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Mais jornalistas de veículos ocidentais se rebelam contra cobertura tendenciosa pró-Israel e desdenhosa ao massacre contra palestinos
Oito jornalistas da BBC baseados no Reino Unido escreveram uma carta à Al Jazeera para denunciar o preconceito do meio de comunicação na sua cobertura do conflito na Faixa de Gaza, Palestina, e a priorização das vidas civis de certas nacionalidades em detrimento de outras.
Esta é a mais nova manifestação de jornalista do Ocidente que denunciam a cobertura enviesada e parcial de veículos de imprensa. O escritor e jornalista Jonathan Cook afirmou , no começo deste mês, que os jornais ocidentais se portam como “assessores de imprensa” de Israel e dos Estados Unidos.
Nesta semana, a escritora e poeta Anne Boyle pediu demissão da The New York Times Magazine, suplemento dominical encartado à edição do The New York Times, por considerar que o veículo aborda com “eufemismos” o massacre de palestinos na Faixa de Gaza.
Para os jornalistas da BBC, os “duplos pesos e duas medidas” do veículo são claramente evidentes na sua visão dos civis e na sua recusa em aplicar pensamento crítico às declarações de Israel, ao mesmo tempo que permanece “inabalável” na sua cobertura alegados crimes de guerra atribuídos aos militares russos na Ucrânia.
A carta aponta ainda que enquanto a BBC humaniza as vítimas israelenses, desumaniza os palestinos.
“As atualizações de notícias e artigos não incluem sequer algumas linhas do contexto histórico crucial da ocupação de 75 anos, a Nakba [ expulsão de centenas de milhares de palestinos cujas terras foram expropriadas pelos israelenses entre 1947 e 1949] ou o número assimétrico de mortes ao longo de décadas”, resumem os jornalistas sobre a cobertura da BBC.
Na opinião dos jornalistas, “parece que alguns funcionários da BBC e repórteres seniores não têm tanta empatia pelos palestinos como têm, por exemplo, pelos civis ucranianos”.
Outro coautor da carta, entrevistado pela Al Jazeera sob condição de anonimato, confessou que se sentiu “enojado com a perda sem sentido de vidas civis” durante a ofensiva do Hamas e que a cobertura da BBC contribuiu para a ansiedade de muitos deles, especialmente jornalistas negros que sentem diariamente o racismo e preconceito.
“Também senti uma série de receios sobrepostos de que a cobertura do meu empregador, a BBC, falharia no seu dever de desafiar suficientemente esta resposta [israelense] ou de fornecer um contexto adequado sobre a ocupação de décadas [dos territórios palestinos]”, contou ele.
Pedido de anonimato
Os autores da carta pediram anonimato por medo de represálias contra eles. Não planejam enviar o texto aos executivos da BBC: acreditam que a medida não levaria a discussões significativas e que a cobertura do meio de comunicação é indevidamente influenciada pelas posições dos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos.
“A BBC não conseguiu contar esta história com precisão – através da omissão e da falta de foco crítico nas declarações de Israel – e, portanto, não conseguiu ajudar o público a envolver-se e a compreender as violações dos direitos humanos que estão a ocorrer em Gaza”, escreveram eles na carta.
“Milhares de palestinos morreram desde 7 de Outubro. Quando é que o número será suficientemente elevado para mudarmos a nossa posição editorial?”, perguntaram.
O número de palestinos mortos na Faixa de Gaza, no meio de ataques das forças israelenses, ultrapassa os 14.500, incluindo pelo menos 6 mil crianças, os jornalistas listam na carta.
Massacre: palavra reservada só ao Hamas
“No entanto, palavras como massacre e atrocidade são reservadas nas plataformas da BBC exclusivamente ao Hamas, enquadrando o grupo como o único instigador e perpetrador da violência na região. Isso é impreciso, mas é condizente com a cobertura geral da BBC”, esclareceram os jornalistas.
Na carta, argumentam que embora a BBC, em nenhum momento, procura encobrir a ofensiva “horrível e devastadora” do Hamas, os jornalistas sublinham que o ataque do grupo contra os israelenses “não justifica a morte indiscriminada de milhares de civis palestinos”.
“Apelamos à BBC para que reflita melhor e se refira às conclusões baseadas em evidências de organizações humanitárias oficiais e imparciais”, afirmaram os autores da carta, instando o meio de comunicação a “garantir que o tratamento igual de todos os civis seja a base da sua cobertura”.
Com informações da Al Jazeera
RENATO SANTANA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)