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Os terroristas foram bem sucedidos com o arcabouço fiscal e a meta de déficit zero para 2024, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
A arma do mercado é o terrorismo. Por isso mesmo, no início do ano, todas as previsões catastróficas sobre a economia não foram erros de cálculo, como se imagina, mas ameaças calculadas para não fugir dos cânones do mercado. Ou seja, os terroristas foram bem sucedidos com o arcabouço fiscal e a meta de déficit zero para 2024, segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Não se tire o mérito do Ministro da Fazenda Fernando Haddad. Aproveitou o empurrão do mercado para avançar na aprovação de uma reforma tributária histórica e na tributação de setores até agora inexpugnáveis pelo fisco.
Mas não conseguiu desmontar a cidadela que o mercado levantou no Banco Central. A manutenção da queda de 0,5 ponto da Selic mostrou que a militância política de Roberto Campos Neto prosseguirá até o término do seu mandato. Qualquer dirigente técnico já veria elementos mais que suficientes para acelerar a queda da Selic: preços caindo, juros internacionais estabilizando, melhoria na avaliação das agências de rating, sinais positivos dos grandes investidores internacionais. Enfim, o quadro ideal de estímulo ao investimento financeiro – ainda que à custa do desestímulo ao investimento real, como demonstrou a última projeção do PIB do Banco Central. Mas, como bom bolsonarista, Campos Neto criou sua realidade paralela, alimentando o sonho de se tornar o Ministro da Fazenda do candidato que vier a substituir seu herói, Jair Bolsonaro.
Sempre é bom recordar que o período de maior crescimento das últimas décadas – 2004-2008 – foi alimentado pelo crédito abundante.
Lula termina o ano com nível de aprovação superior ao de desaprovação, e não é pouco para quem assumiu com mercado, Congresso e militares jogando contra. Mas o grande desafio será no primeiro semestre de 2024, quando se verão, na prática, os efeitos de uma Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) sem déficit fiscal. Segundo todas as avaliações independentes, apenas um crescimento imprevisto da economia impediria cortes expressivos no orçamento.
De qualquer modo, Lula terá condições de conduzir uma política macro, sem depender tanto do Congresso. Esta semana reuniu o Ministério para uma avaliação de desempenho. Os dois critérios adotados – exposição pública e comparação entre viagens internas e externas – não significam nada. Mas a reunião mostra a intenção de começar a chacoalhar o governo.
As últimas campanhas da Secom mostraram o mote básico do modelo Lula: o de agregar o maior número de pessoas. O caminho mais universal será o de juntar o Brasil produtivo, empresas, trabalhadores, cooperativas, agricultura familiar em torno do mote produção.
Haverá uma curiosa adesão da mídia. Ontem, o Estadão – conhecido pelo exercício permanente de só enxergar erros no governo – abriu a primeira página com uma visão extraordinariamente otimista sobre 2024. A razão – explícita no contexto da manchete – é a de preparar o ambiente para captar a publicidade dos lançamentos imobiliários. Como se sabe, é o setor mais sensível ao estado de espírito do consumidor.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)