O TEATRO BURLESCO DA MACROECONOMIA À BRASILEIRA

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Não entendimento de que realidades socioculturais e econômicas diferentes produzem resultados diferentes é fruto direto da ignorância posuda da macroeconomia

Quando comecei a me aprofundar na economia, muitas décadas atrás, algo me incomodava profundamente. Havia uma corrida dos economistas pela macroeconomia e nenhum interesse por análises setoriais. Como entender a macro sem conhecer a microeconomia, os efeitos das medidas macroeconômicas em cada setor?

Ainda no final dos anos 70, quando o open market foi introduzido no país, lembro-me de uma frase de Carlos Brandão, presidente do Banco Central, explicando as virtudes do novo instrumento:

  • Quando o Banco Central aumenta os juros, o verdureiro do Ceasa percebe que é hora de reduzir os preços.

Esses senhores das planilhas sempre foram incapazes de desenvolver teorias estatísticas sobre problemas concretos brasileiros.

Tome-se o caso da explosão de juros do Real. Ocorreu por que? O fim da inflação trouxe uma multidão de pessoas para o mercado de consumo. Ao mesmo tempo, o uso da âncora cambial reduziu preços de importados provocando uma explosão das importações. Em pouco tempo houve uma redução acelerada do superávit comercial e uma demanda enorme por crédito. Eram empresas aumentando capital de giro, consumidores se endividando para aquisição de bens e a frente externa se tornando vulnerável.

Bastaria um mínimo de conhecimento, de observação empírica, para perceber o fim do curto ciclo de crescimento do pós-real. Se percebesse com tempo que a trajetória da economia bateria em um muro, tratar-se-ia de montar um programa de crédito que facilitasse a volta para o quadro anterior de endividamento. Que nada! Houve uma explosão dos juros, para combater um ataque especulativo à moeda (porque as reservas definharam) e, depois, um longo período de juros altos que promoveu o maior processo de endividamento da história da economia.

Onde estava Edmar Bacha, o sábio que trocou a economia pelo papel de lobista da Casa das Garças? Quais os estudos dos gênios da macroeconomia sobre os efeitos deletérios da desarticulação da economia brasileira na época? Sempre que ocorre um desastre, o máximo que conseguem é citar a destruição criativa de Joseph Schumpeter.

Esse mesmo desastre foi repetido no pacote de Joaquim Levy. A economia vinha em alta velocidade, havia sinais de crise pela frente. Aí decidiu-se, da noite para o dia, um choque tarifário, um choque cambial e um enorme trancamento do crédito.

Os dois choques visavam equilibrar as contas internas na porrada; o trancamento visava evitar a inflação. Com esses ouvidos que a terra há de comer ouvi de um Ministro que, assim que aparecesse o superávit fiscal, as taxas longas de juros cairiam e os investimentos viriam como o maná da criação. Pela frente, tinha-se uma economia terra arrasada, queda na arrecadação fiscal, devido ao desmonte. De onde viriam os investimentos? Vieram transmudados em impeachment.

Qual o estudo produzido pelos gênios da macroeconomia cablocla sobre os efeitos de mudanças bruscas de regime monetário e fiscal em economias alavancadas, ou mesmo no equilíbrio político? Nenhum! Quais os estudos – em inglês ou português – sobre os efeitos positivos do salário mínimo nos gastos de saúde, educação e segurança? Nenhum.

Décadas atrás um economista do IPEA mostrou que mais de 50% das casas com aposentados e pensionistas, eles eram o arrimo da família, com consequências positivas óbvias sobre saúde, educação, segurança. O que o mercado fez foi designar um economistas da Tendência Consultoria para tentar demonstrar que aumento do salário mínimo aumentava a propensão dos jovens à vagabundagem.

Essa macroeconomia de araque, importada e aplicada em uma realidade totalmente diferente do seu país de origem, é um embuste. O não entendimento de que realidades socioculturais e econômicas diferentes produzem resultados diferentes é fruto direto dessa ignorância posuda da macroeconomia brasileira.

Pior, não conseguem sequer se atualizar com as discussões que estão ocorrendo em âmbito global, em papers em inglês, colocando em xeque a financeirização das últimas décadas.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN ( BRASIL)

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