O primeiro debate presidencial foi a oportunidade para se conhecer melhor as propostas e visões de vida de cada um dos cinco candidatos
O primeiro debate presidencial, realizado na noite de domingo (1), foi a oportunidade para se conhecer melhor as propostas e visões de vida de cada um dos cinco candidatos à Casa Rosada. O debate deixou evidente que Myriam Bregman, da Frente de Esquerda, foi a mais articulada do encontro que pode contribuir para a definição dos votos dos indecisos. Em todos os tópicos abordados, Bregman mostrou conhecimento e questionou os demais candidatos pela inconsistência de suas propostas. Ela disse ao candidato da extrema-direita Javier Milei, da Liberdade Avança, por exemplo, que ele “usa a palavra liberdade”, mas que na prática isso significará, disse ela, a permissão para demitir trabalhadores sem pagar indenização. Ela também foi a mais enfática ao discordar da declaração feita por Milei, no debate, de que a Argentina “não teve 30 mil desaparecidos” durante a ditadura militar (1976-1983). “Foram sim 30 mil desaparecidos e os ditadores fizeram um genocídio”, disse Bregman. Os ‘desaparecidos’ são pessoas que foram sequestradas pelos militares naquele período e cujo destino, ainda hoje, mais de 40 anos depois, é desconhecido. Milei afirmou que foram oito mil. Suas afirmações levaram o ministro da Economia e candidato do governo, Sergio Massa, a recordar que a Argentina levou os ditadores ao banco dos réus e que o país defende “a memória e a justiça”.
Os tópicos do debate foram economia, educação, direitos humanos e convivência democrática. A inflação altíssima foi (é) o maior desafio para Massa. O índice de 12% somente em agosto e de 124% nos últimos doze meses permeou as declarações dos seus adversários no encontro transmitido pelas emissoras de rádio, de televisão, portais de notícias e redes sociais. Até o também peronista Juan Schiaretti, Unidos por Córdoba (Hacemos Unidos por Córdoba), que é governador dessa província, apontou seus dardos para a crise econômica. Schiaretti e Massa são peronistas, mas de linhas diferentes dentro deste movimento político fundado há mais de 70 anos pelo ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974).
Massa, da coalizão União pela Pátria, retribuiu os ataques e questionamentos, dizendo que buscará um governo de união nacional, com a presença do Estado, por exemplo, na saúde e na educação, e que os outros dois candidatos com mais chances de disputarem com ele o segundo turno representam o ‘passado’ e um ‘mergulho no vazio’. O ‘passado’, neste caso, é a candidata do ex-presidente Mauricio Macri, Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança (Juntos por el Cambio) e o ‘mergulho no vazio’ é Javier Milei, da Liberdade Avança. Ex-ministra da Segurança Pública, Bullrich defendeu o fim dos piquetes que incluem o bloqueio do trânsito e disse que, se eleita, as forças de segurança pública terão seu respaldo. Bregman sugeriu que a ex-ministra não conhecia a realidade dos excluídos, que protestam porque necessitam ter uma vida digna.
Até os que não comungam com as ideias da representante da esquerda argentina nesta disputa eleitoral reconheceram que Bregman, que é deputada federal, se saiu melhor do que o peronista/kirchnerista Massa, do que Bullrich, do que o também peronista Schiaretti e do que o ‘libertário’ Milei. Enquanto ela se sentia mais segura e à vontade para dar suas opiniões, os demais buscavam, cautelosos, manter o eleitorado com o qual acreditam contar até agora.
As chances de Bregman vencer a eleição presidencial são hoje, porém, ínfimas. Advogada dedicada, principalmente, a causas vinculadas aos direitos humanos, ela teve poucos votos em eleições passadas e a Frente de Esquerda possui pouca presença no Congresso Nacional, apesar de poder definir uma votação apertada. Além disso, os holofotes estão voltados principalmente para Massa e para Milei. No domingo que vem será realizado o segundo e último debate presidencial antes do primeiro turno, que será no dia 22 de outubro
MARCIA CARMO ” BLOG BRASIL 247″ ( ARGENTINA/ BRASIL)