A ARGENTINA INDO MAL, A CONTA IRÁ PARA MAURÍCIO MAGRI

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

“É a forma de não sair da cena política e Macri pagará o preço”, escreve Denise Assis

Até o dia 10, quando Alberto Fernández, atual presidente da Argentina, passa a faixa para Javier Milei, os argentinos ficarão “no ar, antes de mergulhar”. O depois, o mergulho, não se sabe a que profundidade, mas certamente virá. 

O perfil do “vizinho maluquinho”, de Milei, caiu como uma luva para os desesperançados portenhos, afogados em dívidas, ávidos por dólares e descrentes de uma melhora imediata no que tinham na mão. Resultado: Massa perdeu para Massa. 

Era de se prever – em que pese o seu brilhante desempenho no último debate -, que em algum momento os argentinos debitariam as suas agruras na conta de alguém. E, bastava olhar em volta e todos os indicadores apontavam em uma única direção: Massa, o ministro da Fazenda. Massa era uma “dicotomia ambulante”. O candidato bem-sucedido e o ministro malogrado.

Foi mesmo uma verdadeira façanha que conseguisse atingir tamanha aceitação, numa dissociação da imagem dele, de si mesmo, e conseguisse chegar a 44% dos votos, sem que a população se desse conta de que havia algo de errado em seu desempenho. Não. Não o da campanha. Perfeito, bem-vestido e bem penteado, com um discurso tranquilizador, mas o que atendia, ainda, no ministério, onde a inflação galopava para a casa dos 140% na data da eleição.

Sem dúvida, no balanço das horas tudo pode mudar. Inclusive os votos. E foi o que aconteceu, levando à Casa Rosada um showman, sem passado, sem programa, sem trajetória na política. Sem perspectiva, mas o “novo”. O mesmo “novo” que jogou o Brasil nas mãos do velho e viciado “político” na mais ampla acepção do termo. Bastou dividir o cabelo mais para o lado, arrepiar o discurso com frases bombásticas e tudo parecia dissociado do meio que ele frequentou durante 28 anos antes de ir morar – e depredar – o Alvorada. Novinho em folha, (conseguiu convencer no papel), sem nada dentro, exceto a volúpia pelo poder e o dinheiro, ele chegou lá.

Milei também chegou, mas ele, sim, uma folha em branco. Certamente quando bateu a porta do quarto e foi dormir eleito – não importa se com a irmã ou os cachorros, esta não é a questão -, é possível que ele tenha desabado na cama e se perguntado: e agora? Bolsonaro tinha um plano. Daria o golpe e, rodeado pelos amigos militares, entregaria o comando para eles tocarem, enquanto ele viajaria por praias paradisíacas pilotando motos aquáticas. Nesse intervalo, entre o plano vingar ou não, deu a chave ao síndico Ciro Nogueira (PP-PI), que se sentiu muito confortável no papel. Tocou de ouvido, auxiliado pelas manobras radicais do general Ramos, que facilitou as coisas destinando uma “bolada” para os deputados ratearem entre si e “cooperarem”, como contou Kim Kataguiri (União-SP), em vídeo exibido nas redes. Tudo fluiu, mas com desfecho lúgubre. O país entendeu que “o novo” custa caro. Buscou porto seguro na história vivida de Lula da Silva.

Ao perder fragorosamente o debate, Milei já tinha as cartas na manga. Engatou a ré, modelou o discurso e cedeu. Encontrou o rumo e a segurança que nunca teve, nas histórias dos que ele um dia detratou: Ricardo Macri (Juntos Pela Mudança) e Patrícia Bullrich (Proposta Republicana). Dois dias depois de aparecer atrás da preferência do eleitorado no primeiro turno, reuniu-se com o ex-presidente e somou aos seus votos os que a coligação de Macri havia amealhado. A mesma coisa se deu com Bullrich, que carreou para ele os seus votos. 

Não só. Emprestaram-lhe a credibilidade de que não desfrutava junto ao empresariado e à burguesia mais sisuda, que se escondia por trás de um fenômeno descrito na teoria da ciência política e da comunicação de massa, (cunhada em 1977 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann) a “espiral do silêncio”. Neste modelo de opinião pública, a ideia central é que os indivíduos omitem sua opinião quando conflitantes com a opinião dominante devido ao medo do isolamento, da crítica. Exatamente como ocorreu aqui, com os bacanas da Faria Lima e o seu entorno, que até a votação de Bolsonaro escondiam o voto, por envergonhados da opção.

Agora, quando Milei já anuncia uma lista de ministeriáveis e a cortina se fechou, o que mais ninguém tem dúvida é que, apesar de ele afirmar a todo lado que não fará um “governo de coalizão”, pois tal como o parvo daqui, repete como a um mantra: o poder “c’est moi”, sabe-se que Macri é a garantia de que se nada for bem, a conta irá para ele, pois será a sua iminência parda. É a forma de não sair da cena política e Macri pagará o preço.

Enquanto isso, Milei espalha cartas de Tarô sobre a mesa presidencial, dialoga com o espírito do seu cachorro e faz a lista de convidados, encabeçada por ninguém menos que ele, o inelegível, e sua entourage. A saber: madame “moedas”, o rachadinha e o bananinha, impreterivelmente.

DENISE REIS ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

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