golpistas “está focado em quem invadiu e depredou a sede dos Três Poderes. O braço dessa grande conspiração, que passa pelos órgãos federais – que estava dentro do GSI, da Abin, do Comando Militar do Planalto e do próprio comando do exército, e do comando da guarda presidencial – nenhum desses foi chamado [à responsabilidade] até agora. Ao contrário, continua havendo a ideia de que as instituições civis perseguem os militares.”

Nesta semana, por ocasião do aniversário do atentado de 8/1, o Senado reuniu o chefe dos Três Poderes em um ano para marcar a resistência de democracia. Na oportunidade, o ministro Alexandre de Moraes e o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, fizeram discursos “duros” afastando a hipótese de anistia para os militares golpistas e criticando o velado processo de apaziguamento que parece estar em curso.

“Os militares ficaram muito contrariados com os discursos de Barroso e Moraes, particularmente quando foram comparados ao Nazismo, quando o ministro [Moraes] falou da política de apaziguamento, que sempre acaba em desastres. Isso gerou uma mini crise e ainda não se sabe como que essas investigações sobre os militares vão acontecer.”

Para Teixeira, “o discurso dos ministros do STF essa foram verdadeiramente duros, anunciando o prosseguimento das investigações. Agora, não estamos vendo nada sobre a cúpula do governo do Distrito Federal e sobre aquele corpo que tinha a função – como GSI e Abin – de avisar do risco de atentado à presidência e ao ministro da Justiça. Ou essas pessoas conspiraram ou prevaricaram em seus cargos e são de uma incompetência que não poderiam mais estar onde estão.”

Na entrevista, ele ainda criticou o papel do ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio, que “não entendeu que ele é ministro do governo Lula. Ele acha que é embaixador dos militares. Ele inverteu a mão, ele está trazendo as demandas dos militares.

Assista a entrevista completa abaixo:

Cintia Alves é jornalista especializada em Gestão de Mídias Digitais. Ingressou como repórter no Jornal GGN em 2014, participando da cobertura e produção de documentários sobre a Operação Lava Jato. Atualmente é editora e coordena a produção do canal TV GGN, no Youtube, entre outros projetos.

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