TRÊS CRIMES SACODEM A CAMPANHA PRESIDENCIAL NA ARGENTINA E NO EQUADOR

CHARGE DE CÍCERO

Foi uma semana sangrenta nos dois países da América do Sul que realizam eleições neste mês de agosto, escreve a jornalista Marcia Carmo

Quem mandou matar o presidenciável do Equador Fernando Villavicencio? Aos 59 anos, o jornalista e ex-legislador foi morto com três tiros diante de seguranças e eleitores na tarde de quarta-feira. O crime, que ocorreu em Quito, a capital do país, chocou os equatorianos – e o mundo político. Foram feitas declarações e comunicados em vários países com a preocupação sobre o ataque direto à democracia equatoriana. Villavicencio era um dos candidatos à eleição presidencial antecipada marcada para o dia 20 de agosto. A data da eleição foi mantida pelo presidente Guillermo Lasso e pelo Tribunal Eleitoral, depois do assassinato do presidenciável. O atordoamento gerado pelo assassinato disparou uma série de especulações e a pergunta: “a quem interessava a morte de Villavicencio?”. Ele foi morto quando saia de um ato de campanha. Um dos supostos criminosos morreu em meio aos tiros no local e seis homens com identidade colombiana foram presos. Mas assim como na política, a situação policial do Equador é confusa e preocupante. Vilavicencio costumava criticar o que chamava de ‘narcoEstado’, numa referência à suposta presença de traficantes de droga nas vísceras do Poder. E tinha denunciado as ameaças de morte que vinha sofrendo. País com cerca de 18 milhões de habitantes, o Equador realiza eleições gerais antecipadas depois que Lasso, em uma canetada, prevista na constituição, antecipou o fim do seu mandato, fechou o Congresso e marcou a data do pleito. A atitude de Lasso, de direita, foi uma espécie de ato de sobrevivência política tomado quando os legisladores estavam prestes a declarar seu impeachment. As pesquisas apontam que a esquerda sairia vitoriosa das urnas no dia 20 de agosto num país que teme o que pode acontecer daqui até lá e no dia do pleito.

Naquela mesma quarta-feira de estupor no Equador, a Argentina viveu a comoção com o assassinato de uma menina de 11 anos numa localidade da província de Buenos Aires, que é a maior do país e decisiva nas eleições nacionais. O crime ocorreu no município de Lanús, governado pela opositora Juntos pela Mudança (Juntos por el Cambio, fundada pelo macrismo).

Morena Domínguez estava perto da escola e seus colegas e professores viram quando ela foi atacada por ladrões que roubaram seu celular e a feriram. Todos os pré-candidatos à Presidência da Argentina suspenderam seus comícios de encerramento de campanha. No dia seguinte, políticos próximos ao ministro da Economia e pré-candidato presidencial, Sergio Massa, contavam ao Brasil 247 que estavam preocupados com o impacto nas urnas “dessa morte horrível”. “Não é a Argentina que queremos e o eleitor também não. E estamos cientes disso”, afirmou. A pergunta é se casos assim, disse, podem acabar favorecendo o extremismo de direita.

Neste domingo, os argentinos vão às urnas para eleger os que devem disputar a eleição do dia 22 de outubro (primeiro turno). O voto é obrigatório nas primárias (Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias – PASO). Mas quando o país ainda estava em choque com a morte de Morena, uma outra morte, no Obelisco, no centro de Buenos Aires, também atingiu a campanha eleitoral e os corações dos militantes de esquerda. A morte do fotojornalista e militante de esquerda Facundo Molares Schoenfeld, em meio à repressão policial contra uma manifestação do Movimento Teresa Rodríguez (MRT), comoveu organizações de direitos humanos e deixou o país perplexo. A imagem de Molares caído, com as pessoas gritando ‘ele está passando mal, deixem ele, chamem a ambulância’ emocionam e não são boas para o pré-candidato à Presidência, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, da coalizão opositora Juntos pela Mudança (Juntos por el Cambio). A Polícia da Cidade foi acusada de provocar a morte de Molares que tinha problemas cardíacos. Seu médico e amigo Fernando Murias chorou diante das câmeras de televisão e disse: “Não é fácil ser um manifestante. Se paga um preço alto. E ele pagou com a vida, ele foi vítima da repressão policial”. Murias lembrou que Molares integrou a guerrilha das FARC, na Colômbia, durante quinze anos. “Ele era um grande militante e a pessoa mais íntegra que já conheci”, disse às lágrimas. Em suas redes sociais, Larreta falou em paz e respaldou a polícia. Domingo, nas urnas, os argentinos expressarão o que pensam e o que desejam para o país.

MARCIA CARMO ” BLOG BRASIL 247″ ( ARGENTINA / BRASIL)

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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