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Galípolo tem o desafio de convencer o Copom a reduzir a taxa Selic, o que dependerá de boa argumentação e relacionamentos
A indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária do Banco Central terá resultados mais rápidos do que o processo de conquista da maioria do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. O Copom é responsável pela definição da taxa básica de juros, a Selic. São 8 membros, mais o presidente do Banco Central. Portanto, o Ministro Fernando Haddad conseguirá emplacar apenas 2 membros.
Mas Galipolo poderá desempenhar dois papéis relevantes.
O primeiro, como diretor de política monetária. Dos 9 membros do Copom, a diretoria de Política Monetária é a única que atua diretamente no mercado, sendo responsável pela implementação das operações de mercado aberto, compra e venda de títulos públicos.
Nessa função, e com sua experiência de mercado, Galípolo poderá imprimir outro ritmo nas operações. Nos últimos anos, o BC atuou passivamente no mercado aberto, na política cambial, indo a reboque do mercado.
Não é pouca coisa. Uma puxada nas taxas de juros longas, uma oscilação no mercado cambial, são fatores de instabilidade, ajudando a consolidar as convicções do Copom sobre as taxas de juros.
Tem mais desafios pela frente. A maneira de controlar a liquidez do sistema é através das chamadas operações compromissadas – o BC vende títulos aos bancos com o compromisso de recomprar no dia seguinte. Todos esses pontos encarecem a dívida pública, já sobrecarregada pelos excessos da taxa Selic.
Não se sabe até onde Galípolo pretende ousar. Especialmente porque o segundo desafio – convencer o Copom a reduzir a taxa Selic – dependerá de boa capacidade de argumentação e de uma boa relação com os colegas. E terá bons argumentos pela frente.
Um deles é o IGP-DI (Índice Geral de Preços, Disponibilidade Interna) da Fundação Getúlio Vargas, que registrou deflação de 1,01% em abril e 0,34% em março e 2,57% em 12 meses.
Outra é o próprio Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) do IBGE. O fator que pesou no último IPCA foi o item Transportes, que depende exclusivamente de preços administrados. Com a Petrobras reduzindo os preços, haverá impactos deflacionários no IPCA.
Finalmente, pesa a favor de Galípolo o amplo conhecimento do mercado de PPPs (Parcerias Público Privadas) e de parcerias entre crédito público e fundos de investimento.
E, mais que isso, a pressão das empresas, ante a derrocada de setores relevantes – como os de varejo, planos de saúde, alimentos – sufocados pela crise de crédito e pelo custo do capital.
Conspira mais uma vez contra essa estratégia o tempo político. Lula continua apostando nos investimentos internacionais como saída para contornar as limitações impostas pelo BC de Roberto Campos Neto ao crédito dos bancos públicos.
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- Rui9 de maio de 2023 às 8:49 amTaxa de juros estratosférica não é suficiente para combater a inflação, pois, segundo o BCB, regra fiscal ‘sólida’ pode ajudar no combate à inflação. Mas será que taxas de juro estratosféricas são necessárias para combater a inflação?Responder
- Mário Mendonça9 de maio de 2023 às 9:28 amComo explicar mais um indicado oriundo do perverso mercado financeiro? Será que não possuímos acadêmicos progressistas para um cargo tão importante como as diretorias do BC? André Araújo devia estar aqui para mais um esculacho! Com a palavra Paulo Nogueira!Responder
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)