A MORTE DE CLÁUDIO BARDELLA, UM HOMEM DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

Uma das últimas lideranças industriais do país, Bardella ajudou a consolidar indústria de base brasileira no período pós-ditadura

A morte de Cláudio Bardella significa o fim de uma das últimas lideranças industriais pós-ditadura.

O período de Ernesto Geisel, especialmente o I e II Plano Nacional de Desenvolvimento, permitiu a consolidação da indústria de base no país. 

Ainda nos estertores da ditadura, surgiu uma brava liderança democrática entre esses capitães-de-indústria. Foi o caso de Cláudio Bardella, Severo Gomes, entre outros.

Quando a ditadura terminou, o país tinha indústrias do porte da Máquinas Bardella, Cobrasma, do ex-presidente da FIESP Luiz Eduardo Vidigal, as Indústrias Romi, a Lorenzetti, ao lado de grandes multinacionais, perfeitamente integradas à economia brasileira.

A Indústrias Bardella foi fundada em 1911, e forneceu equipamentos para importantes projetos de infraestrutura, como as refinarias da Petrobras e as hidroelétricas de Santo Antônio e Jirau.

Assim como outras indústrias de base, a crise das Indústrias Bardella foi causada por uma combinação de fatores, incluindo a piora da economia brasileira, a redução de investimentos em infraestrutura e os efeitos da Operação Lava Jato. 

A empresa também foi afetada pela concorrência de empresas estrangeiras, que passaram a oferecer produtos e serviços mais competitivos, especialmente devido ao profundo processo de apreciação do câmbio, iniciado com o Plano Real e mantido nos governos FHC e Lula.

A empresa entrou em recuperação judicial em 2019.

À medida que o setor foi desmoronando, Bardella se recolheu. Sempre foi um líder influente, mas discreto. Sua participação política se dava no âmbito da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e das reuniões empresariais fechadas.

Nos últimos tempos, a Bardella começou a reconquistar alguns contratos.

Não se sabe qual o destino da indústria de transformação brasileira. Mas Cláudio Bardella não viveu para saber.

Por José Amaro Ramos

Atras do mito da mao invisivel do mercado, do mito do poder criativo da livre concorrencia a verdade é que as grandes empresas modernas do Ocidente e do Oriente sao fruto da soma de dois fatores:
-a vontade nacional no exercício de alcançar um status de Grandeza ( como enunciou DeGaulle no aforisma “Ils sont grand parce que ils l’ont voulu devenir grand”, citado hoje num artigo de Bolivar Lamounier no Estadao)

A mão do Estado, incorporado do principio acima, e gerando os meios para o desenvolvimento tecnologico que assegure essa grandeza…

E isso é feito sem que os arautos do capitalismo bursístico o percebam.

Na decada de 60 os Estados Unidos deram dinheiro a jovens para que desenvolvessem tecnologias que gerariam meios para a primazia nacional: os ” meninos” que receberam fundos publicos para desenvolver softwares que vao gerar a Microsoft, a Google e a Apple.

Na Europa DeGaulle incentiva o Estado a botar dinheiro na Thales ( exThomson CSF), na Dassault ( dando pedidos vultosos ao Eng Marcel Dassault, desde o jatinho Paris aos modelos Mystere, Mirage e Rafale).

Aqui, fora a persistencia de Montenegro e FAB com com Embraer, e o esforço de Alvaro Alberto e Othon Pinheiro ( sempre perseguidos por misteriosas forças que o Estado brasileiro procurava nao perceber e nao contrar…) na Marinha nada mais teve continuidade. Empresas como Cobrasma, Mafersa, Bardella Boriello, ade Mathias Machline e tantas investiram e se viram desamparadas pelo mesmo Estado que os incentivou a se endividarem em busca da grandeza nacional. Getulio, JK e Geisel estabeleceram objetivos nacionais na busca dessa grandeza, para verem tais objetivos se esboroarem na mediocridade de Dutra, na pirotecnia vazia de Janio e nos esbulhos nacionais de Sarney, Collor e Temer.

Por João Furtado

Um comentário sobre Bardella. O II PND foi um desenho monumental e uma realização catastrófica. Ali ruíram as nossas esperanças de sermos um país de verdade. Repito, não pela concepção, mas pela realização. O Estado empurrou Bardela, Vidigal e Villares para uma expansão gigantesca e deixou-os pendurados no pincel e sem escada.

O ressentimento do empresariado estatista tem nesse episódio um componente forte. Desde então, o oportunismo empresarial com relação ao estado aumentou, junto com o cinismo daqueles que dizem seguir orientações ou diretrizes e não o fazem.

O restabelecimento de relações de confiança entre os poderes públicos e os capitalistas (eu não uso empresários) é fundamental para a reconstrução do país. E não falo da reconstrução das ruínas do Temer-Bolsonaro, falo da derrocada que começou após o II PND.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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