O documento é histórico, aponta para uma Igreja que se dispõe a ouvir o mundo à sua volta em um ponto que somente ela pode fazer: abençoar aqueles que a buscam
Vocês certamente irão ouvir falar sobre estas duas palavras, e ao ouvi-las, irão ver católicos reacionários de extrema direita estrebuchando de raiva! Fiducia Supplicans, do Latim, significa “implorando bênçãos” ou numa tradução mais alargada “pedindo atenção”. E é sobre isso que este importante e raro documento vai falar.
Fiducia Supplicans é o nome de uma orientação geral emitida pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, nome novo do antigo Santo Ofício, (aquele da inquisição) com aprovação do papa Francisco que fala sobre a questão da benção. Em um resumo muito apertado, o documento defende uma coisa meio óbvia. Diz que: “uma benção não pode ser negada a quem dela precisa e principalmente, quem venha a pedir”.
Dentro da Igreja Católica, a função do Dicastério para a Doutrina da Fé é “promover e tutelar a doutrina católica sobre fé e moral. Assim sendo, o documento que raramente é feito (o último dessa natureza foi escrito no ano de 2.000), diz literalmente que aquele que pede para ser abençoado “se mostra necessitado da presença salvadora de Deus em sua história”, faz “um pedido de ajuda de Deus, uma súplica por uma vida melhor”.
Este documento é um marco histórico, onde aponta para perspectiva de uma Igreja que se reconhece inserida neste tempo e lugar, onde não impõe sua visão de mundo, antes, se dispõe a ouvir o mundo à sua volta em um ponto que somente ela pode fazer: ABENÇOAR AQUELES E AQUELAS QUE A BUSCAM.
Neste sentido, a Declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre o significado das bênçãos, se abre a um drama vivido por muitas pessoas. Ser atendido num pedido, não raramente desesperado de ACOLHIDA EM UM MOMENTO DE DOR E ANGÚSTIA, ou de COMEMORAÇÃO E ALEGRIA, através de uma benção.
E isso atinge agora, a possibilidade de abençoar o que a Igreja chama de “casais irregulares”, ou seja de pessoas que vivem juntas, mas não estão dentro dos conceitos pastorais que a Igreja Católica disponibiliza para aqueles que vivenciam a fé cristã dentro do rito católico.
Deste modo, mesmo casais do mesmo sexo, podem ser acolhidos nesta benção. Ou casais de segunda união (ou terceira, ou quarta….) O entendimento é óbvio, embora gerará, por parte dos que se acham titulares exclusivos do amor de Deus, muitos descontentamentos.
Por mais estranho que possa parecer, existem muitas pessoas que, ao se dizer defensoras da fé e representantes de Deus na Terra, assumem também uma outra função que não parece ser uma prerrogativa ofertada pelo próprio Deus: O de tutelar a Benção que é sabidamente exclusiva de DEUS, já que a bênção é sempre terceirizada com um DEUS TE ABENÇOE e não um EU TE ABENÇOO. Embora, nesta segunda condição, seja necessário um complemento arriscado… EM NOME DE DEUS!
É assim que muitos sequestram de uma vez só, DEUS, A BÊNÇÃO E O PODER que é, segundo os próprios sequestradores da fé alheia, obra do próprio DEUS! A coisa é tão complexa que existem supostos representantes divinos, que dizem que DEUS fala com elas cotidianamente, igual eu falo com meus amigos na rua. Daí, suponho, sai dessas conversas estranhas, não testemunhadas por ninguém que Deus lhes concede o poder de abençoar em nome próprio, aquilo que somente Deus poderá fazer…
Por estas razões todas, entre outras, o Dicastério para a Doutrina da Fé, emite este documento esclarecendo que a bênção, é um dom gratuito de Deus e não uma moeda de troca. Importante também deixar claro que a benção, por ser um dom gratuito, a Igreja DEVE disponibilizar a todas as pessoas.
Isso não significa aprovar nem desaprovar suas escolhas de vida. Isso não compete aos homens, sejam eles sacerdotes ou leigos. Significa que através do documento a Igreja quer estar aberta a todos e todas que dela queiram se socorrer e que venham “pedir atenção” ou ainda “suplicar benção”.
Reiterando que a benção ofertada não substitui, nem imita os ritos próprios dos sacramentos cujas funções permanecem inalteradas, assim, a benção não é uma imitação do sacramento do matrimônio, mas uma constatação de que todos aqueles e aquelas que desejarem ser abençoados por Deus, devem ser acolhidos e acolhidas pelos representantes da Igreja em suas alegrias e dores.
Fiducia Supplican é o aprofundamento da reflexão e da perspectiva real, solidária e afetiva que Papa Francisco expõe na Encíclica “Evangelii gaudium”: “A Igreja não é uma alfândega, é a casa paterna onde há lugar para cada pessoa com sua própria vida fadigosa”.
Afinal, conforme orienta o próprio Jesus Cristo em Mateus 7,9-12
9. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? 10.
E, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? 11. Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem. 12. Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a Lei e os profetas.
TONINHO KALUNGA ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)