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Se é que derrotamos mesmo. Mas isso é outra história. Vejamos a história da atuação de Luis Roberto Barroso nos últimos anos
Vaiado nesta quarta-feira, 12, no Congresso da UNE, para o qual algum luminar da entidade teve a ideia de convidá-lo, Luis Roberto Barroso trepou nas tamancas. Sem paletó, de braço erguido, mangas arregaçadas, disse ao microfone que “gritar ao invés de ouvir” é coisa do bolsonarismo, e emendou: “nós derrotamos o bolsonarismo”.
Bolsonaristas estão em cólicas com a declaração de Barroso, mas eles não têm do que reclamar.
Em 2019, Barroso arquivou um processo em que o então presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, pedia que Bolsonaro fosse instado a dar explicações sobre uma declaração do então presidente da República sobre o paradeiro de um desaparecido da ditadura, Fernando Santa Cruz, pai de Felipe. Em julho daquele ano, Bolsonaro disse que Felipe não gostaria de saber “a verdade” sobre a morte do pai. Bolsonarismo na veia.
Em maio de 2020, Barroso extinguiu duas ações movidas contra o governo Bolsonaro, uma pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, outra pela Rede, por violação do direito à vida e à saúde com a deflagração da campanha da Secom “O Brasil Não Pode Parar”, de boicote às medidas de prevenção de contágio pelo vírus da covid-19 no início da pandemia. Candidamente, Barroso consignou em sua decisão que as ações não tinham razão de existir porque o governo não pretendia deflagrar a campanha. Mas a campanha havia sido deflagrada dois meses antes, em março daquele ano, e só durou pouco por decisão, pasmem, no próprio Barroso.
Um ano depois, em maio de 2021, Barroso arquivou uma queixa-crime contra Bolsonaro e André Mendonça, então ministro da Justiça, por advocacia administrativa. A queixa-crime foi apresentada por Ciro Gomes, que foi alvo de uma investigação da Polícia Federal, aberta por determinação do Ministério da Justiça, por “suposto cometimento de crime contra a honra do presidente da República”.
Em novembro de 2022, Barroso arquivou dois pedidos de investigação contra Bolsonaro baseados em uma troca de mensagens entre os ex-presidentes da Petrobras Roberto Castello Branco e do Banco do Brasil Rubem Novaes. Nas mensagens, Castello Branco disse a Rubem Novaes que seu celular corporativo tinha material que poderia incriminar Bolsonaro. Barroso espanou os pedidos de investigação justificando que Augusto Aras assim tinha recomendado…
Também em novembro do ano passado, Barroso rejeitou uma ação da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 contra Augusto Aras por omissão diante de nove crimes cometidos por Bolsonaro na pandemia, de charlatanismo a epidemia com resultado morte. Barroso disse que não viu “completa inércia” da PGR.
Entre 2021 e 2022, quando presidente do TSE, Barroso abriu alas para o bolsonarismo militar “fiscalizar” as urnas eletrônicas, e deu no que deu.
Antes de tudo isso, antes de Bolsonaro se candidatar à Presidência da República, Barroso arquivou um inquérito contra Bolsonaro por conduta racista. Trata-se do caso em que Bolsonaro disse o seguinte em um programa de televisão quando perguntado por Preta Gil sobre o que faria se um dos seus filhos namorasse uma pessoa negra: “Ô, Preta. Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”. Barroso, porém, avaliou que só opiniões “desvinculadas da atividade parlamentar” de deputados estão sujeitas ao controle penal.
Nem vamos entrar aqui na trajetória ultralavajatista de Luis Roberto Barroso, paraninfo da task-force de Dallagnol, cidadão honorário da República de Curitiba. Trajetória esta, aliás, que se confunde com os caminhos abertos para a ultradireita no Brasil.
No mais, posto que Narciso em pessoa, quando Barroso disse na UNE que “nós derrotamos o bolsonarismo”, provavelmente se referia também a seus colegas de STF, como Ricardo Lewandowski e Luiz Fux, que negaram seguimento, respectivamente, às petições 6.131 e 6.322 de 2016, queixa-crime e interpelação judicial criminal contra Jair Bolsonaro pelo fato de o então deputado ter dedicado seu voto favorável ao impeachment de Dilma Rousseff ao torturador da processada, Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Ah, há quanto tempo o fã de torturador poderia, deveria, estar inelegível…
Excelentíssimos, apesar de vocês, derrotamos o bolsonarismo – se é que derrotamos mesmo.
HUGO SOUZA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Hugo Souza é jornalista