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Sua “relevância” na América do Sul é conhecida: garantiu manutenção de ditaduras militares assassinas e foi apoiador da Operação Condor
A estética do cancelamento não chegou a tempo para punir Henry Kissinger. O político norte-americano se despediu deste plano agraciado com termos elogiosos como “gênio”, “sábio”, “estrategista”, “intelectual”, “acadêmico”, “estadista”, “líder”, “referência” e “amigo”, entre outros.
Henry, que nasceu Heinz na Alemanha e chegou aos Estados Unidos com quinze anos fugindo do nazismo com a família, foi herdeiro de uma doutrina que colocava os interesses do seu país de adoção acima de qualquer coisa, inclusive vidas humanas. Mais que isso, ajudou a desenvolver mecanismos para que os resultados práticos dessa doutrina fossem os mais efetivos desde o estabelecimento da Democracia na América (que Alexis de Tocqueville nos perdoe a menção irônica). Posou para fotos e vídeos sob a luz, mas sua zona de interesse era nas sombras ou na escuridão total, cenário em que se movimentou com mais desenvoltura, como fazem os morcegos e talvez com os mesmos objetivos.
Se fez amigo de inimigos da democracia, mas nesse fingimento, tal qual o poeta pessoano, simulou que era por interesses nacionais algo que já se misturava à sua essência.
Sua “relevância” na América do Sul é conhecida: garantiu ascensão e manutenção de ditaduras militares assassinas e foi apoiador da Operação Condor, um Mercosul do terrorismo de Estado.
Mas seu aval a genocidas e genocídios não se limitou ao quintal dos Estados Unidos: foi globalizado – anos antes de a expressão entrar na moda.
Não obstante sua ficha corrida, foi agraciado em 1973 com o Prêmio Nobel da Paz.
Depois de anos defendendo as causas norte-americanas, tornou-se “consultor”, oferecendo a seus clientes serviços baseados em seu aprendizado como homem público.
Porém, não foi esquecido pelo mundo político. Xi Jinping, por exemplo, enviou mensagem ao governo dos Estados Unidos lamentando a morte do ex-secretário de Estado.
Não erra quem diz que Henry Kissinger foi o último “grande homem” de uma estética diplomática que está chegando ao fim. Talvez tenha insistido em permanecer como fóssil vivo de um sistema-mundo que nem existe mais. Seu desaparecimento, porém, não garante dias melhores à humanidade: nada indica que as políticas e os políticos do futuro sejam mais democráticos e igualitários.
FELIPE BUENO ” PORTAL OBSERVATÒRIO DA GEOPOLÌTICA”/ ” JORNAL GGN”
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.