O desaparecimento do Rei Dom Sebastião, O Desejado, aos 23 anos, em 1578, na Batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, ao Norte da capital Rabat, causaria o fim da iluminada Casa de Avis e, pela ausência de um sucessor dinástico, o vastíssimo Império Português, que se estendia das Áfricas e Ásia às Américas, ficaria, por seis décadas (1580 – 1640), ao controle dos soberanos Felipes de Habsburgo de Madri – descendentes, por sua vez, do Bem-Aventurado Dom Manuel I (1469 – 1521).
Felipe II de Espanha passaria a ser o Felipe I de Portugal – seguido por mais dois reis Felipe. Todos eles voltados, principalmente, às Américas, onde eram senhores, quase absolutos, das terras entre os Estados Unidos e o extremo Sul da Argentina – no qual se encontra a Patagônia. Voltados, igualmente, para a Europa Central, regida pelos Habsburgo de Viena, seus primos. Grande parte dos territórios asiáticos portugueses, sob os Felipes, cairiam em poder dos protestantes calvinistas da flamenga República das Sete Províncias (composta pelos atuais reinos da Bélgica e Holanda), que estava em guerra com a católica Espanha.
Os Habsburgo madrilenhos possuíam, na Ásia, as Filipinas, que permaneceriam espanholas até 1898, entretanto, não conseguiram manter, integralmente, o domínio de todas as áreas ‘herdadas’ dos lusitanos no continente.
Só o distanciamento do universo asiático de Felipe III, o Felipe II de Portugal, justificaria a forma fria e desconfiada com a qual recepcionou a histórica expedição do Japão, a célebre Embaixada Ketcho, sob o comando do jovem Samurai Hasegura Tsunenaga, que chegou ao antigo porto de Sevilha, em 1614, a bordo do Date Maru – construído especialmente para aquela missão.
A comitiva nipônica, que partiu do cais de Nagasaki, cidade fundada pelos portugueses, no século anterior, tentou, em vão, por sete anos, uma parceria comercial com o Império Espanhol – envolvendo, sobretudo, o intercâmbio com a Nova Espanha, isto é, o México. Os japoneses já haviam negociado com os lusos na Ásia e imaginaram, erradamente, encontrar em Madri as mesmas atenções que lhes eram dispensadas pela Coroa de Lisboa.
Mas a Espanha se recusou a fazer qualquer aliança com um país que havia expulsado os portugueses e passado a perseguir os próprios japoneses convertidos pelos missionários jesuítas do venerável São Francisco Xavier (1506 – 1552), O Apóstolo do Oriente – espanhol do Reino de Navarra e um dos instituidores, junto a Santo Inácio de Loyola (1491 – 1556), da Companhia de Jesus. São Francisco Xavier, enviado à Ásia pelo Império Português, é considerado, com justiça, o maior conversor do Catolicismo – mais, inclusive, do que São Pedro e São Paulo.
O Samurai Tsunenaga desembarcou primeiro no porto mexicano de Acapulco, no Oceano Pacífico, prosseguindo, depois, para a Cidade do México, onde foi convencido a navegar até Sevilha e buscar um acordo, diretamente, com Felipe III. Contudo, não foi, sequer, recebido pelo monarca. Foi, então, aconselhado a uma conversão dos membros da expedição ao Cristianismo – o que aconteceu. Porém, o rei não se comoveu e, após de anos perorando uma parceria que possibilitasse o comércio com a colônia mexicana, a comitiva voltou ao Japão, amargando a negativa de Madri. Mesmo assim, os convertidos da missão nipônica persistiram na nova fé e muitos de seus descendentes seriam duramente acossados pelo regime dos compatriotas.
Ao resgatar sua Independência da Espanha, em 1640, Portugal procurou restabelecer os laços com o Oriente – recuperando regiões na Índia, China, Malásia e atual Indonésia. Mas, com o Japão, as relações só foram normalizadas no século XX. Melhor tarde do que nunca.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL/ PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador
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