Após gastar, em dezembro e fevereiro, 32 parágrafos – recorde da gestão de Roberto Campos Neto no BC – para resumir as dúvidas do Comitê de Política Monetária (Copom) quanto à política econômica do governo Lula, e voltar a usar 23 parágrafos nas reuniões de maio até agosto, o Banco Central gastou 27 parágrafos na Ata de 20 de setembro para reiterar que fará novas baixas de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões, até 11,75% em dezembro.
Na verdade, para justificar méritos indevidos à política monetária, o Copom manteve uma visão conservadora e não fez nenhuma alusão aos efeitos da supersafra agrícola para reduzir a inflação, sobretudo dos alimentos na justificativa de desaceleração da inflação. Os dados do IPCA-15 de setembro, divulgados nesta 3ª feira, pelo IBGE, apontaram alta de 0,35%, por pressão dos reajustes da gasolina, o que elevou a inflação em 12 meses a 5,0%. Mas os alimentos voltaram a ter queda de 0,77% (-0,65 no IPCA-15 de agosto). Na avaliação do Itaú, a inflação mostrou dinâmica benigna de desaceleração.
É preciso aguardar a publicação do Relatório Trimestral de Inflação dia 28 (5ª feira) para ver as novas previsões e medir os erros do Banco Central nas projeções do IPCA e da taxa Selic.
O Departamento de Pesquisa e Estudos Macroeconômicos do Itaú, cujo economista-chefe, Mário Mesquita, que foi diretor de Política Monetária e adotou no Itaú um arcabouço semelhante ao do Copom para acompanhar a economia, reiterou, ao analisar a Ata que embora “o documento não abre espaço para uma aceleração no ritmo de flexibilização, por enquanto. “mantém” sua “projeção para a taxa Selic em 11,50% a.a. para o final do ano”.
O Itaú acredita que “à medida que o conjunto de informações evoluir, com maior clareza sobre o processo de desinflação e a desaceleração econômica, o comitê optará por uma aceleração em dezembro”. O Itaú espera que isso seja explicitado no RTI, no dia 28.
E os alimentos não contam?
Sempre critiquei as atas do Copom por darem ênfase exagerada à política monetária e sempre cobrar, corretamente, a ajuda da política fiscal, para que ambas marchem juntas, e deixar de lado impactos baixistas de preços domésticos que nunca são mencionados pelo Banco Central.
“As autoridades deram ênfase especial aos desafios trazidos pelo cenário internacional (incluindo a possibilidade de que a taxa de juro neutra nas economias desenvolvidas agora seja mais elevada).
“Domesticamente, as autoridades discutiram as causas das recentes surpresas com a atividade econômica e reconheceram que o hiato do produto foi reduzido, embora com alguma incerteza sobre a sua atual magnitude. Além disso, o comitê demonstrou que continua preocupado com a ancoragem apenas parcial das expectativas de inflação e pregou atuação firme para sua redução.
“Embora alguns membros tenham notado a composição benigna da inflação, em especial do componente de serviços [de novo sem falar dos benefícios da supersafra, mal calculados pelo Copom], outros enfatizaram não ser possível a essa altura extrapolar esse comportamento”. Em seguida, o Itaú resume os fatores altistas e baixistas apontados na Ata do Copom de setembro:
Pressões altistas: (i) persistência das pressões inflacionárias globais (ii) maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Pressões baixistas: (i) desaceleração da atividade econômica global mais acentuada (ii) impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Itaú fez um acompanhamento das atas de maio, junho, agosto e setembro. As projeções da pesquisa Focus para inflação e taxa Selic também se referem àquelas publicadas na semana da decisão.
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)