Juiz que começou a abrir a caixa preta da Lava Jato não teve outra alternativa: vai para a 18a. Vara Federal de Curitiba, sem reconhecimento de culpa
O juiz Eduardo Appio voltará à atividade como juiz, mas não na 13a., que foi de Sergio Moro. Ele irá para a 18a. Vara, que é previdenciária.
Perde a sociedade, porque, em três meses, Appio foi o juiz que começou a abrir a caixa preta da Lava Jato.
Ao encontrar indícios de irregularidades graves em processos que eram mantidos em sigilo por Moro, depois por seu sucessor, Luiz Antônio Bonat, e pela substituta Gabriela Hardt, Appio encaminhou os casos para o Supremo Tribunal Federal, onde Sergio Moro, como senador, tem foro por prerrogativa de função.
Um desses casos foi o de Rodrigo Tacla Duran, que denunciou ter sido extorquido por advogados ligados a Moro e à deputada federal Rosângela Moro.
Outro caso foi o do empresário Tony Garcia, que havia relatado à juíza Gabriela Hardt e a uma procuradora da república ter sido usado, ilegalmente, como agente infiltrado de Moro.
Eduardo Appio reabriu o inquérito que Moro havia arquivado sobre os abusos cometidos pela Polícia Federal no caso da contadora Meire Poza, também usada ilegalmente como agente infiltrada.
Eduardo Appio foi a autoridade que encaminhou ao Conselho Nacional de Justiça o levantamento preliminar sobre indícios de desvios das verbas bilionárias recolhidas pela Lava Jato em acordos de leniência.
Por conta dessa representação, o ministro Luiz Felipe Salomão determinou correição na 13a. Vara Federal e também na 8a. Turma do Tribunal Regional Federal da 4a. Região. Relatório preliminar da Corregedoria apurou que a gestão financeira da Lava Jato foi caótica, e abriu investigação contra Moro, a juíza Gabriela Hardt, e os desembargadores João Pedro Gebran Neto, Loraci Flores de Lima e Marcelo Malucelli.
Appio deveria receber um prêmio por esta importante iniciativa em favor da Justiça, mas o que ganhou foi o afastamento da 13a. Vara Federal, decidido pelo TRF-4, sem que ele tivesse direito à defesa.
O TRF-4 usou um telefonema dado ao filho de Marcelo Malucelli e gravado pela filha de Moro para afastar Appio. O telefone parecia um trote, em que uma voz parecida com a de Appio dizia que Marcelo Malucelli estava aprontando.
A corte administrativa do TRF-4 decidiu pelo afastamento de Appio. Gabriela Hardt reassumiu interinamente a titularidade da 13a. Vara e reviu decisões de Appio.
Gabriela também acabaria removida, depois das denúncias de Tony Garcia de que a juíza prevaricou no caso da denúncia de uso como agente infiltrado, e das investigações da Corregedoria Nacional de Justiça.
Appio estava sem seu telefone e notebook funcionais e proibido de entrar no Fórum da Justiça Federal de Curitiba. Também teve redução de salário. A volta à atividade, só que em outra vara, era a única saída para recompor as finanças pessoais, já que Appio vive exclusivamente da magistratura.
Na reunião de conciliação desta quarta-feira, Appio aceitou pedir a remoção, desde que não houvesse reconhecimento de culpa no caso do telefonema gravado pela filha de Moro. A condição foi aceita.
Luiz Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, foi o mediador. O presidente do TRF-4, Fernando Quadros, participou e teve uma posição de diálogo, segundo apurei.
A corregedora do TRF-4, Vânia Hack de Almeida, também participou da reunião de conciliação.
Com a saída de Appio, perdem também aqueles que têm processo sob a jurisdição da 13a. Vara Federal.
Se um lavajatista continuar no posto – o interino Fábio di Martino chegou a assinar carta de apoio a Moro no passado e recolocou uma série de processos sob sigilo –, ficará mais difícil saber toda a verdade sobre os abusos da Lava Jato.
JOAQUIM DE CARVALHO” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)