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Em 2018, juíza substituta da 13º Vara Federal de Curitiba deferiu pedidos em favor dos procuradores da extinta força-tarefa
Diálogos da Operação Spoofing, obtidos com exclusividade pelo GGN, mostram que a juíza Gabriela Hardt, então substituta da 13º Vara Federal de Curitiba, era adepta do modus operandi lavajatista promovido pelo ex-juiz Sergio Moro e os procuradores coordenados por Deltan Dallagnol.
Conversas de novembro de 2018 indicam que houve tratativas ocultas entre Hardt e procuradores, que buscavam penalizar acusados da Lava Jato por meio de provas obtidas de maneira ilegal.
Em um desses diálogos, no dia 1 de novembro daquele ano, um procurador identificado como “Paulo”, apontado como Paulo Roberto Galvão, questiona se deveria conversar pessoalmente com a magistrada que havia assumido a 13º Vara para cobrar decisões “pendentes”, já que “todo mundo” estava comentando que a Lava Jato “iria acabar” e era preciso “mostrar trabalho”. Dallagnol, então, sugere uma reunião com a juíza.
No dia seguinte surge um outro diálogo dos procuradores em referência às novas fases da operação pendentes de decisão. O procurador identificado como “Athayde”, possivelmente Athayde Costa, afirma que uma reunião agendada para o dia 30 daquele mês já teria sido confirmada, havendo a concordância de Hardt para a deflagração de nova fase da força-tarefa.
Athayde ainda conta ter consultado pessoalmente a magistrada e que obteve de antemão uma decisão favorável da juíza sobre um pedido de busca e apreensão, que ainda não teria sido formalizado.
No mesmo diálogo, a procuradora Jerusa Viecelli afirma que duas fases da operação precisavam ser deflagradas ainda em 2018 e Dellagnol diz que irá se reunir com a juíza na semana seguinte.
Um mês depois, em 19 de dezembro, Dallagnol confirma o então “sucesso” das tratativas e afirma que Hardt estaria cobrando o Ministério Público Federal (MPF) para que fossem ajuizadas as tais denúncias.
Os diálogos foram expostos ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela defesa do empresário Márcio Pinto de Magalhães, ex-representante da empresa Trafigura no Brasil, que sofreu ordem de bloqueio de bens e valores de Hardt à época.
Em março, as conversas já haviam sido avaliados pelo então juiz titular da 13º Vara, Eduardo Appio, que suspendeu a decisão da magistrada, que teria demonstrado “animosidade” com os acusados do processo e “associação” com os integrantes da extinta força-tarefa.
Já em meados de setembro, a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) anulou todas as decisões de Appio à frente da 13ª Vara. A defesa de Magalhães chegou a protocolar uma representação contra a conduta de Hardt na corregedoria do Tribunal, mas o caso foi arquivado de forma liminar.
Na última terça-feira (19), o ministro do STF, Dias Toffoli, declarou nula as decisões da Correição Parcial do TRF-4, que havia suspendido as ordens de Appio em favor de Magalhães. O ministro reconheceu que TRF-4 não respeitou o devido processo legal e suprimiu o direito de ampla e prévia defesa de todos os envolvidos no tal processo.
No final de setembro, Toffoli já havia anulado a suspeição de Appio. Contudo, em outubro, diante dos embates no Tribunal, o juiz pediu sua remoção para a 18ª Vara Federal de Curitiba (PR).
ANA GABRIELA SALES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)