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Um vídeo mostra a chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura do MS, Luana Ruiz, convocando para atos contra a diplomação de Lula
Um vídeo que tem circulado na rede social X mostra a chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Mato Grosso do Sul, a advogada ruralista Luana Ruiz, convocando a sociedade para ir a Brasília participar das mobilizações antidemocráticas que culminaram nos atos de vandalismo na noite da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 12 de dezembro de 2022.
Direto do acampamento instalado na frente do Quartel General (QG) do Exército, na capital federal, num sábado dia 3 de dezembro de 2022, Luana, vestida e adornada com as cores da bandeira nacional, dizia que faltavam nove dias para a diplomação do presidente eleito e algo precisava ser feito.
E realmente foi: na noite de 12 de dezembro, portanto nove dias depois, quando pela manhã ocorreu a diplomação de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), bolsonaristas golpistas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, incendiaram automóveis e ônibus, tendo os atos de vandalismo sido registrados no centro, Asa Norte e na Esplanada dos Ministérios.
“É agora ou nunca? Faltam nove dias! Será preciso desenhar? (…) Se você é da direita conservadora, se você acredita que ainda é possível fazer alguma coisa, e mesmo que nem acredite tanto, faça a sua parte porque se nada fizer, pode ter certeza do que pode acontecer”, diz Luana no vídeo.
A reportagem do GGN tentou contato com a advogada Luana Ruiz pelos telefones da Secretaria de Infraestrutura e Logística e de um escritório de advocacia, mas ninguém atendeu. Caso a advogada queira se pronunciar, essa matéria será atualizada.
Notícias falsas
A advogada, que nas eleições de outubro foi candidata a deputada federal pelo Partido Liberal (PL), o mesmo de Jair Bolsonaro, pergunta, no vídeo, se com o presidente eleito as pessoas estavam dispostas a “perder a sua liberdade, a sua propriedade, a sua poupança, suas aplicações, a liberdade religiosa, direito de expressão”.
E convida: “venha para Brasília! Vá participar pessoalmente, concretamente, das mobilizações na sua cidade. É agora ou nunca, faltam 9 dias!”. E arremata: “a única certeza que temos, certeza absoluta, é o que vai acontecer se nós desistirmos ou se cada um de nós não fizermos a nossa parte”.
A tensão gerada pelos atos golpistas e de depredação do dia 12 de dezembro fez com que o então futuro ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino (PSB), convocasse uma coletiva de imprensa para garantir que o presidente eleito estava em “absoluta segurança” e tomaria posse em 1º de janeiro de 2023. A Polícia Federal investiga os participantes, financiadores e promotores dos atos antidemocráticos.
Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou a 17 anos o réu Aécio Lúcio Costa Pereira, o primeiro julgado pela participação nos atos golpistas de 8 de janeiro. Além da pena, Pereira também terá de pagar R$ 44 mil de multa e dividir, junto com os demais réus, o valor de R$ 30 milhões à União, como ressarcimento aos danos causados durante a invasão dos prédios dos Três Poderes.
Quem é Luana Ruiz
A advogada Luana Ruiz tem 40 anos e vem de uma família de latifundiários do MS, com fazendas no Cone Sul do estado. Neste corredor, que leva a uma das fronteiras mais violentas do país, entre os municípios de Ponta Porã e de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, estão as terras tradicionais Guarani Kaiowá.
Uma dessas fazendas da família está na Terra Indígena Ñanderu Marangatu, município de Antônio João, cuja demarcação dos 9.300 hectares homologados pela Presidência da República tem incidência sob títulos nulos de propriedade desde a compra da área pelo avô de Luana, depois que de lá os Guarani Kaiowá foram expulsos.
Em setembro de 2015, a mãe da advogada, Roseli Maria Ruiz, então presidente do Sindicato Rural de Antônio João, convocou um ato público e dele partiu, com os presentes, para um ataque às retomadas feitas pelo Guarani Kaiowá em Ñanderu Marangatu, incluindo a sede da fazenda Ruiz.
Muitos outros indígenas foram mortos em Ñanderu: Hamilton Lopes, que faleceu em 2012, Marçal de Souza Tupa’i, assassinado em 1983, Dorvalino, assassinado em dezembro de 2005, Dom Quitito, que morreu em abril de 2000 e, por fim, Semião Vilhalva: morto a tiro durante a ação de setembro de 2015.
Chegada ao governo Bolsonaro
No dia do ataque a Ñanderu Marangatu, a senadora Tereza Cristina (Progressistas-MS), então deputada federal, estava no Sindicato de Antônio João e presenciou a saída da frota de caminhonetes, levando os participantes do ato convocado por Roseli Ruiz, para retirar os Guarani Kaiowá de Ñanderu Marangatu.
Quando Jair Bolsonaro venceu as eleições em 2018, Tereza Cristina se tornou ministra da Agricultura e Pecuária e levou Luana Ruiz para assumir pasta dentro do ministério.
Ruiz, como advogada, defende fazendeiros em litígio com povos indígenas e assessorou informalmente a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 2015, na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul – esta CPI lançou mão, antes do bolsonarismo, da utilização articulada de notícias falsas e narrativas fantasiosas para atingir os seus fins.
Entre os clientes da advogada, está a Federação da Agricultura e Pecuária do estado (Famasul).
Como advogada, até 2019 tinha atuação em 16 processos e em quase 50 recursos que buscam impedir novas demarcações de terras indígenas. No governo de Jair Bolsonaro, o currículo a cacifou para ser a secretária-adjunta da Secretaria Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, cujo secretário era o ruralista Luiz Nabhan Garcia (na foto, de bigode) principal liderança da União Democrática Ruralista (UDR).
Ela era a número dois da secretaria, que passaria a ser responsável por novas delimitações de áreas para populações indígenas na formatação do governo Bolsonaro — atribuição que antes cabia à Fundação Nacional do Índio (Funai). O STF, no entanto, vetou a mudança e os procedimentos demarcatórios seguiram com a Funai.
RENATO SANTANA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)