- Restaurado o Nordeste brasileiro à Coroa de Lisboa, em fevereiro de 1649, após a célebre Batalha dos Guararapes, às portas de Recife, no município ao lado da Praia de Boa Viagem, os invasores holandeses e seus aliados portugueses, de religião judaica, expulsos de Pernambuco, seguiriam rumo ao Norte das Américas e, precisamente, na ilha que batizaram de Manhattan, fundariam a Nova Amsterdam – atual Nova York.
- Os próprios judeus se encarregariam de intermediar, pouco depois, a venda de Nova Amsterdam aos ingleses, em troca de mais liberdade de culto, porque os dirigentes locais eram menos tolerantes que o então Governador do Nordeste, o conde alemão Maurício de Nassau (1604 – 1679), fiel protetor da comunidade semita. E, assim, a Nova Amsterdam virou Nova York – em referência à cidade setentrional da Inglaterra. Nova York manteve sempre, contudo, uma forte ligação com os batavos. Ainda hoje, em seu downtown, ou seja, na parte baixa da metrópole, região antiga, existem nomes de ruas que homenageiam a criação do primeiro povoado.
- Uma delas é dedicada a Maurício de Nassau. É vizinha à Ponte do Brooklin, que, aliás, é outra palavra holandesa. Algumas de suas tradicionais famílias possuem sobrenome, igualmente, dos Países Baixos. Uma delas é a dos Roosevelt, que só no século passado, embora de ramos diferentes, deu dois presidentes aos Estados Unidos: o republicano Theodore Roosevelt (1858 – 1919), chefe de estado de 1901 a 1909, e o democrata Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945), ocupante do poder de 1933 até a morte.
- Ambos estiveram muito próximos do Brasil. Theodore Roosevelt chegou a embrenhar-se pela Amazônia adentro, na companhia do brasileiro Marechal Cândido Rondon (1865 – 1858), em 1914, numa heroica aventura para identificar a rota de um curso de água não mapeado, chamado Rio da Dúvida – cuja nascente fica em Rondônia. O flume terminou por ser denominado como Rio Roosevelt. O feito ganharia um livro, “Through the Brazilian Widerness”, com diversas edições aqui sob o título simplesmente de “Nas Selvas Brasileiras”. Várias publicações sobre a expedição foram produzidas nestes últimos anos.
- Destaco duas delas: “O Rio da Dúvida – A Sombria Viagem de Roosevelt e Rondon pela Amazônia”, da americana Candice Millard, em 2005, e “Rondon – Uma Biografia”, de outro americano, o jornalista Larry Rohter, tradução lançada em 2019, no Brasil, antes mesmo da edição em inglês. Rohter mereceu no cotidiano “Valor” uma primorosa resenha escrita pelo jornalista Ricardo Lessa – de quem sou amigo. Já o outro Roosevelt, o Franklin Delano, tornara-se próximo do ditador Getúlio Vargas (1882 – 1954), convencendo-o a entrar na Segunda Guerra (1940 – 1945), aliado aos Estados Unidos, para combater na Europa o nazifascismo.
- A vinda de Roosevelt ao Brasil, em 1943, passando pelo Rio Grande do Norte, e Rio de Janeiro, receberia também uma obra, em 2012, “Roosevelt e Vargas em Natal”, de autoria do jornalista Roberto Muylaert – que, entre os anos 1980 e 1990 comandou com raríssimo brilho a direção de programação da TV Cultura de São Paulo. Ilustra esta coluna o histórico registro do encontro em Natal, quando Roosevelt e Getúlio conversam alegremente, num jipe sem capota, conduzido por um oficial dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Os Roosevelt, provavelmente, descendentes das famílias fundadoras de Nova Amsterdam, foram dois dos três nova-iorquinos, de nascimento, que alcançaram a presidência americano. O terceiro seria Donald Trump – de 2017 a 2021.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador