- Tenho um carinho especial, desde criança, pela Noite de Natal, entre 24 e 25 de dezembro, mais do que pelo meu próprio aniversário, 10 de maio, comemorado, quase sempre, festivamente, porém, sem grandes reflexões – ao contrário do abençoado natalício de Jesus Cristo. Lembro-me mais dos presentes e ceias de Natal, ao longo destes 74 anos, do que das velinhas assopradas.
- O presente de Natal, que jamais esqueci, ganhei em 1954, quando tinha cinco anos e morávamos à Rua Gabriel Soares, número 46, próximo ao centro de Salvador, onde nasci, em 1949. Foi uma sugestão de minha querida mãe, Dona Nelly (1929 – 2008), então com 25 anos, e comprado por meu, igualmente, querido pai, como eu, de nome Albino (1926 – 1979).
- Era um espetacular trator, de cor laranja, com estrutura de velocípede, que resistiu anos às investidas aos diversos obstáculos de nosso quintal. E a ceia que me marcou aconteceria no Natal de 1990, no Mont Liban, bem próximo à Terra Santa, já no final da Guerra Civil no País dos Cedros (1975 – 1990), na região do Batrum, na trincheira mais avançada dos territórios controlados pelos cristãos das Forces Libanaises – organização criada em 1976 por Béchir Gemayel (1947 – 1982) para rechaçar a tentativa de islamização da nação. Era uma noite muito fria de inverno e a ceia ocorria em meio aos derradeiros embates contra os muçulmanos e seus poderosos aliados – as tropas de ocupação do regime da Síria.
- Os defensores cristãos desciam ao bunker, no qual estávamos, rezavam, jantavam e voltavam à luta. Emocionado, rodeado de tantos jovens, rapazes e moças, fiz a leitura, em francês, das orações, do Pai Nosso e a Ave Maria, de mãos dadas com os combatentes, e pedi a Deus que não permitisse nunca o desaparecimento da Cruz do Cristianismo do sagrado Monte Líbano.
- Por isso, com as recordações natalinas, anualmente, nesta época, dedico a coluna Mundos ao Mundo a uma das veneráveis Nossa Senhora cultuadas no planeta. Desta vez, rendo homenagem e apreço à Nossa Senhora da Conceição – Padroeira de Portugal, Brasil, com o título de Nossa Senhora Aparecida, e de toda a Lusofonia. Será, com todas as honras, a nossa soberana neste Natal de 2023.
- Um ano dolorosamente marcado pelo conflito no Leste europeu, abrangendo a Rússia e a Ucrânia, ambas nações cristãs, e por uma nova guerra no Oriente Médio, na região da Faixa de Gaza, enclave palestino entre o Egito e Israel, envolvendo os extremistas islâmicos do Hamas e o estado judaico. Os festejos de Nossa Senhora da Conceição – ou Concepção – têm início no dia oito de dezembro – data consagrada à Protetora portuguesa.
- Glorificado com grande devoção também em Salvador, primeira capital do Brasil. A metrópole baiana possui uma esplêndida Igreja de Nossa Senhora da Conceição que, lá, é denominada Nossa Senhora da Conceição da Praia – vizinha ao antigo Guindaste dos Padres, atual Elevador Lacerda, na parte baixa da histórica cidade da América Portuguesa.
- A propósito, o Príncipe Regente Dom João VI (1787 – 1826), O Clemente, ao passar por Salvador, em 1808, com a Família Real, a caminho do Rio de Janeiro, assistiu a uma Missa na Igreja da Imaculada. Ela é Imaculada, acima de tudo, pelo dogma da Igreja, segundo o qual, a Virgem Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção. Que os queridos leitores desta coluna tenham uma Santa Noite de Natal abençoada pela Imaculada Conceição. E que, aqui, e em toda a Terra, os cristãos possam celebrar, livremente – sem ter que se esconder nas catacumbas, como nos primórdios, para fugir à intolerância religiosa.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador