FERNANDO HADDAD VENCE A PRIMEIRA RODADA DE EXPECTATIVAS

Foto: Roberto Suguino/Agência Senado

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A prova do pudim da estratégia Haddad se dará no segundo semestre quando Arcabouço e cortes ficarão mais claros

A decisão da Standard & Poors, de elevar a expectativa do país de estável para positiva, mostra o sucesso do primeiro movimento do Ministro da Fazenda Fernando Haddad.

Grosso modo, sua estratégia consiste dos seguintes movimentos:

  1. Revogar a Lei do Teto e colocar, em seu lugar o Arcabouço Fiscal, restritivo, mas não tanto.
  2. Tirar os argumentos de Roberto Campos Neto para manter a Selic em 13,75%.
  3. Contar com algum respiro na economia, com prognóstico de crescimento maior do PIB.
  4. Cortar subsídios fiscais indevidos.
  5. Conseguir algum suspiro na economia com o destravamento do crédito pessoal (mesmo com taxas de juros extorsivas) e PPPs (Parcerias Público Privadas).

A primeira rodada foi vitoriosa. As taxas de juros longas (principal termômetro de humor do mercado) caíram, houve um refluxo no preço dos alimentos, equacionaram a questão do preço dos combustíveis. E todas as previsões pessimistas do mercado foram derrotadas.

Bom no front do mercado, ruim na economia real. E agora há a segunda rodada.

Campos Neto continua reticente a reduzir os juros, reforçando as suspeitas de que é movido por intenções ideológicas. Tudo isso em um quadro de quebradeira de pequenas, médias e grandes empresas. Dependendo do ritmo de redução dos juros, compromete definitivamente a possibilidade de reeleição de Lula ou de algum quadro alinhado com suas ideias.

A prova do pudim da estratégia Haddad se dará no segundo semestre. Aí ficarão mais claros os limites restritivos do Arcabouço e o tamanho dos cortes necessários para manter as metas acertadas de equilíbrio fiscal e a resiliência de Campos Neto de prosseguir com seu boicote.

Mas, ao mesmo tempo, a teimosia irracional (ou ideológica) de Campos Neto está provocando uma discussão mais aprofundada pelos métodos pavlovianos de gerenciar a política monetária, ainda mais com o BC nas mãos de um presidente vazio de conhecimento e prenhe de intenções

A revisão da política monetária

Ex-diretor do BC, o economista Tony Volpon tem levantado alguns pontos relevantes sobre a política monetária – mostrando que a extraordinária mediocridade das discussões do mercado não é problema de ideologia, mas de ignorância.

Propõe ele:

1- Periodicidade da meta deve ser forward looking (significa considerar e levar em consideração eventos, tendências e possibilidades futuras ao tomar decisões ou analisar uma situação), entre 18-24 meses normalmente, mas sempre especificado pelo BC a cada ciclo, levando em conta o duplo mandato, visando minimizar a volatilidade da inflação e do produto. 

2- A meta e sua banda deve ser especificada via processo quantitativo levando em conta as especificidades da economia brasileira (nível de inércia, volatilidade nominal/cambial) levando em conta o duplo mandato (conter a inflação e fomentar o emprego). Qualquer mudança deve levar em conta possível perda de credibilidade, e assim potencialmente acontecer quando a inflação estiver em determinado patamar. 

3- O índice de inflação da meta deve ser uma representação do núcleo de preços de mercado mais influenciáveis pela política monetária, excluindo preços administrados e principalmente ligados à mudanças de preços relativos, onde a volatilidade desses dois devem ser contemplada no tamanho da banda da meta. 

4- A pesquisa Focus deve ser reformulada em sua periocidade e composição. O BC deve reformular seu uso nas projeções para minimizar distorções e viés. 

5- O BC deve deixar claro que a operacionalização do sistema de metas segue, quantitativamente, metas de inflação, e não gestão de expectativas. No primeiro caso, o BC limita-se a tentar prever o comportamento da inflação e adaptar as taxas de juros às previsões. No segundo caso, tenta interferir nas expectativas de inflação. Segundo Volpon, o BC deve adotar o primeiro modelo de que não há empiricamente como captar de forma adequada as expectativas das entidades do mercado com capacidade de influenciar ou definir os preços.

6- A composição do Copom (Comitê de Política Monetária) deve incluir Diretorias Especiais abertas a especialistas de política monetária, estabilidade financeira e outros temas. Esses diretorias não teriam função administrativa, e seriam abertos a especialistas de outras nacionalidades.  Ele não diz, mas é importante ter representantes de outros setores da economia, além do mercado.

7- O BC deve reformular sua política de intervenção cambial, estando pronto a usar instrumentos lineares e não lineares (opções) em momentos onde o nível de volatilidade excede, no julgamento do diretor de PM, o nível justificado por mudanças nos fundamentos. O BC deve considerar um programa permanente de venda de volatilidade via venda de opções. 

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” (* BRASIL)

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