Mil perdões aos coleguinhas jornalistas por usar o nome do tradicional bloco de carnaval que há 25 anos desfila no bairro das Laranjeiras, desde o primeiro samba composto por meu amigo e admirado Marceu Vieira.
Mas não há melhor nome batismal para a Medida Provisória baixada hoje por Jair Bolsonaro desobrigando as grandes empresas de publicarem, em pelo menos um jornal de grande circulação, seus balanços anuais.
Sim, é verdade, já não tinha função nestes tempos de internet, onde se pode acessar tudo do computador e, mais dia menos dia, a obrigação acabaria, por inútil.
Chama a atenção, porém, a declaração de Jair Bolsonaro de que a medida é uma “retribuição” ao tratamento que tem recebido da imprensa.
Tirar-lhe alguns milhões do caixa.
Imaginem se Lula ou Dilma o fizessem.
Mas Bolsonaro pode fazer, e uma nota gaguejante da Associação Nacional de Jornais foi a única reação.
Os jornais impressos obsolesceram e isso é irreversível. Numa banca aqui perto de casa, perguntei quantos O Globo chegavam para a venda: quatro exemplares.
Só os muitos crédulos ainda acreditam nos números de circulação.
Mas os jornais não hesitaram em jogar fora seus principais patrimônios: a credibilidade e a identidade com o leitor.
Não, não é algo a comemorar. Os jornais impressos têm, ou tiveram, as maiores equipes de profissionais e o fôlego para coberturas de peso.
O Tijolaço, por exemplo, não tem meios de mandar um repórter às terras indígenas do Amapá e deslindar esta história do cacique morto por garimpeiros que a Polícia Federal diz que não existem.
Os balanços eram, ainda, uma renda a sustentar algum profissionalismo, ainda que tirando dos ricos empresários para dar algumas migalhas às pobres redações.
Não se pagará menos um centavo de juros aos bancos porque o Bradesco ou o Itaú não vão forrar sete ou oito páginas uma vez por ano com suas demonstrações financeiras.
Bolsonaro se serviu, porém, do discurso que a própria mídia sustentou e agora, volta-se contra ela.
Ficaria “feio” dizer que os nossos jornais, como a folclórica “mulher de malandro”, gostam de apanhar.
Prefiro, por isso, a heresia de roubar o título de nosso querido bloco: “imprensa que eu gamo”.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)