“Terei o maior prazer de atender pedido do presidente Lula”, disse ela, como se fizesse um favor a seu chefe
Em qualquer organização, por mais democrática que seja, sempre há uma hierarquia. Nas empresas, existe o presidente, ou o CEO, e abaixo dele vêm os diretores, gerentes e demais executivos. Nos governos, há também o presidente, ou o governador, abaixo do qual estão os ministros e secretários. Os processos decisórios podem ser colegiados, mas sempre existe a palavra final que vem do líder. É quem manda, enquanto os outros obedecem.
No governo Lula, um líder com a experiência de dois mandatos extremamente bem-sucedidos, seria desejável que a autoridade fosse respeitada pelos ministros. No entanto, não foi exatamente isso o que ocorreu no caso Márcio Pochmann, futuro presidente do IBGE. Em sua primeira declaração pública sobre o caso, a ministra Simone Tebet agiu como se estivesse fazendo um favor ao presidente. “Terei o maior prazer de atender pedido do presidente Lula”, disse ela aos jornalistas, o que foi destacado como manchete do Valor Econômico. Ela também afirmou que já tinha sido avisada que Lula “gostaria de fazer uma escolha pessoal” para o IBGE e que o “pedido é mais do que justo”. Segundo Tebet, Lula não fez para ela “nenhum pedido até hoje” – quando, na realidade, chefes decidem e determinam suas decisões aos subordinados.
Professor da Unicamp, Márcio Pochmann acompanha há décadas o presidente Lula, a quem ajudou a formular políticas públicas de sucesso. É alguém que tem currículo para não apenas presidir o IBGE, como também para aprimorar o processo de divulgação da realidade socioeconômica brasileira aos cidadãos.
No entanto, a ministra Tebet fez questão de carimbá-lo como uma escolha política – e não técnica. Em qualquer organização, tal atitude seria encarada como um ato de clara insubordinação, passível de demissão. Como governar é também a arte de engolir sapos, é possível que Lula ignore a indelicadeza de Simone. Mas o episódio revela que ela talvez esteja pronta para desembarcar, como vítima, num momento mais favorável. Sair de um governo que reduz a inflação, gera empregos, aumenta o crescimento e traz de volta a confiança não a levaria a lugar algum. No máxima, ela ganharia uma coluna no jornal O Globo.
LEONARDO ATTUCH ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)