A contadora Meire Poza, que trabalhou para Alberto Youssef, quer depor no inquérito que apura a denúncia de que foi usada por policiais federais da Operação Lava Jato como agente infiltrada. O delegado da PF Márcio Anselmo, um dos principais envolvidos no caso, pediu o arquivamento do inquérito. Os advogados de Meire Poza se manifestaram depois que a notícia foi publicada pela Folha de S. Paulo. Leia a nota, na íntegra:
Os advogados de Meire Poza, Gustavo Turbiani e Daniel Bragagnollo, esclarecem que sua cliente sempre colaborou com as investigações da Operação Lava Jato, fornecendo informações e documentos sempre que lhe era solicitado.
No âmbito dessa colaboração, sempre seguiu as orientações que lhe eram dadas pelos integrantes da força-tarefa da Operação, dentre as quais a desnecessidade de, àquele tempo, constituir advogado.
Meire já esclareceu esses fatos em diversas oportunidades, inclusive no âmbito de ação penal que tramitou na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba/PR. Naquele feito, juntou mensagens trocadas com integrantes da Operação, as quais fazem prova do quanto foi por ela narrado.
No que toca à investigação em curso, instaurada para apurar a conduta de determinados integrantes da Operação, esclarece-se que Meire nunca teve acesso a estes autos, tampouco foi intimada para prestar quaisquer esclarecimentos. Somente veio a saber de sua existência na presente data, em razão de notícia veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo. De qualquer forma, como sempre o fez, está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos que estiverem ao seu alcance.
Meire Poza apresentou ao TRF-4 cópia das mensagens que trocou com os policiais federais durante os primeiros meses da operação Lava Jato. Elas não dão margem à dúvida de que Meire era uma agente infiltrada, embora não tivesse acordo de colaboração.
Uma das mensagens revela que a operação de busca e apreensão em seu escritório em São Paulo foi uma farsa. Meire já havia entregue as notas fiscais à Polícia Federal, e denunciado Alberto Youssef antes mesmo do início da Lava Jato.
O documentário “Um juiz fora da lei – Os crimes de Moro e a máfia de Curitiba” mostra a troca de mensagens pelo WhatsApp entre Meire Poza e o agente da PF Rodrigo Prado, que trabalhava com Márcio Anselmo. A busca e apreensão foi combinada.
“O que eu faço com esses cheques? Tô numa tremenda saia justa”, escreve Meire. “Segura eles”, responde Prado. “Vamos buscar tudo isso semana que vem. Não dá nada para ninguém, enrola até semana que vem. Inventa uma desculpa na segunda-feira dizendo que não deu e que vai depositar na terça. Terça cedo estou aí. Importante isso, Meire. Reta final”, responde Prado.
“Eu sei. Por isso, estou preocupada”, comenta Meire. “Já vai separando tudo que você acha importante”, diz, por sua vez, o agente da PF. “Já está tudo separado”, afirma a contadora de Youssef. Aí ela pede a Prado que a apreensão seja feita de maneira discreta: “Prado, sem viatura e sem roupa preta. Por ser?”
“Isso não depende de mim. Mas vou levar sua solicitação a quem decide”, diz o policial. “A viatura, o Márcio tinha prometido que não viria”, recorda Meire.
Prado afirma: “Vou pessoalmente para garantir que não terá confusão”.
“Legal”, finaliza Meire.
O advogado da contadora, Gustavo Turbiani, observa que o uso de Meire como agente infiltrada foi um abuso da Lava Jato, logo em seus primeiros meses de atividade. “É algo que não existe no nosso ordenamento jurídico a figura de um agente civil infiltrado. Não deixa de ser mais uma das ilegalidades cometidas pelos investigadores, pelos integrantes da Lava Jato, sem que isso tenha efetivamente sido apurado, e as pessoas tenham sido efetivamente responsabilizadas por isso”, assinalou.
Meire denunciou o abuso ao próprio Sergio Moro, depois que sofreu represálias por ter contado sobre a colaboração ilegal ao delegado e escritor Romeu Tuma Júnior, que publicou o relato no livro “Assassinato de reputação II”, em 2016.
Moro não tomou nenhuma providência para apurar a denúncia de abuso e, além disso, arquivou o inquérito que tinha sido aberto em São Paulo a partir de depoimento dela no Ministério Público Federal.
O inquérito arquivado estava sob sigilo até que Eduardo Appio o encontrou na 13a. Vara, retirou o sigilo e determinou a reabertura do caso. A decisão de Appio foi em maio. Alguns dias depois, ele foi afastado pelo TRF-4, sem direito à defesa.
Meire foi indiciada, mais tarde denunciada pela Lava Jato e condenada por Moro. A contadora também teve o escritório incendiado, e até hoje não se sabe quem colocou fogo. Ela também não conseguiu reaver o celular apreendido na operação de busca e apreensão forjada.
No aparelho, segundo ela, estavam gravações que realizou a mando da PF, e a troca de mensagens com os policiais. Estas, porém, também estavam salvas na nuvem e, por conta disso, foram copiadas e entregues num processo com recurso de uma outra parte sob análise do TRF-4.
A exemplo de Moro, o tribunal também silenciou quanto à denúncia de abuso. O inquérito da PF é a oportunidade para que a verdade venha à tona.
Meire tem as atas notariais que dão autenticidade às mensagens trocadas com os policiais federais, e seus advogados podem entregá-las aos policiais.
As atas confirmam que ela foi recrutada pelo delegado Márcio Anselmo, policial da confiança de Sergio Moro. E, na época, Meire comparecia clandestinamente à sede da PF, sem advogado, conforme orientação do delegado. E chegou até a participar da festa de comemoração do primeiro aniversário da Lava Jato.
JOAQUIM DE CAVALHO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)