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Seria conveniente os terraplanistas da dolarização atentar para o que diz Robin Brooks, economista chefe do IIF e estrategista da Goldman Sachs.
Há duas formas de dolarização de uma economia: a primeira, amarrando a cotação da moeda local ao dólar; a segunda trocando a moeda local pelo dólar. Ambas levam ao mesmo resultado: um curto período de equilíbrio de preços, seguido de uma apreciação da moeda local até o desfecho final, inevitável, de uma maxidesvalorização.
A razão é óbvia. A moeda tem três funções: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Como unidade de conta, todos os preços da economia são definidos na moeda nacional. Acontece que a mera dolarização se, em um primeiro momento, permite o realinhamento de preços, em um segundo momento não interrompe a inflação. Se os preços vão aumentando, e a moeda permanece a mesma em relação a outras moedas), ocorre uma apreciação gradativa da moeda local, encarecendo dia a dia os produtos locais em relação aos importados. Até o momento em que as contas externas abrem o bico e explodem em uma maxidesvalorização.
O Plano Real foi uma forma de dolarização da economia, e experimentou os três momentos. No momento 1 permitiu o alinhamento de preços em torno do dólar. No momento 2 começou a apreciar cada vez mais o Real. Para fechar as contas, o Banco Central passou a praticar as mais altas taxas de juros de história, para atrair dólares financeiros. Em fins de 1998 – tal e qual ocorreu com o governo Macri, na Argentina – o FMI acudiu com um empréstimo, que o Ministro Pedro Malan utilizou da forma mais deletéria possível: usou para dar uma porta de saída para os investidores externos. Seguiu-se a explosão cambial no início de 1999.
Já a dolarização pretendida pelo Bolsonaro argentino é mil vezes pior. Significa abrir mão da moeda local em favor do dólar. Suponha que, após a dolarização, os preços na Argentina continuem a subir mais do que os preços nos Estados Unidos. Os produtos argentinos ficarão progressivamente mais caros, em dólares, afetando a balança comercial. Com menos dólares entrando, o valor do dólar subirá mais ainda, em relação aos produtos internos. Até que chegará o momento em que a situação ficará insustentável. E, aí, fazer o quê? Uma maxidesvalorização é impossível, porque não existe mais moeda nacional. O déficit comercial reduzirá cada vez mais a oferta de dólar. O Banco Central terá que se endividar em dólares, pagando alto para conseguir dólares. E nem terá o recurso de desvalorizar a dívida através de uma maxi.
Seria conveniente os terraplanistas da dolarização atentar para o que diz Robin Brooks, economista chefe do IIF e estrategista da Goldman Sachs.
Segundo ele, o debate atual sobre a dolarização na Argentina é apenas mais do mesmo, porque há anos a Argentina convive com a primeira forma de dolarização.
Diz ele
“Qual é o problema com a dolarização em EM (Economias Emergentes)? A inflação dos ME está acima da inflação dos EUA. Se você atrelar sua moeda ao USD, sua taxa de câmbio real inevitavelmente aumentará e ficará supervalorizada. Isso torna inevitável a desvalorização explosiva”
Lembra o caso do Egito:
Além disso, nos últimos anos os aumentos das taxas pelo FED, tornaram insustentáveis muitas dessas taxas de câmbio fixas. O Egito teve que desvalorizar, o Paquistão teve que desvalorizar, o Sri Lanka teve que desvalorizar”.
Ele sugere o caso da Turquia que, para combater os desequilíbrios, deixou a moeda flutuar, evitando desvalorizações explosivas.
E destrói os argumentos dos que utilizam o Equador como exemplo, para a dolarização argentina. A apreciação da moeda local deixou a economia equatoriana muito atrás da economia de seus vizinhos.
A única razão pela qual a Argentina tem uma taxa de câmbio paralela é que a taxa de câmbio oficial é quase atrelada ao dólar. A dolarização apenas leva esse status quo ao extremo.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)