O que o ex-ministro fez foi expandir a categoria nas Forças Armadas brasileiras, incluindo milhares de civis que apenas prestaram o serviço militar obrigatório
Um informativo sobre o cotidiano militar publicou, no último dia 12, matéria em que, estranhamente, faz denúncia sobre o ex-ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Trazem uma nota elaborada em sua gestão e aprovada por ele, que instituiu em maio de 2021 uma mudança que classificam de: “há muito esperada e extremamente significativa na designação dos reservistas, civis ex-militares que prestaram o serviço militar inicial obrigatório. Anteriormente chamados de “reservistas”, a partir da nota emitida sob os auspícios de Paulo Sérgio eles passaram a ser reconhecidos como “veteranos”, perante as Forças Armadas.
O estranhamento se deve ao fato de estarem “requentando essa nota, num momento em que pesquisas demonstram uma queda de confiança da sociedade nas Forças Armadas. E, ainda, em que há uma grita geral por levar os generais golpistas ao banco dos réus. Talvez tenham entendido o recado dado pelo ministro Alexandre de Moraes, que durante o seu voto pela condenação do terrorista Aécio Lúcio Costa Pereira, há 17 anos, disse que ninguém ficará impune. Seja de que nível for.
Salta aos olhos o objetivo golpista do ex-ministro da Defesa, um dos que ao longo do ano eleitoral de 2022 cutucaram o TSE, fustigando os componentes da instituição com os seus questionamentos sobre a segurança e a idoneidade das urnas eletrônicas.
A designação “veterano” é conhecida e usada em todo o mundo para classificar os que foram militares profissionais. No Brasil, até a mudança em 2021, o termo era destinado apenas para essa categoria. Ao reconhecê-los dentro dessa classificação, o que o ex-ministro fez foi expandir a categoria nas Forças Armadas brasileiras, incluindo milhares de civis que apenas prestaram o serviço militar obrigatório. Inclusive àqueles que, na ditadura – receberam o certificado de reservistas numa excepcionalidade que só os ditadores podem conceder -, por estarem a serviço de estatais, como os que abriram na selva, a Transamazônica.
A decisão, divulgada na época no mesmo informativo, foi tomada um mês após o General Paulo Sérgio Nogueira assumir o comando do Exército. O general Pujol discordou fortemente de Bolsonaro, por entender que ele estava tentando usar o Exército nas questões da pandemia, no auge do contágio pela Covid-19. E se já foi noticiada, por que estaria recebendo novo destaque agora, num informativo voltado aos militares?
Já no item um, a nota diz: “O Centro de Comunicação Social do Exército informa que, por determinação do Comandante, o termo “veterano”, instituído no trato com os militares da reserva remunerada e reformados no âmbito do Comando do Exército pela Portaria C Ex nº1.521, de 10 de maio de 2021, passa a ser estendido aos militares da reserva não-remunerada.
Para os poucos atentos à rotina dos militares pode parecer pouca coisa, mas dentro das Forças Armadas o termo “veterano” carrega um grande simbolismo. A nova designação concede um aumento de status e reintegra milhares de ex-soldados, cabos, sargentos e tenentes à comunidade militar.
Com isso, a medida os reaproximou e os levou a ter um “pertencimento” e laços mais forte com a família militar, um ano antes do período eleitoral e de radicalização. Em outros termos, em se tratando de quem concedeu a medida, não erraríamos muito se classificarmos a atitude de uma tentativa de descarada cooptação, mesmo daqueles que passaram pelas fileiras por apenas onze meses. Foi mais ou menos o que tentaram, concedendo empréstimo consignado aos aposentados que auferem apenas o salário-mínimo, jogando-os no sufoco de dívidas e inadimplências.
Não por acaso, pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha nesta semana demonstra que para 61% dos eleitores brasileiros, oficiais das FAs estiveram envolvidos em irregularidades durante o governo de Bolsonaro. Restou às fileiras, o mísero reduto bolsonarista, que ainda hoje oscila entre 25% e 30% por cento que lhes dão credibilidade e não acreditam na hipótese, e 14% que dizem não saber. Para esses, o melhor é fazer o papel de pai de filho mimado: fechar os olhos e passar a mão pela cabeça.
DENISE ASSIS ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)