Além dos coletes, general Braga Netto terá de explica compra de pistolas sem licitação e a manutenção de contato com lobistas de empresas
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A compra sem licitação de coletes da CTU Security LLC, com sede em Miami, durante a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, em 2018, que se tornou alvo de buscas e apreensões da Operação Perfídia, deflagrada nesta terça-feira (12), não será a única a ser passada a limpo.
O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MP-RJ) informou que vai pedir o desarquivamento de investigação sobre possíveis irregularidades na compra de 27 mil pistolas Glock. A medida foi decidida depois da operação da Polícia Federal ir atrás dos primeiros alvos e investigar os militares envolvidos.
Interventor designado pelo então presidente Michel Temer, o general Walter Souza Braga Netto, que ocupou cargos distintos no primeiro escalão do governo passado, esteve à frente do Gabinete de Intervenção Federal (GIF) e todas as compras passaram pelo seu crivo e análise.
Conforme o MP carioca, a compra das pistolas Glock custou aos cofres federais R$ 43,3 milhões em recursos à intervenção. A PM fluminense ficou com 15 mil pistolas, a Polícia Civil recebeu 9.360, enquanto a Secretaria de Administração Penitenciária teve 3 mil armas e o Corpo de Bombeiros, 64 pistolas.
Durante a intervenção, foram empenhados R$ 1,17 bilhão de recursos: cerca de 81% foram destinados à aquisição de equipamentos e material permanente e 19% à compra de material de consumo. Conforme os relatórios do próprio GIF, foram comprados armamentos, munições, coletes, viaturas, equipamentos para perícia criminal, câmeras de monitoramento, drones, entre outros itens.
Reabertura da investigação
Responsável pelo arquivamento da investigação da compra das pistolas sem licitação em 2019, o procurador da República Eduardo Benones declarou ao jornal O Globo que pedirá a reabertura das investigações pela semelhança com o inquérito da compra de coletes.
No total, a intervenção federal custou R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos e o Tribunal de Contas da União (TCU) questiona as compras sem licitação e, no caso dos coletes balísticos, por exemplo, qual a razão da compra ter sido feita, e depois suspensa, junto a uma empresa estrangeira e que não produz coletes.
No caso dos coletes balísticos, o GIF enviou emissários a Miami para checar o material e definir a compra. Quando lá estavam, a CTU Security LLC os informou que os coletes não estavam na sede, em Miami. A viagem improdutiva custou R$ 39 mil, além das diárias.
Braga Netto nega as acusações
Para o general Walter Braga Netto, “não houve qualquer repasse de recursos ou irregularidade por parte da administração pública”, declarou em nota, e que durante o período “os contratos do Gabinete de Intervenção Federal (GIF) seguiram absolutamente todos os trâmites legais previstos na lei brasileira”.
De 2020 a 2021, foi ministro-chefe da Casa Civil. Logo após, de 2021 a 2022, assumiu o cargo de ministro da Defesa. Braga Netto também foi vice na chapa de Jair Bolsonaro no pleito presidencial de 2022. Agora, uma articulação do PL tenta lançar o general à prefeitura do Rio em 2024.
Investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Perfídia demonstram que o general Braga Netto continuou mantendo contato com lobistas e intermediários de empresas suspeitas de corrupção na compra dos coletes à prova de balas durante a intervenção militar no Rio mesmo após se tornar ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, em 2020.
RENATO SANTANA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)