UM BRASIL NOSTÁLGICO DA FRANÇA

  • Descendo de típicas famílias que vieram refazer suas vidas no Novo Mundo, precisamente, no imenso Portugal das Américas – o querido Brasil de meus ancestrais vindos do Velho Mundo. Meu saudoso pai (1926 – 1979) era espanhol e herdei dele, para além de seus rigorosos cânones ibéricos maçônicos, inspirados nos valores republicanos da Franc-Maçonnerie, nome e sobrenomes no registro brasileiro de nacionalidade. Chamo-me, por isso, como ele, Albino Castro. Minha adorável mãe, Dona Nelly (1929 – 2008), era franco-húngara-libanesa, famílias cristãs orientais e, portanto, profundamente vinculadas, comme il faut, ao universo da Francofonia.
  • Um de nossos ascendentes, o lendário Raza Roustan (1783 – 1845), cujo retrato ilustra esta coluna, chegou a ser por 10 anos o chefe da guarda pessoal do Imperador Napoleão Bonaparte (1769 – 1821). Nascido em Tbilisi, capital da Georgia, numa família proveniente da Armênia, ambos países do Cáucaso, Roustan é um de meus sobrenomes maternos. O outro é Rabay, de origem húngara, que, no idioma dos amados magiares, significa, literalmente, Ribeiro.
  • Cresci num ambiente marcadamente entrelaçado com os princípios da Revolução Francesa, de 1789, que deu liberdade política e de culto a todos os povos – batendo-se, no Proche Orient, ou seja, no Oriente Médio, não só pelos direitos dos Cristãos Orientais – como os Roustan e Rabay. Mas também pela então enorme diáspora judaica – expulsa, cruelmente, da Terra Santa pelos invasores romanos no Primeiro Século de nossa Era comum. Igualmente, fui criado com a clara consciência que a França e a Francofonia amam muitíssimo o Brasil.
  • Desde os primeiros anos da presença portuguesa, deveras, os franceses sempre cá estiveram. Inclusive com o estabelecimento da Colônia França Antártica, na Baía de Guanabara, que existiu de 1555 a 1570, fortemente apoiada pela guerreira tribo indígena dos Tamoios – sob o comando do francês de linhagem huguenote, Nicolas Durand de Villegagnon (1510 – 1571), Cavaleiro da Ordem de Malta, fundador, a rigor, do Rio de Janeiro, La Ville Merveilleuse, A Cidade Maravilhosa. Seria transformada em capital do Brasil, dois séculos depois, em 1763, e, posteriormente, elevada a Metrópole do Império Português, com o desembarque, em 1808, da Corte da Rainha Dona Maria I (1734 – 1815), A Piedosa, e de seu filho, o Príncipe Regente, Dom João VI (1767 – 1826), O Clemente.
  • Os bonapartistas, por ironia, causaram a fuga da Corte – ao ocuparem Portugal. A França, porém, se reabilitaria diante da própria Sereníssima Casa de Bragança, quando o pintor romântico parisiense, Jean-Baptiste Debret (1768 – 1848), membro da Missão Artística Francesa, no Rio de Janeiro, desenhou, a pedido do Imperador Dom Pedro I (1798 – 1834), após a Proclamação da Independência, em 1822, a exuberante bandeira brasileira. Predominantemente verde, a cor dos Bragança, e amarela, dos Habsburgo vienenses da Imperatriz Leopoldina (1797 – 1826).                  
  •  Quatro personagens de língua francesa se notabilizariam no Brasil no século passado. Dois eram antropólogos, Pierre Verger (1902 – 1996), nascido em Paris, e o belga de Bruxelas Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009). Um terceiro, historiador, Ferdinand Braudel (1902 – 1985), natural da região de Mosa, e o outro, um exímio fotógrafo e mestre na direção de documentários: Jean Manzon (1915 – 1990), parisiense, marcou época com reportagens na revista semanal “O Cruzeiro” – sempre presente à minha casa durante a infância e adolescência. Vivo até hoje intensamente a Francofonia, sobretudo na biblioteca de nosso apartamento na paulistana Avenida Higienópolis. Preservando e honrando a memória de meus antepassados.             

ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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