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No programa “Política da Veia”, Luis Nassif e Cláudio Couto abordam o empoderamento das milícias que levam terror ao RJ
Um dos temas abordados no programa Política Na Veia [assista abaixo] desta terça-feira (24), na TVGGN, foi a evolução das milícias do Rio de Janeiro, que nesta semana protagonizaram uma série de incêndios a ônibus e o caos à população do estado.
O jornalista Luis Nassif, que compõe a bancada de analistas do programa, elencou alguns pontos que ajudam a esclarecer a causa dos ataques intensificados, que têm relação direta com a herança deixada pelo governo de Jair Bolsonaro.
Um deles foi o poder de uma declaração, proferida por Jair Bolsonaro ao programa Pânico, da Jovem Pan, enquanto pré-candidato à presidência. “Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de ser ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, relembrou Nassif parafraseando o discurso de Bolsonaro.
Já no exercício do mandato, Bolsonaro determinou o afastamento do superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, em 2019. Em fevereiro deste ano, porém, Saadi passou a atuar como diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da PF, por indicação do governo Lula.
“[Bolsonaro] Afastou a fiscalização do Porto de Itaguaí, por onde entra o contrabando de armas, deslocou a Polícia Rodoviária Federal a uma outra região, [realizou] investimento em Angra dos Reis ao mesmo tempo em que as milícias de Rio das Pedras começavam a ir para lá. Isso é uma herança direta do bolsonarismo”, acrescentou Nassif.
O caso Marielle e o controle das milícias
Para ilustrar com um caso recente, o cientista político Cláudio Couto, que também integra o programa Política Na Veia, citou o poder do executor de Marielle Franco, Ronnie Lessa, que conseguiu construir uma estrutura de autoproteção no âmbito da Polícia Civil, o que garantiu o funcionamento do chamado “escritório do crime”, grupo especializado em assassinatos por encomenda do qual ele foi um dos principais membros por muito tempo.
“Ele é oriundo do BOPE e da Polícia Militar e chegou a ser, durante um tempo, um adido da Polícia Militar na Polícia Civil. Esse adido de uma polícia dentro da outra começou a estabelecer vínculos, laços, uma rede de relacionamentos naquele lugar (…) Imagino que Ronnie Lessa não seja caso único”, apontou Couto.
Controle total do crime organizado
O problema, segundo Nassif, se encontra no “nó que se formou na inteligência que localiza os chefões, [que] mata ou prende. A partir daí, a milícia, que era uma, se reparte em várias. São os grupos que disputam a hegemonia, que é o que ocorre na Bahia e no Rio de Janeiro. Em São Paulo não ocorre porque tem um pacto entre o governo de SP e o PCC”, ironiza.
“Agora, isso é terrível: toda ação que entra de intervenção [militar no Rio], quem sofre é a população civil. O MPF já agiu rapidamente para fiscalizar, porque o [MP] do estado não fiscaliza. Chegamos ao nível em que, para conseguir paz, precisa fazer acordo com o crime organizado. O Brasil está numa situação quase irreversível de perda de controle do crime organizado”.
Couto reforçou a opinião do jornalista ao dizer que é “mais do que perda de controle, mas controle total do crime organizado em algumas situações”. Nesta segunda (23), por exemplo, durante pronunciamento do governador Cláudio Castro, foi dito que o crime organizado não se imporia ao estado. Mas segundo Couto, “já se impôs”.
“É uma política que vem há muitos anos, mas é uma política que basicamente atua de forma cosmética no combate a esse tipo de organização. Inclusive, porque é amplamente sabido, por meio de documentos e reportagens, que há um imbricamento profundo entre essas organizações criminosas e o estado do Rio de Janeiro, que é tomado, permeado pelas milícias. As polícias civil e militar, particularmente a militar, mas a civil também, são contaminadas por essas milícias”.
O programa
O programa POLÍTICA NA VEIA é transmitido sempre às terças, ao vivo, no canal do GGN no Youtube, a partir das 11 horas. Participam do programa os jornalistas Luis Nassif (GGN) e Sergio Lírio (CartaCapital), e o cientista político Cláudio Couto (Fora da Política Não Há Salvação). Confira a playlist com todos os episódios aqui.
Assista ao programa completo desta terça (24) pelo link abaixo, que também discutiu o que se espera do 2º turno na Argentina, disputado por Javier Milei e Sergio Massa.
CARLA CASTANHO ” JORNAL GGN” ( BRASIL)