O RIO DE JANEIRO CONTINUARÁ DOMINADO PELAS MILÍCIAS ?

CHARGE DE AROEIRA

O crime organizado executa pessoas, sem se importar com câmeras ou testemunhas, num bairro chique do Rio de Janeiro, sem a menor cerimônia

A matança no Rio de Janeiro chocou o país.

O triste é constatar que uma combinação perversa – entre a penetração do crime organizado na política brasileira e a radicalização acéfala da direita – impede que a sociedade se una para dar um basta.

Sim, chacinas acontecem com frequência absurda e sem sempre chamam a mesma atenção. Essa diferença é própria de uma sociedade capitalista, hierárquica, desigual como a nossa.

Jornalistas e autoridades se colocam mais facilmente no lugar das vítimas, pessoas de classe média, profissionais de nível superior. Quantos de nós já não foram tomar uma cerveja com colegas, de noite, depois de um evento?

O fato de que uma das vítimas era irmão de uma deputada federal, que sofre constantes ameaças por causa de seu trabalho corajoso, despertando a suspeita de crime com motivação política, também atrai atenção.

As investigações ainda vão avançar, mas parece que foi mesmo um erro dos pistoleiros, que confundiram um dos médicos com um miliciano. (Os perfis “de esquerda” que recusam liminarmente esta hipótese, abraçando variadas teorias da conspiração com base em evidência nenhuma, são irresponsáveis.) E que os assassinos já foram mortos, desta vez pelo Comando Vermelho, que não gostou da atenção que o crime atraiu.

Seja como for, uma coisa está clara: o crime organizado executa pessoas, sem se importar com câmeras ou testemunhas, num bairro chique do Rio de Janeiro, sem a menor cerimônia.

O crime organizado se considera o dono da cidade.

Isso é que exigiria um basta.

Mas uma grande parcela da elite política carioca, fluminense e brasileira está associada às milícias, seja de maneira umbilical, seja por conveniências de momento, e não se dispõe a enfrentá-las.

E a extrema-direita prefere inventar as suas mentiras de costume, importunando as famílias enlutadas a fim de desorientar e promover o ódio.

Pobre Rio. Pobre Brasil.

LUIS FELIPE MIGUEL ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

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