AS RAZÕES DE ARHUR LIRA TER SE SENTIDO ” OFENDIDO”

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Contribua usando o Google

Lira apoiou a reforma fiscal seguindo seus patronos. Mas na taxação do grande capital, trata de tirar o terno de herói e vestir máscara

A estratégia econômica do Ministro Fernando Haddad consistiu dos seguintes pontos. O primeiro passo foi a constatação da existência de um cenário amplamente desfavorável, com a Lei do Teto, o controle da Câmara pelo Centrão, os militares atuando politicamente, a mídia ainda presa à síndrome do aperto fiscal.

Em cima dessas condicionantes, o jogo seria o seguinte:

  1. Aprovação do arcabouço fiscal, dando um pouco mais de fôlego fiscal ao governo.
  2. A mudança do PPI (Preço de Paridade de Importação) reduzindo a pressão dos combustíveis sobre a inflação.
  3. Avançar na reforma fiscal, ganhando o mercado e a mídia. E colocando Arthur Lira como co-autor, para ganhar seu apoio.
  4. Com queda da inflação e consolidação do arcabouço, convencer Roberto Campos Neto a reduzir a taxa Selic.
  5. Com a melhora gradativa da economia, com programas sociais e a remontagem do Estado contar com o aumento da popularidade de Lula para avançar nos pontos mais relevantes, especialmente o fim dos benefícios fiscais espúrios.

Na ocasião, apontei os dois pontos nevrálgicos.

Primeiro, Roberto Campos Neto. Sua teimosia não decorria apenas de seu desconhecimento de política monetária, mas do fato de ser um militante bolsonarista, louco para inviabilizar o governo Lula.

Os fatos estão aí, comprovando a suspeita, especialmente depois que vieram à tona cenas explícitas de apoio ao bolsonarismo, a última das quais foi alimentar a campanha de Bolsonaro com estudos estatísticos sobre as eleições.

Antes, em plena pandemia, preparou estudos visando comprovar que a imunização de rebanho era melhor para a economia que vacinação. Depois, a cena de votar com camisa verde-amarela e a informação de que participava de grupos de WhatsApp bolsonarista.

Haddad acertou quando previu que o alarido dos empresários – não apenas industriais, mas do setor bancário e do mercado – obrigariam Campos Neto a ceder. Mas o máximo que se conseguiu foi aumentar o ritmo de queda da Selic de 0,25 para 0,50 por reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o que aignificará entrar em 2024 com a Selic ainda em dois dígitos.

O segundo ponto era Arthur Lira. Seu apoio à reforma fiscal trouxe a falsa sensação de que Lira, o político envolvido até a tampa com malversação de recursos públicos, aceitaria trocar tudo pelo reconhecimento público, uma espécie de general Della’Rovere tupiniquim, do clássico de Rosselini “De crápula a herói:.

Por outro lado, a quantidade de denúncias contra Lira ajudariam a conter seus ímpetos

Ledo engano! Lira apoiou a reforma fiscal porque seus patronos apoiavam. Agora, quando se entra na taxação do grande capital, trata de tirar rapidamente o terno de herói e vestir máscara, com esse jogo de cena patético, de se dizer “ofendido”, por uma fala de Fernando Haddad. 

Por outro lado, a estratégia de Haddad permitiu a Lula um segundo tempo do jogo, não mais acuado como no início do governo.

Em tudo isso, foi incompreensível a decisão do Ministro Gilmar Mendes, tirando uma das espadas de Dâmocles no pescoço de Lira, seu envolvimento com o escândalo dos kit robóticas.

Muitas vezes Gilmar age direito por linhas tortas. Mas às vezes anda em linhas tortas também.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *