O CASO THATCHER E O COMÉRCIO DE SANGUE HUMANO: O “VAMPIRISMO” QUE ARRUINOU VIDAS

No filme O Conde, alegoria satírica aproxima em ambiente de terror Augusto Pinochet e Margareth Thatcher (interpretada por Stella Gonet, na foto), vampiros aliados quando chefes de suas nações. Foto: Divulgação

Contribua usando o Google

Margaret Thatcher sabia desde 1983 do risco para os pacientes de contaminação com o vírus da aids pelo plasma sanguíneo importado

Margaret Thatcher é uma vampira sanguinária e intimamente ligada à versão latina do Conde Drácula, Augusto Pinochet. Juntos, viverão pela eternidade saudosos de suas ações desumanas, devorando corações e bebendo o sangue de gente inocente. Assim o cineasta chileno Pablo Larraín retrata duas personalidades obscuras do século XX em seu filme de sátira e terror, O Conde (2023). 

Larraín constrói uma alegoria que, ironicamente e de forma involuntária, aproxima a chamada “Dama de Ferro” britânica do comércio de sangue humano, em episódio envolvendo sua gestão como primeira-ministra do Reino Unido. O assunto veio à tona com a iniciativa do Congresso Nacional brasileiro de autorizar o mercado do sangue no país.

O governo conservador de Margaret Thatcher sabia desde 1983 do risco para os pacientes de contaminação com o vírus da aids pelo plasma sanguíneo importado dos Estados Unidos, quando o caso veio à tona, em 1987, mas não proibiu as importações para evitar uma escassez, denunciou em maio de 2007 o jornal “The Guardian”.  

Depois de anos de protestos e pressão pública, uma investigação vem recolhendo evidências de pessoas afetadas pelo escândalo desde 2019 enquanto a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado no Brasil aprova uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pretende legalizar esse mercado de sangue no país, a PEC 10/2022 ou a PEC do Plasma.  

Até os dias de hoje, nem a indústria farmacêutica tampouco a NHS (National Health Service, o SUS Britânico), admitem culpa no episódio, mas novas investigações seguem em curso e as vítimas reivindicam justiça e reparação. 

Conforme a BBC News, entre 1974 e 1987, mais de 120 crianças da Lord Mayor’s Treloar’s College, colégio particular para crianças com necessidades especiais no condado de Hampshire, no sul da Inglaterra, receberam tratamento para hemofilia em um centro de saúde dentro da escola. O centro era administrado pelo Serviço de Saúde do Reino Unido.

Cerca de 5 mil doentes foram contaminados com hepatite C, e 1.200 contraíram aids após receberem plasma de sangue importado. Desde então morreram cerca de 3 mil pacientes, mas o número pode ser maior. No caso da escola em Hampshire, pelo menos 72 crianças morreram após receberem um medicamento contaminado com HIV e hepatite viral. 

Governo sabia do perigo

Segundo as minutas de uma reunião em julho de 1983, obtidas pelo jornal, o Comitê sobre Segurança dos Remédios do Reino Unido conhecia o perigo representado pelo plasma sanguíneo doado por grupos de risco de áreas de alta incidência de aids, como Nova York e Califórnia.

Mesmo assim, o comitê chegou à conclusão de que o risco de contrair aids era menor que o benefício das transfusões para os hemofílicos. Além disso, alegou que suspender a importação não era viável, porque afetaria o abastecimento. Decisões que em conjunto causaram o pior desastre sanitário do Reino Unido.

Os hemofílicos britânicos não foram informados dos riscos das transfusões, portanto seguiram com o tratamento normalmente. Pacientes contaminados e críticos afirmam que, se informados, muitos doentes teriam preferido continuar o tratamento que recebiam antes.

O plasma Fator VIII foi fabricado com sangue de 10 mil doadores remunerados dos Estados Unidos. Muitos deles eram presidiários ou mendigos. Em 1975 já se sabia que o grupo apresentava maior risco de hepatite tipo C.

Thatcher e as ligações perigosas

Thatcher foi uma veemente apoiadora do regime militar de Augusto Pinochet no Chile. Desde que assumiu o cargo de Primeira Ministra, ela suspendeu uma série de embargos que o Chile havia sofrido após o golpe em 1973. 

O Reino Unido voltou a exportar crédito para o Chile, restabeleceu a venda de armas, reabriu a embaixada no país (o Chile estava sem embaixador britânico desde 1973) e encerrou o programa de refugiados do regime chileno, que buscavam na Inglaterra fugir da sentença de morte que era viver no Chile se opondo ao regime de Pinochet. 

Em 1971, quando Thatcher ainda era Secretária de Estado para Educação e Ciência durante o governo Edward Heath, uma de suas medidas mais controversas foi o corte da distribuição de leite gratuito para crianças entre 7 e 11 anos de idade. 

O período Thatcher foi também decisivo para a desindustrialização definitiva do Reino Unido. A Dama de Ferro reduziu drasticamente os postos de trabalho na indústria, causando demissões em massa nas fábricas. Com o desinvestimento, as indústrias foram sucateadas. Então surge a necessidade de “recuperar a indústria”, essa medida seria o início da completa privatização do setor concluída em 1988.

Com informações da BBC News, G1 e Soberana

RENATO MACHADO ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *